Perdição. (CONCLUÍDO)

Capítulo 2

Segui meu trajeto, descendo o morro. Aqui na Rocinha, é só descer até o pé do morro.. que já vê busão. Não tem perigo ser roubado, mas vale ficar de olho.

Não tenho nada de valor, mas aí.. roubar pobre é sacanagem!

Não demorou muito, meu ônibus aparece e eu entro, seguindo pra faculdade.

Eu fico feliz, cria! Por tá conseguindo realizar a metade daquilo que eu quero! O resto? Eu corro atrás.

Eu levo uma grana pra comer lá, fome toda hora, se foder!

Era longe, mas nem tanto.

Cheguei lá, umas 6:30, já vendo algumas pessoas. Não tenho muitos amigos. Mais por preconceito pela cor de pele e por morar na Rocinha. Pra eles, geral que mora lá, é tudo bandido. Isso que me deixa puto, por que a parada não é essa, faixa!

Entrei na sala, e não tinha quase ninguém. Fiquei snetado, olhando pro teto. Pensando na vida, querendo que o tempo passe.

Xxx : Hoje vai ser a aula do Fabrício? - Olho pra porta, e vejo uma mina do cabelo grande, com os olhos da cor do cabelo (castanhos), e eu assenti. - Obrigado! - Riu, agradecendo e eu assenti novamente.

Cada maluco!

Puxei o caderno, e comecei a desenhar. Fiquei batendo a caneta na mesa, pensando no quê eu poderia acrescentar no desenho.

Fabrício : Isaac, meu aluno nota 10! - Riu, ajeitando as mangas da camisa social, e eu ri.

Isaac : Veio uma mina perguntar se hoje era aula do senhor. - Ele assentiu.

Fabrício : Palestra da outra turma aqui hoje. - Assenti. - Qual o desenho foda hoje? - Chegou perto de mim, olhando pro desenho. - Gostei, ficou maneiro! - Passou a mão no caderno.

Isaac : Tô terminando o trabalho! Se eu tivesse ajuda, já tava tudo nos trinques. - Ele me olhou.

Maluco passou um trabalho a dois, mas ninguém quis fazer comigo. Tô me virando, pra entregar esse trabalho filha da puta, me matando, cria!

Fabrício : Irei dar um jeito, filho! Não se preocupe. - Assenti, batendo a caneta na mesa.

Logo vi, a sala lotando e a aula começando.

Fabrício : Hoje teremos uma apresentação da outra turma. Com a presença da nossa amada professora Ingrid. - Olhei pra porta, e a professora mais gata da faculdade, entra.

Aí, acho que os moleques tudo fica secando essa professora, coitada.

Ela entra, e começa a falar do que ia ser o trabalho. Vejo os moleques da outra sala entrando, inclusive a menina de mais cedo.

Xxx : Me chamo Luíza, vou apresentar os slides para vocês! - Riu, virando de costas e mexendo no computador.

Eles começam uma apresentação, e eu olho tudo atentamente. Era parada de engenharia, então, prestei mais atenção.

***

Depois de 2 horas, eles terminaram as apresentações. Não só deles, mas teve de outras turmas também.

Escuto o sinal pro almoço tocar, e geral levanta. Ajeito minhas coisas. Me viro de volta, vejo o professor e a mina, que tava desmontando os bagulhos do computador. Me levanto, indo pra porta e quando passo em frente a mesa do professor, ele põe a caneta no meio, fazendo com que eu pare de andar e preste atenção no que ele tinha começado de falar.

Fabrício : Luíza, não séria possível você fazer seu trabalho com esse rapaz? - Me olhou, por baixo dos óculos, ainda com a caneta no meu meio e ela vira, rapidamente olhando pra nós dois.

Luíza : Já tenho dupla! - Ele concorda.

Fabrício : Enfim, o trabalho é meu.. abro uma exceção para você, Isaac. - Ela me olha, rindo fraca.

Luíza : Quer entrar? - Se levantou, ficando de frente pra mim, segurando a mochila nas mãos e eu assenti. - Bem-vindo! - Assenti, ainda sério. - Depois te passo as instruções. - Saiu.

Fabrício : Passa as suas anotações pra ela. - Assenti, saindo da sala.

Fui saindo da sala, ouvindo os comentários dos pau no cu. Aí, mó parada de criança do ensino fundamental, tomar no cu.

Diego : Vaquinha pra comprar uma mochila nova pro chocolate? - Puxou a mesma, e eu continuei andando.

Isaac : Precisa não. Comi tua avó ontem, tô esperando ela colocar o dinheiro da aposentadoria dela na minha conta, e depois vou comprar uma da Gucci novinha. - Mandei dedo, e ele fechou a cara.

Pau no cu.

Passo pelo corredor, e eu vejo a mina do trabalho, ainda com a mochila na mão, que me olha rindo.

Tá achando que eu tenho cara de dentista? Tomar no cu, rapá. Aí, tô cheio do ódio. Era só uma erva agora.