Psiquê

Sensacional

Dia 19

A semana pareceu se arrastar para Gizelly, que não conseguia conter-se de ansiedade para sua viagem com Rafaella. Gramado era uma cidade belíssima, com vistas cativantes capazes de relaxar o mais tenso dos mortais. Era um excelente lugar para refugiar-se quando algo ia mal em sua vida, e ela havia descoberto isso logo que chegara ao Rio Grande do Sul. Mesmo sendo uma cidade turística, o que a deixava sempre movimentada, não tinha uma única vez em que não encontrara um local perfeito para relaxar, fosse aproveitando a natureza, fosse consumindo as delícias que aquela aconchegante cidade lhe proporcionava.

Além do reencontro com seu local favorito, ainda tinha o fato de Rafa mostrar-se bastante empolgada com o passeio. Não houve um único dia em que a loira não despejara incontáveis perguntas sobre a cidade, algumas até incluindo sua ligação com a mesma. Mesmo com seus sentimentos entregues à cupido, ainda não sentia-se à vontade para explicar-lhe aquilo, e sequer sabia se era capaz de fazê-lo. Era algo extremamente particular, que se aflorava quando chegava lá. Era como se fosse sua verdadeira casa, mesmo sendo tão distante de onde nascera.

Quando enfim chegaram ao hotel reservado, a morena soube na hora que havia feito a escolha certa. O rosto de Rafaella mostrava o mais puro deslumbramento, o que lembrou-a das expressões das crianças ao entrar na “fantástica fábrica de chocolate”. Congratulou-se pela escolha certeira, e guiou-a até o balcão onde deveria ser feito o check-in.

-Duas reservas no nome de Gizelly Bicalho, por favor – Enquanto a menor tomava as rédeas da situação e se encarregava da parte burocrática das coisas, Rafa aproveitava para dar mais uma admirada no local.

Ela sabia que humanos eram capazes de criar belíssimas esculturas, estátuas e ambientes, mas não tinha se deparado com um como aquele. As paredes eram repletas de detalhes em sua construção, o piso brilhava como se fosse polido a todo momento e cada móvel parecia ter sido especialmente desenhado para encaixar-se em seu exato lugar. Era tão incrivelmente lindo que poderia facilmente ser parte do Olimpo.

-Gostou? – O reaparecimento repentino de Gizelly a assustou, estava tão perdida na beleza do hotel que não a vira se aproximar.

- Gostar é muito fraco para o que eu estou sentindo… - Viu um sorriso aparecer no rosto da capixaba, e logo tinha uma parceira para admirar a “paisagem”.

- Eu tive a mesma reação que você na minha primeira vez aqui, queria gastar horas apenas admirando cada mínimo detalhe desse belo pedaço de arquitetura. Era muito diferente de qualquer coisa que já vira – Sentiu algo quente envolver sua mão, e soube automaticamente que era a menor segurando-a. Mesmo não a tendo tocado muitas vezes, a textura da pele da Bicalho já estava memorizada em suas digitais – Nossos quartos já estão prontos, se quiser podemos deixar as coisas lá e depois te mostro o resto do hotel. O que acha? – Bastou à morena falar em banho, que sentiu seus corpo cansado concordar. Um banho cairia muito bem agora.

- Acho perfeito.

*

Ao entrar em sua suíte, o deslumbramento de Rafaella voltou. O papel de parede de fundo marfim com desenhos delicados em dourado na frente deixavam o ambiente com um ar incrivelmente chique, assim como a enorme jacuzzi no canto do ambiente. A pedra que a envolvia era de um preto forte, combinando com a que ficava ao redor da pia do banheiro e com os azulejos que transformavam o cômodo em uma espécie de caverna particular. O lustro dourado sobre a cama lembrou-lhe novamente de casa, fazendo uma saudade dolorida pulsar em seu peito. Estava feliz vivendo como humana, mas sentia falta de sua família.

Não querendo se atrasar para seu compromisso com Gizelly, tirou a si mesma do estupor causado pela beleza do ambiente e obrigou-se a tomar banho. Para não fazer feio perante a capixaba, escolheu uma bela calça social branca e uma blusa de lã da mesma cor para ser seu look da noite, e cobriu-se com um sobretudo preto tão longo que quase encostava na sola de sua bota, também preta. A noite estava fria, e não queria ter que usar mágica para se esquentar, estava aproveitando sua vida como humana para ter experiências que em sua forma original seria impossível, e usaria essa viagem para isso.