DUAS VEZES!

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- Me desculpe por te arrastar desse jeito, mas era a minha única chance de sair de lá – Após puxar o braço de Rafaella com força até a frente do banheiro feminino, Gizelly percebeu que poderia ter machucado a loira com a brutalidade do gesto, e sentiu-se culpada. Já a estava usando para fugir de Fernanda, e ainda a machucava?

- Tudo bem, não machucou – A menor estava um pouco atordoada com os últimos acontecimentos, por isso Rafa decidiu ignorar o desconforto causado pelo aspecto grudento da bebida derramada, e tentar confortá-la – E você? Está bem? Praticamente fugiu de lá...

- Agora estou, mas lá eu estava desconfortável. Ela não parecia entender meu desinteresse - Fez questão de olhá-la nos olhos enquanto dizia a última parte, como se houvesse algo por trás dela. E existia, era um medo dos avanços de Fernanda passarem uma ideia errada para a loira, por motivos que ela ainda tentava negar, não sabendo que já era tarde demais. Mas, mais uma vez, a cupido interpretou errado, levando o gesto como um de confirmação, como se a Bicalho quisesse que ela acreditasse nela, o que obviamente aconteceu.

- Eu percebi, ela foi um tanto inconveniente. Desculpe por você ter que passar por isso...

- Você não tem que me pedir desculpas? Rafa. Não foi você que ficou forçando a barra comigo a noite toda – Até porque se fosse, ela provavelmente não teria que forçar nada, já que nela a capixaba estava de fato interessada (mesmo que negasse).

Mas Gizelly não entendeu o motivo do pedido de desculpas, nem poderia. Ele vinha de um sentimento de incompetência e falha, que se aglomerava dentro de Rafaella, devido à demora para encontrar um par digno para a engenheira.

“Se eu tivesse feito meu trabalho, você não teria passado por nada disso. O que acontece hoje é minha culpa também...”

- Nossa, aquele drink fez um estrago na sua roupa, acho melhor secar – A menor arrastou-a para dentro do banheiro e encheu as mãos com o papel para secar mãos que lá havia. Enquanto isso, Rafa molhava as mãos com água e sabão, querendo desfazer-se do líquido doce, que parecia uma cola contra sua pele. Com o trabalho conjunto, levou apenas alguns minutos para que a cupido estivesse apresentável e confortável novamente. Assim que passaram pela porta para voltar para sua mesa, a loira viu Gizelly travar a sua frente, e deduziu que fosse por causa de Fernanda e sua insistência.

- Ei, não se preocupa, podemos ir embora se você não quiser ficar perto dela – A maior tocou-a levemente no braço, tentando lhe passar alguma segurança quanto à sua oferta. Mas não funcionou, e a engenheira permaneceu estática, com sua respiração preocupantemente acelerada.

- Não é isso, é que...  – Preocupada com a morena, Rafaella seguiu seu olhar, procurando algo que pudesse justificar aquele espanto todo. Seu corpo tencionou quando viu quem lhes observava do começo do corredor, e ela finalmente entendeu o motivo da reação da menor. Thomaz ainda era um assunto delicado para ela, e a cupido sabia disso, e por isso tentou trazê-la de volta à realidade, cortando o prazer do homem de vê-la tão afetada por sua presença.

- Você quer voltar para dentro do banheiro? Podemos ficar lá até ele ir embora – Nenhuma das duas disse nada sobre como a loira não deveria saber quem ele era, mas devido ao clima carregado da situação, ambas ignoraram esse detalhe.

- Não – A capixaba virou-se para ela, o que lhe permitiu ver o quão perdido seus belos olhos aparentavam estar. De repente, aquela antiga vontade de derrubar lustres sobre a cabeça de Thomaz voltou com força – Mas obrigada...

As mãos macias da Bicalho foram colocadas sobre seu rosto, contornando-o da forma mais delicada possível. O repentino carinho fez Rafa fechar os olhos, aproveitando cada momento. O transe sobre o qual aqueles toques lhe botaram, impediu que ela notasse qualquer coisa que não fosse Gizelly, como um barulho de passos que ficava mais alto a cada segundo que passava. Era como se naquele instante, só existisse a morena e ela, e o mundo ao seu redor era um mero véu sobre elas. Ao sentiu um ar quente soprar sobre sua boca, seus ouvidos ficaram surdos, e teve medo de suas pernas não conseguirem sustentar seu peso.

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