Capítulo 1

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Isaac 🏴

Cria do morrão, mas nada de envolvimento no crime, tá maluco?
Minha coroa sempre ensinou os dois caminhos, vejo a luta dela diária pra me dar tudo que eu tenho hoje.

Só quero recompensar tudo.

Eu estudo no asfalto e trabalho na favela, com o tiozinho do bar. Eu fico servindo, e no tempo que não tem ninguém, eu faço lanche e entrego nas redondezas.

Eu tenho sim uns amigos aliados, fumo as vezes.. mas nada de botar a mão no fuzil.

Não sou viciado em drogas, mas curto apertar a braba com uns faixas.

Satisfação, Isaac, 19 anos. Moro aqui desde menor, vendo e vivendo tudo isso. Já vi muitos crias que eram envolvidos, morrer na minha frente. Teve dias que eu não conseguia dormir com tanto barulho de tiros, era as balas atravessando minha janela. Bagulho pesado! Tenho um irmãozinho de 8 anos, que eu cuido com a minha mãe.

Iago é chatão, mané! O pai dele é o mermo do meu. Vagabundo! Só fez e vazou, deixou a responsabilidade toda pra minha coroa. 3 anos depois, ele morreu. Talvez seja pecado, mas eu achei pouco, cria.

Meu sonho, é levar minha mãe e meu irmão pra fora daqui. Pra ir morar bem longe.

Sei que tenho poucas chances. Negro, pobre e favelado! Mas aí, o importante é nunca desistir. E do meu sonho? Desisto nunca!

Comecei a faculdade vai fazer 1 ano, passei no Enem.. mó parada de orgulho pra minha mãe, mané. Ver o sorriso dela, orgulhosa por uma parada minha.. não tem preço! Isso que motiva, tá ligado não?

Andressa : Já vai pra faculdade? - Apareceu na porta, me olhando pentear o cabelo, e eu assenti.

Olhei no relógio, marcando 5:30 AM.

Faço faculdade de Engenharia. Aí, parada sempre foi meu sonho! Fascinado, mané.

Andressa : Que Deus te abençoe, te guarde! Tô na oração por você. - Veio até mim, beijando minha cabeça. - Nunca se esqueça que eu vou tá aqui, pra te apoiar em tudo. Tenho orgulho de tu. - Beijei as mãos dela, que eu estava segurando.

Isaac : Um dia eu te tiro daqui, anota aí. - Ela assentiu, e saiu.

Fiquei me olhando no espelho, pensando se eu realmente era capaz de tirar ela daqui.

Mas aí, quem tá de olho em mim.. não dorme! Vivendo longe de qualquer vestígio de negatividade.

Minha faculdade era no turno da manhã, a tarde eu ir trabalhar no bar e a noite eu entregava os lanches.

Chego em casa morto!

Peguei minha mochila, surrada de tanto usar em todos os anos da escola.

Me despedi da minha mãe, dei um beijo na cabeça do meu irmão, que ainda dormia, fiz uma oração e sai.

Aí, tudo escuro! Mas já via neguinho fazendo ronda.

Duarte : Qual é? Já vai pra tua parada? - Riu. - Desiste disso aí, mané! Parada é o crime, sacou? - Falou encostado na parede da boca, fumando um baseado.

Isaac : Se foder, maluco! Caçar um emprego, Duarte. Fumar maconha às 5 da manhã, dá futuro não. - Bati na cabeça dele, que riu.

Duarte : Vai lá, mariquinha. - Debochou e eu ri.

Minha cria, mané. Crescemos quase juntos, mas o maluco sempre foi avançado!

Perdeu a mãe e o pai, em troca de tiro na favela. Criado pela problemática da tia dele, que senta pro chefe do morro.

Ai, mó coroa mané. Mas fatura altas novinhas.

Tem o segredo, ta ligado? Vulgo, dinheiro!

Perdição. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora