Pequenas Vitórias

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O período de transe das duas engenheiras fez com que uma leve tensão tomasse conta da pequena sala, o que não passou despercebido por Manoela. Porém, a garota entendeu a situação de uma maneira errada, e acabou deduzindo que talvez Rafaella fosse tímida demais, ou sua chefe tivesse esquecido da chegada dela novamente. Sequer imaginava que o motivo daquilo era outro, um que nenhuma das envolvidas conheciam ainda.

- Vou deixar vocês duas sozinhas, assim poderão conversar melhor sobre tudo – Disse isso e saiu pela porta, como se não aguentasse um minuto a mais com as duas. A saída da estagiária pareceu acordar Gizelly, que finalmente percebeu o quão grosseira estava sendo ao encarar a pobre moça.

- Desculpe-me, estava distraída com alguns assuntos e acabei sendo pega de surpresa por sua entrada. Eu sou a Gizelly, Gerente da Qualidade aqui da fábrica, e serei sua parceira na sua jornada na empresa – A personalidade radiante da capixaba estava dando um “Olá” para a cupido, que já começava a relaxar. Tinha ensaiado essa conversa mil vezes em sua casa, e mesmo que o começo dela não tivesse seguido seu roteiro imaginário, ainda poderia fazer com que ela desse certo.

- É um prazer te conhecer, Gizelly. Ouvi falar muito bem de você e de seus feitos, será uma honra trabalhar ao seu lado – O rosto da morena acabou recebendo um toque rosado na parte superior das bochechas, o que intrigou a loira. Não tinha consumido nada sobre a anatomia humana, então não sabia ao certo se aquilo era um sinal bom ou ruim, mas torcia para que não fosse o último.

- Não sou nada de tão especial assim, o pessoal gosta de exagerar por aqui... – Seus olhos evitavam as duas esmeraldas brilhantes que a observavam a todo custo, o que, por um milagre, fez com que a mais alta compreendesse suas ações como envergonhadas.

“Oh, Gizelly! Não precisa ter vergonha de mim, estou aqui para lhe ajudar, e até agora sua essência só me deu motivos para admirá-la.”

- Não é você a Gerente mais nova da história da empresa?

- Sim. Mas é que...

- Não foi você quem liderou um projeto requisitando inclusão social nos processos seletivos dessa instituição?

- Bem, fui eu sim. Mas não é nada de-

- Não foi você que ganhou o prêmio de “Gestora do Ano" no evento anual da empresa? – A cada conquista sua que era jogada em sua cara, a morena ficava mais vermelha. Tinha muito orgulho sim de sua vida profissional, e esperava que ela servisse de exemplo para jovens garotas que sonham com o sucesso em um ambiente dominado por homens, mas ainda estranhava quando alguém as listava para si. A versão de si que era em sua vida pessoal era tão diferente daquela mulher bem sucedida que por vezes esquecia de tudo aquilo, além de não ter muitas pessoas em seu círculo íntimo que fizesse questão de lembrá-la.

- Sim, eu quem ganhei...

- Então você é tudo isso que falam sim, e aposto que até mais – A convicção que a novata usava quase a convencia de tudo aquilo. O orgulho que ameaçava transparecer naquela voz mais grave fazia parecer que aquela conquista era dela também, ou de alguém próximo a ela. Como uma mulher que mal a conhecia poderia admirá-la tanto? Será que era realmente tão boa quanto Rafaella pensava que ela era?

- Discordo, mas agradeço pelas palavras gentis. Espero não decepcioná-la nessa parceria.

“Isso jamais aconteceria, Gizelly. O simples fato de estar sendo cordial comigo já me deixa orgulhosa por sua melhora. Logo todos sinais que Thomaz deixou em sua vida terão sido extintos, e poderemos achar-lhe um grande amor.”

- Sei que não vai... – E foi por isso, por incentivá-la como ela não estava acostumada a ser, que Rafa tirou o primeiro sorriso da capixaba. A sensação que sentiu ao perceber aquilo era nova, mas muito agradável. Era como passear em um parque em um dia ensolarado, deixando os raios de sol acariciarem sua pele. Sabia que era assim, pois já tinha cansado de senti-los contra si, durante os passeios com Apolo.

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