Capítulo 19

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Ao final da batalha minha tristeza por ter presenciado mais um episódio de insanidade, que são as guerras, todas elas, se misturava com a alegria daquelas vidas salvas. Nem pude pensar em nada mais, pois fui cercada pelos humanos, eu os havia convencido a passar para o nosso lado, eles confiaram em mim, eu prometi muitas coisas e agora eles esperavam, com olhos cheios de medo e esperança.

- "Acredito que todos vocês tenham muitas perguntas, mas que sobretudo desejam ver suas famílias, elas devem estar assustadas, pois foram retiradas de suas casas por estranhos que podiam voar, com a única garantia a palavra deles 'de que vocês precisavam de suas famílias aqui'. Eles não puderam trazer nada, nenhum pertence, nenhuma relíquia ou lembrança. Vão ficar com eles, ver com seus próprios olhos que estão bem e trazer lhes segurança e conforto. Há comida e acomodações para todos. Logo vamos procurar vocês para tratar de questões mais práticas. Iris você pode acompanhá-los."

Nós formamos uma equipe incrível; Ellìë, Diändrà, Tâminä e Nia novamente criaram uma combinação de poderes entre as várias mulheres e os potencializou, numa forma perfeita, permitindo que minha voz atingisse todos e que meus poderes mentais agora desenvolvidos, pudessem ouvi-los e enviar suas indicações aos asas, que foram organizados com maestria por Lwnä.

 E como aquele vento foi sutil, como elas usaram a conjunção destes poderes para clarear amente dos humanos e fazê-los pensar com clareza!

E, agora, Iris também tem seus poderes maximizados para poder manter a calma de um grupo tão grande e assustado como esse.

- Ꞧicḣḁrð, estamos fazendo algo bom neste mundo, não estamos?

- Não conheço uma cidade que tenha feito tanto quanto a de vocês.

- A nossa.

As tendas dos humanos foram montadas por vários voluntários da Federação e como o número de resgatados foi superior as nossas expectativas precisamos montar muitas outras e aumentar o número de locais de alimentação. Muitas famílias foram atendidas por nossas curandeiras e estavam famélicos, não esperaram pelos seus e correram para os alimentos.

Quando cheguei vi a alegria do reencontro, as famílias estavam abraçadas chorando, sem saber o que fariam dali adiante, mas estavam juntos. Possuíam naquele momento um teto, mesmo que temporário e alimentos à vontade, bastava por hoje.

Mas vi também voluntários chorando, foi Anaya uma moça pequena da cidade de Harapen, que veio falar comigo, ela estava emocionada e lágrimas brotavam de seus olhos, conforme me contava o que vivenciou momentos antes, apesar de tentar contê-las.

- Senhora Lìä, foi tão triste, a senhora não imagina como foi.

- Me conte tudo desde o início, fale devagar, não esqueça de respirar e aos poucos você vai se acalmando.

- Eu fui voluntária e meu trabalho seria repor os alimentos nas mesas conforme fossem acabando. Mas os humanos, senhora, eles estavam com tanta fome, tão magros. Os olhos estavam fundos dentro das órbitas, a cabeça das crianças parecia desproporcional ao resto do corpo. A pele macilenta e por baixo só há ossos, não há cor em seus rostos e nem vida, até o cabelo parece ter desistido. Senhora como eles podem ser abençoados pela Deusa com essas crianças e tratá-las assim?

Eles não tinham força nem para terem medo de nós. O único momento que vi vida em seus olhos foi quando as mães se aproximaram da mesa, como um animal ferido, e eu disse que podiam pegar, elas pegaram e se afastaram assustadas para dividirem com seus filhos.

Vários voluntários decidiram levar algum alimento para as tendas, que talvez fosse mais confortável para eles. Eu continuei aqui, são muitas tendas e antes que todas fossem abastecidas viriam outras pessoas. E, as que vieram primeiro, avisaram as outras que era seguro, e muitas outras pessoas vieram e voltaram várias vezes, enchiam as saias com o que podiam, como se fosse acabar ou se nunca tivesse tido acesso a alimentos. Fiquei grata por Iris estar controlando os ânimos, eles poderiam ter se machucado. Mas, senhora, eles estavam tão tristes e sem esperança, a alma sofre tanto quanto o corpo. Como vamos devolver os sonhos para eles?

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