Queria muito poder dizer que aquela era uma cena que não a afetava em nada, que por aquela mulher em seu coração só batia raiva, mas estaria mentindo inclusive para si mesma. Bastou ver um vislumbre de Rafaella que sentiu o peito apertar, como se os pequenos caquinhos que tinha conseguido juntar se estilhaçassem de novo. Era cedo para quem pensou que nunca mais veria a loira, e cedo demais para quem era completamente apaixonada por ela. Gizelly era os dois, então a situação não estava a seu favor.
Como lidar com isso quando não conseguiria garantir que não se derramaria em lágrimas no momento que ouvisse a voz da outra? Conseguiria ela ser tão rude a ponto do simplesmente expulsá-la de sua residência, sem trocar uma palavra sequer? Sabia que não era capaz disso, mas também não estava pronta para conversa alguma com Rafaella. Por isso, optou pela alternativa menos madura possível: a ignorou.
Caminhou em linha reta até sua porta, como uma flecha voava ao alvo e, pelo canto do olho, pôde observar a maior levantar-se de maneira súbita, provavelmente com medo de que ela fosse mais rápida e conseguisse entrar na casa antes de que pudesse protestar. Mal sabia ela que, se a cupido desejasse, nada que Gizelly fizesse a manteria do lado de fora da residência.
- Me ouve – Se um dia pensou que a única maneira que uma voz mexeria com ela seria através de uma canção, se enganou. Aquela voz fez seu corpo inteiro se paralisar, a ponto de sequer conseguir jogar sua bolsa no sofá, como havia planejado fazer. Sentiu a alça da bolsa escorregar sobre seus braços, imitando a sua resolução não tão convicta mais de expulsar sua ex-funcionária a berros de sua casa.
Seria ela capaz de ouví-la? Mesmo depois de tanto sofrimento? Seu coração aguentaria se Rafaella desse meia volta e sumisse da sua vida de novo? Deixando-a apenas com a memória do maior amor que seu peito já sentiu? Não sabia a resposta para nenhuma dessas perguntas, mas sabia que não teria forças o suficiente para impedir a loira de falar, então encostou-se na parede que dava início ao corredor, a que ficava mais longe da porta possível, e finalmente permitiu-se encarar os olhos que a tinham hipnotizada desde que pousaram sobre si.
A dor era aguda, como se garras rasgassem sem coração, como se chumbo passasse sobre sua garganta, como se sirenes tocassem em sua cabeça. Ela estava ali, a dois metros da mulher que amava, e só conseguia sentir dor e tristeza, pois sabia que o que quer que aquele momento fosse, não duraria muito e logo estaria sozinha novamente.
- Você quer que eu te ouça, Rafaella? Ok, mas tem que me prometer uma coisa, e é algo inegociável.
- O que você quiser! Eu prometo, Gizelly, o que você me pedir, eu vou fazer – A loira estava claramente angustiada e preocupada, e sobretudo com medo, um medo enorme de ser mandava embora sem nunca ter dito aquelas três palavras que até horas atrás achava que eram proibidas para alguém como ela.
- Eu quero a verdade, mesmo que ela doa. Não quero a versão açucarada, muito menos uma meia verdade, eu quero a verdade mesmo se o que você veio aqui para falar partir meu coração. Porque, Rafaella, nada me quebraria mais do que ser enganada depois do que você me fez passar - A cupido baixou o olhar, envergonhada de suas ações. Como podia se acreditar apaixonada depois do que tinha feito? Que tipo de amor sobreviveria àquele tipo de dor tão intensa?
- Eu te prometo que cada palavra que sair da minha boca vai ser a mais pura verdade, Gizelly. Eu vim até aqui pra falar tudo que eu não podia dizer antes e finalmente te apresentar a Rafaella de verdade. Se quando eu terminar você não acreditar em mim, ou não quiser me ver nunca mais, eu vou respeitar seu desejo – Aquela última frase irritou a engenheira, pois ir embora seria escolher o caminho mais fácil, mais uma vez. A essa altura, tinha certeza que nunca houve reciprocidade por parte da loira. Amou sozinha, mais uma vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Psiquê
FanfictionEra apenas mais uma missão como qualquer uma, mas as coisas mudaram rapidamente para Rafaella. Deveria encontrar o par perfeito de Gizelly e lançar sua flecha sobre eles, fácil né? Mas o que acontecerá quando a cupido percebe que ninguém é bom o suf...