Cupidos

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Dia 25

Fazia quase uma semana desde que Rafaella partira, e com ela levara o bom humor de Gizelly Bicalho. Toda manhã a engenheira acordava, usava a primeira roupa social que encontrava no guarda roupa, e passava uma camada mais grossa que o normal de maquiagem no rosto, em uma tentativa falha de esconder a dor por trás de seus belos olhos castanhos e as bolsas roxas que os sustentavam.

A mudança abrupta no humor da morena não passara despercebido por sua equipe, que sabia muito bem que o melhor a fazer era não perguntar sobre. Infelizmente, eles não pensavam o mesmo sobre a ausência de sua outra colega de trabalho, muito menos sabiam que ambas as coisas estavam conectadas, e após dois dias sem sua presença já desataram a fazer perguntas, perguntas essas que doíam profundamente para Gizelly responder. Tentou dar uma resposta ríspida na primeira vez, na esperança de que eles entendessem sua intenção, porém conforme os dias passaram e a loira não aparecia, ela viu-se obrigada a contatar o RH da empresa, procurando uma informação formal sobre o assunto.

Escrever aquele e-mail fez com que ela compreendesse muita coisa sobre suas atitudes recentes, pois a ansiedade que tomou conta de seu corpo enquanto aguardava uma resposta trazia consigo sentimentos que escondera com sucesso por dias. Quando o retorno do e-mail finalmente chegou, agradeceu aos céus por já estar em sua sala de estar, livre para chorar toda a dor e a decepção que guardava em seu coração.

Como podia que alguém que conhecera por menos de um mês tivesse um impacto tão grande em sua vida? Como um coração poderia sentir-se tão conectado a outro tão rapidamente? Como sentia tanta falta de alguém que sequer criou raízes em sua rotina?

Mas ela estava enganada, o tempo não influenciava na intensidade do amor, nada além do próprio sentimento o fazia. Rafaella poderia ter ficado até menos dias ao seu lado, que seu coração ainda seria dela, como o bom apaixonado que era.

O medo de Gizelly era que assim como precisara de pouco tempo para amá-la, precisaria de uma vida inteira para esquecê-la.

*
Dia 26

Aquele estava sendo o pior dia desde a partida de Rafaella, pois a falta dela não afetava somente seu coração partido, mas seu trabalho também. Havia construído todo o tratamento de falha ao seu lado, contando com suas sugestões e sua visão aguçada, e naquela manhã, quando apresentou o culpado (e criminoso) para seu diretor, ela não estava lá.

Parecia errado aceitar os parabéns que ele lhe oferecera, e ainda pior ouvir a promessa de promoção que encerrou a reunião. Sentia-se como se estivesse escondendo a participação da loira naquele trabalho, mesmo sabendo que fora escolha dela não estar ali. Esse último detalhe ainda machucava muito, e forçava sua mente a mudar seu rumo, para evitar o choro que com certeza o acompanharia.

Quando chegou em casa, viu uma caixa sobre a mesa ao lado do sofá, e não demorou muito para reconhecê-la. Era a caixa que encontrara em sua porta no dia que Rafa foi embora, e que havia aparecido em seu quarto mesmo ela tendo certeza que sequer havia tocado nela. Agora ela estava ali, sobre mais um lugar para o qual ela não lembrava de tê-la movido.

- O cansaço e a tristeza devem estar me deixando louca, até objetos estão se movendo agora – Seguiu para o quarto sem sequer olhar para a caixa, estava exausta e deprimida, não tinha tempo para abrir nem mesmo um pote de Iogurte naquela noite. Porém, mal tinha passado pela porta aberta quando avistou a maldita caixa sobre seus lençóis bagunçados. Era como se aquele pedaço de papelão a estivesse desafiando a ignorá-lo uma vez mais, e ela odiava ser desafiada. Mas para a sorte daquele “pedaço de lixo”, ultimamente suas forças estavam sendo designadas para tarefas como: levantar da cama, pentear o cabelo e não chorar em público. Foi assim que Gizelly cedeu, e finalmente foi em direção ao presente misterioso e stalker.

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