Coroa de louros

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Dia 10

A manhã do décimo dia de missão de Rafaella correu como a do nono deveria ter corrido. Pegou carona com Gizelly até a empresa, e no caminho conversaram mais um pouco, mas nenhuma informação que ajudasse a loira em sua missão fora adquirida. Precisava pensar em jeitos melhores de entrar em assuntos pessoais com a chefe, que parecia profissional em esquivar-se deles.

Durante o dia, se falaram poucas vezes, e todas elas foram sobre trabalho. A cupido já estava começando a achar que a morena iria cancelar a ida à concessionária novamente, mas surpreendeu-se quando, na hora de ir embora, foi chamada até sua sala.

- Olá, me chamou?

- Sim, já podemos ir? - A surpresa no rosto da maior deve ter ficado evidente, pois a gerente não tardou em explicar seu convite - Tínhamos combinado de ir ver seu carro hoje, não tínhamos? - Tentou ao máximo parecer confusa em seu questionamento, mas tinha tanta certeza de que estava certa, que falhou miseravelmente.

- Sim, tínhamos. Eu só pensei que... - Rafa calou-se assim que percebeu que aquelas palavras não estavam passando apenas em sua mente, como achava.

- Pensou o que? - Por algum motivo, a dúvida da loira causou uma sensação esquisita, também conhecida como desespero, no corpo de Gizelly. Ontem mesmo já havia cogitado cancelar o convite, ou até mesmo evitar o assunto por tempo o suficiente para que sua colega esquecesse dele. Hoje a ideia de não acompanhá-la a incomodava, e no fundo ela sabia que a possibilidade da outra pedir ajuda a Arthur caso ela se recusasse era um dos principais motivos, senão o único. "Se ela quiser convidá-lo, não é da minha conta. Mas que ela tinha mais chances de acertar na escolha comigo ao seu lado, ah tinha! Ele já demonstrou não ser exatamente um expert em automóveis nos diversos eventos na empresa, ia acabar com o pior carro do catálogo."

- É que... você não tocou mais no assunto, então só pensei que talvez não quisesse mais ir comigo... - A maior estava claramente envergonhada em ter que dizer aquilo em voz alta, mas de acordo com seus "ensinamentos" líquidos sobre comportamento humano, dizer verdade era sempre melhor do que mentir.

- Bom, eu iria com você sem problemas, a não ser que você prefira que outra pessoa te leve... - Ok, talvez aquela última frase tenha sido desnecessária, mas quando viu, já tinha saído. A ideia de Rafaella com Arthur lhe incomodava imensamente, e ela mesmo não compreendendo exatamente o porquê, supunha que tinha algo a ver com os interesses do analista em geral, e não com a loira preferir sua companhia à dela.

- NÃO! Eu adoraria que você fosse comigo, confio nos seus... er, conselhos... - Enquanto a cupido se enrolava em tentar convencê-la de sua vontade, Gizelly sentia seu ego aumentar gloriosamente ao ouvir sua resposta. Rafa não só queria a SUA companhia, como CONFIAVA nela.

- Então tudo bem, podemos ir assim que você estiver pronta - A morena ajeitou a alça da bolsa em seu ombro, e inclinou-se para pegar a mochila que continha seu notebook, que precisava levar sempre consigo, para caso houvesse algum emergência na empresa enquanto ela estivesse em casa. Mas assim que pegou a alça da mochila, sentiu outra mão cobrindo a sua e impedindo-a de levantá-la.

- Eu levo para você, deve estar pesado - Realmente, estava pesado, mas não era nada que ela não pudesse carregar. Ia contestar a oferta da maior, mas quando viu ela já estava com a mochila nas costas, indo em direção à porta. A surpresa da capixaba com aquele pequeno gesto de gentileza foi tanta, que ficou sozinha por alguns segundos em sua sala, digerindo-o. A cada minuto que passava ao seu lado, Rafaella se mostrava um tipo de pessoa que ela não acreditava que existia, ou que estava em extinção. Ela sempre era gentil e atenciosa com os outros, e por isso estava conquistando a todos rapidamente, alguns até mais do que deveria. O que ela fazia para a Gerente sendo apenas amiga, Thomaz passou meses não fazendo, e ele era seu NAMORADO. Só percebeu que havia passado tempo demais perdida em seus pensamentos quando Rafa voltou para buscá-la, sequer imaginando que era o conteúdo principal deles - Gi, tudo bem aí? - A loira estava apenas com a cabeça para dentro da sala, observando-a atentamente e com expressão preocupada.

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