Convite

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Dia 15

Gizelly mal havia dormido naquela noite, pois toda vez que fechava os olhos, sentia a boca de Rafaella contra a sua, e seu corpo acordava novamente. Se antes a cupido já lhe intrigava muito, agora ela não saía de sua cabeça. E ela parecia lhe perseguir, pois podia jurar que até seu travesseiro tinha seu perfume. Estava totalmente sobre a órbita da loira, e estava feliz com isso.

Quando o alarme tocou, ela já estava acordada a mais de hora, se arrumando ainda mais do que normalmente fazia, para tentar afetar a mais alta da mesma maneira que ela fazia. Todo dia que a via no trabalho era uma respiração roubada, pois ela sempre estava estonteantemente linda.

Mas conseguia conter sua ansiedade para encontrá-la na empresa, e podia jurar que algumas pessoas ao seu redor a olharam com o cenho franzido, provavelmente pelos pulinhos juvenis que dava sem querer. Os breves momentos com Rafaella a tinham feito voltar anos no tempo, pois tinha certeza que nem adolescentes ficavam tão bobas com alguém como ela estava agora. Era como se o mero saber de que a veria naquele dia alimentasse seu peito de felicidade o suficiente para uma vida toda.

Foi automático procurá-la assim que chegou no setor, escaneando o ambiente atrás daquele par de olhos verdes hipnotizantes. Quando o encontrou, sentiu seu coração quase parar, engolido pela onda de sentimentos que vinha com ele. Havia resistido tempo até demais, como não desmaiara todas as outras vezes que chegara perto daquela Deusa?

- Bom dia, pessoal! - Exclamou ela, ainda sem mover o olhar da loira.

- Bom dia, Gizelly! - O coro formado pelas vozes de seus funcionários tomou conta da sala, e ela sorriu para eles. Ou talvez fosse porque viu Rafa sorrindo para ela, e retribuir foi inevitável, ainda estava descobrindo as reações que a mais alta lhe causava.

Mesmo querendo muito falar com ela, sabia que aquele não era o melhor local, então apenas seguiu em direção à sua sala, pretendendo começar seu dia de trabalho. Mas a voz de sua mais nova musa chamou-a, fazendo com que ela ficasse.

- Gizelly, pode vir até aqui, por favor? - A cupido estava na mesa de Manoela, encarando algo na tela do computador da baixinha, o que a capixaba estranhou. Por mais que fizessem parte da mesma área, não era tão comum que suas funções se entrelaçassem, com exceção das vezes em que ambas realizavam algum trabalho para ela - Manu tem algo para lhe perguntar - A estagiária encarou a cupido de maneira nervosa antes de finalmente encará-la. Sua hesitação preocupou a capixaba, que aproximou-se e repousou sua mão nas costas de sua cadeira.

- O que houve, Manu? Alguém fez alguma coisa para você? - A mera hipótese disso ter acontecido já a deixava irada, pois sabia de como a mais nova era tratada no estágio anterior, e prometeu-a que não seria igual enquanto estivesse sobre sua supervisão. Se sentiria a pior pessoa do mundo caso tivesse falhado em sua promessa.

- Não, ninguém me fez nada. É só que...

- Só que o que? Respira, menina - Manoela fechou os olhos, soltando o ar de seus pulmões, e finalmente fez o pedido que tanto temia fazer.

- Eu estou escrevendo o meu trabalho de conclusão de curso, e gostaria de fazer sobre o processo de produção aqui da empresa. Mas para usá-lo, preciso de sua aprovação e de alguém para ficar responsável pelo acompanhamento do meu trabalho aqui na empresa. Você sabe, para garantir que não irei compartilhar dados confidenciais e essas coisas - Mesmo sendo extremamente bem sucedida em sua carreira, nunca tinham pedido para que ela fosse instrutora em algo tão importante assim. Claro, liderara projetos com imensos impactos para seus empregadores, mas nenhum deles lhe dera o orgulho que sentia naquele momento. Essa futura engenheira confiava nela a ponto de lhe pedir para instruí-la em seu TCC, mesmo não tendo experiência nenhuma nisso, além do que fez para sua própria formatura. A emoção foi tanta que sentiu gotículas se formarem no cantos de seus olhos.

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