O último passeio do dia ficara para o final da tarde, pois era o horário onde os turistas já começavam a focar sua atenção em outras das belezas da cidade. Ao contrário dos outros lugares, desse Rafaella sabia muito pouco sobre, pois Gizelly não havia entrado em detalhes do motivo de sua visita, apenas disse que era o “lugar de seus sonhos futuros”. A descrição atiçou a curiosidade da mais alta, que se viu mais ansiosa para conhecê-lo do que os outros. Por mais que duvidasse muito que algo superasse a beleza do Lago Negro sentia um pressentimento estranho dentro de si, como um alerta. Algo especial estava por vir, ela sabia disso.
Quando finalmente chegaram no tal lugar, Rafa logo percebeu que já esteve nele, ou quase em frente a ele, durante a caminhada noturna que fizera com Gizelly na noite anterior. Encarando a bela rua coberta, estava uma das mais belas obras arquitetônicas que já vira: A Igreja Matriz São Pedro. As milhares de pedras de basalto, juntamente com os vitrais coloridos e detalhados formavam uma estrutura de quase cinquenta metros, que estava cercada por um jardim repleto das mais belas flores e de estátuas dos doze apóstolos de Jesus Cristo. Por mais que seu contato com aquela cultura fosse somente trabalho, não pôde deixar de encantar-se com tamanha obra de arte, certamente construída muitos anos antes.
- Se eu te disser que não viemos aqui ver a igreja você acredita? – A morena tinha percebido a admiração nos olhos verdes que tanto amava, e mesmo que isso aumentasse sua ansiedade em mil vezes, sentia-se feliz por saber que a cupido estava gostando da paisagem. Também não podia julgá-la, todo mundo ficava espantado quando via a obra de 1942 pela primeira vez.
- Não, e ainda sugeriria um par de óculos – A menor gargalhou com a sinceridade da loira, que tentava esconder o próprio sorriso observando as pessoas espalhadas pelo jardim. A maioria era formada por casais jovens, que aproveitavam os últimos minutos de sol nos bancos de concreto do lugar, alguns até entrelaçados nos braços de seus parceiros. Também haviam famílias, com mães desesperadas tentando tirar fotos das crianças, que não cooperavam e insistiam em correr em volta das flores. Era um ambiente tão tipicamente humano, mas no qual sentia-se tão naturalmente bem, que sequer era capaz de explicar-se. Por alguns segundos, pensou ser capaz de viver daquela maneira, longe de tudo que amava, mas então lembrou-se de quem era, e o que sua falta resultaria para o mundo. A ideia de permanência esvaiu-se rapidamente.
- Entendo sua descrença, mas provarei que estou certa, venha cá – Guiou-a pelo caminho à esquerda da Igreja, que era repleto de lojas menores e ainda possuía um restaurante de rede de fast food. Até ali, não vira nada de magnífico, mas sabia que para a menor afirmar tão veementemente que existia algo esplêndido por ali era porque seu destino final destoava de seus arredores. Teve que dar poucos passos para perceber que estava certa, pois no fim do curto caminho, havia uma fonte.
A estrutura em si não era nada extraordinária, uma vez que a parte central era feita de pedra num tom caramelo, assim como a parte que a contornava seguia o mesmo tom, porém com um material diferente, mais puxado para o barro. A beleza do lugar também não estava na parte “verde” de seus arredores, formada por árvores e flores similares às presentes na frente da Matriz. Estava em um detalhe muito mais delicado que isso.
O fato extraordinário da fonte se encontrava nas pequenas grades de metal sobre a estrutura externa, onde milhares de cadeados das mais diversas cores estavam atados. Não sabia bem o porquê, mas sentiu seu coração apertar ao dar um passo a frente, como se algo ali lhe avisasse o que estava por vir, mas ela mais uma vez ignorou seu órgão dominante, e continuou seu caminho. Arrependeu-se no instante em que chegou perto o suficiente para ler o conteúdo dos cadeados. Na face frontal de cada um, duas iniciais somadas faziam uma promessa que ela conhecia muito bem.
“Escrever as iniciais de dois amantes era uma forma antiga de não só demonstrar seu afeto como também de ter uma espécie de segurança ilusória sobre a longevidade do relacionamento”, foram essas as palavras que seu irmão usara ao longo de seu treinamento. Sempre achara o gesto bonito, por mais que tivesse plena consciência que fazê-lo não traria certificação alguma de felicidade eterna entre os envolvidos, pensava nisso como algo diferente, como uma reafirmar de que ambos QUERIAM que fosse para sempre.
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Psiquê
FanfictionEra apenas mais uma missão como qualquer uma, mas as coisas mudaram rapidamente para Rafaella. Deveria encontrar o par perfeito de Gizelly e lançar sua flecha sobre eles, fácil né? Mas o que acontecerá quando a cupido percebe que ninguém é bom o suf...