Rafaella em dobro

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Após o fim daquele esplêndido jantar, com direito a mais queijo e muito chocolate, Gizelly decidiu que ainda estava cedo para regressarem ao hotel, e por isso levou-a para uma caminhada noturna pelo centro de Gramado. Para sua sorte, não muito longe do restaurante, estava um dos pontos turísticos mais visitados da cidade: a rua coberta.

Mal chegaram no local e Rafaella viu-se, novamente, hipnotizada pela beleza local. A “Rua coberta” era nada mais nada menos que uma rua coberta por um teto formado por um toldo de vidro esbranquiçado e grades de ferro, que eram rodeadas por um enorme emaranhado de folhagens e flores, tornando-a uma espécie de estufa e um dos cenários favoritos dos turistas para gravar recordações. Além disso, como já era noite, várias luzinhas foram acesas ao longo do toldo, deixando tudo ainda mais bonito.

- É incrível como os humanos sabem fazer a iluminação de um lugar ser bonita independente da estética dele. Nosso hotel é provavelmente uma das construções mais belas que já vi, no restaurante a iluminação dava vida pro lugar, e aqui parece exaltar a beleza que já existe – Estava tão impressionada, que esqueceu que estava acompanhada, e começou a falar sozinha, sem a constante lembrança de disfarçar sua real origem.

- E você não é humana, Rafaella? Só porque parece uma Deusa, tá se achando divina, é? – Foi muito direta? Talvez, mas precisava testar as reações da cupido às suas investidas antes de realmente tentar algo, e os resultados até o momento eram extremamente satisfatórios. Notava como a maior ficava nervosa quando ela chegava perto, e os leves tremores que seus toques lhe causavam, afinal não era cega.

- E-eu? Uma Deusa... que imaginação a sua, Gizelly – Tentava disfarçar seu nervosismo, mas não sabia se estava atuando bem o suficiente. No momento que a palavra “Deusa” saiu dos lábios da capixaba, entrou em desespero.  Aquela palavra era uma ameaça maior do que qualquer ato violento, pois ameaçava não somente sua missão, como também a identidade de todo o seu povo, podendo causar um desastre.

“Por favor, jamais repita isso, não quero que nada ruim aconteça com você. Não descubra a verdade, não se ponha em risco, Gizelly, eu não sei o que faria caso eles levassem você.”

- Você fica linda quando fica com vergonha – Seu surto interno aumentou ainda mais quando viu a morena se aproximar e acariciar-lhe o rosto, pois lembrou-se do que acontecera algumas noites atrás, e temia que se repetisse. Da primeira vez, fora pega de surpresa e deixou-se levar pela sensação de um primeiro beijo, da segunda fora sua rapidez que pegou-a desprevenida, mas não teria desculpas para uma terceira ocorrência. Não podia correr o risco de Gizelly misturas as coisas, e sabia o quanto um beijo podia confundir uma humana. Foi por isso que se afastou, botando uma distância necessária entre ambas.

- Vocês são fofas juntas – Disse uma voz desconhecida, que logo descobriram ser de uma adolescente loira, que as encarava com um sorriso bobo nos lábios. A menina vestia um casaco de lã preto que parecia ser alguns números maior do que deveria, deixando somente o bico de sua boca de couro a mostra, e seus belos cabelos ondulados estavam cobertos por uma toca branca, que parecia ter sido feito à mão. A princípio, Rafa não entendeu a fala da garota, e muito menos sua interrupção repentina na conversa de duas estranhas.

“Será que os pais dessa garota não a ensinaram a não falar com estranhos, e muito menos puxar assunto com eles? Ela sequer nos conhece, poderíamos ser sequestradoras!”

- Ah, muito obrigada...– Ao contrário da cupido, Gizelly havia compreendido o comentário corretamente, e estava até feliz com ele. Saber que alguém desconhecido olhava para elas e via um casal lhe dava a esperança de que realmente estava correta em suas suposições, e que o interesse era tão mútuo que até estranhos podiam ver – Você pode tirar uma foto nossa? – A jovem só faltou bater palminhas de felicidade ao ouvir o pedido, e foi logo em direção ao celular da Bicalho. Rafa ainda continuava perdida em seus pensamentos sobre a segurança da desconhecida, e não percebeu que deveria estar fazendo pose até que ouviu a voz de Gizelly lhe chamando – Rafa? Vamos, temos que tirar uma foto aqui, é tradição dos turistas – Ao invés de virar-se para a câmera, virou-se para a morena.

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