Sou acordada por Diändrà, irmã de Iris, com aqueles mesmos olhos pequenos e puxados, ela não possui poderes, mas é dotada de uma mente vibrante e perspicaz.
- Senhora, me desculpe acordá-la, mas Eir gostaria de lhe falar.
- Claro querida, tudo bem, irei logo.
E, ela saiu fechando a barraca que Jòsëph'v trouxe para nós.
- Não amor, fica. Já que estamos acordados, vamos relembrar nossa primeira noite juntos naquela tenda, vem.
E começou a me beijar preguiçosamente. Bem... qualquer que seja o assunto que Eir precise de mim tão cedo vai ter de esperar, tenho assuntos mais importantes aqui. E me deito novamente, relaxo e deixo que Ꞧicḣḁrð continue seus planos para o café da manhã, que aparentemente envolvem meus pés.
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Ao encontrar com Eir ele estava visivelmente irritado comigo, mas já estavam discutindo qualquer que fosse o assunto. Tentei acompanhar, mas não conseguia me concentrar, sentia o corpo de Ꞧicḣḁrð ao lado do meu, e uns instantes atrás nós estávamos enlaçados nos amando e ele estava tão surpreso com a minha flexibilidade, e eu adoro isso nele. Não quero perder nenhum instante sem ele ao meu lado, eu o quero mais e mais, quero sua presença e seus carinhos que me entorpecem.
Muitas vezes penso em sair desta confusão ir morar num lugar tranquilo, e quando ele morresse eu voltaria para a realidade, como se retornasse de umas férias ou de um sonho. Foi ele quem me tirou de meus devaneios.
- Amor, o que você acha que podemos fazer para ajudar?
- Oi?
- Os sobreviventes da vila. Você não ouviu nada?
Respondi com um beijo rápido e sai dali. Ao cruzar com Eir, vi seu olhar acusador e só disse:
- Ele é humano.
E me sentei onde Gerânios brancos e vermelho estão florescendo. Eir veio sentar se comigo.
- É. Você tem razão, ele é humano, e ele vai partir muito rápido. E estaremos aqui para te apoiar, se você permitir.
- Às vezes, quando estou tão feliz no nosso mundo, fico desejando fugir, levá-lo para um lugar calmo e aproveitar cada minuto com ele. A única coisa que poderei ter dele, quando ele partir, serão as lembranças.
- Eu te entendo, eu e Mírian já conversamos sobre isso, se você não deveria sumir com ele. Mas, será que é isso que ele deseja para a vida dele? Claro, que ele deseja aproveitar cada momento que tem com você, qualquer um pode ver que ele te ama. Mas, ele quer ajudar também. Ele descobriu algo bom aqui e ele deseja contribuir na manutenção desta coisa boa. Você ouviu o que Ꞧicḣḁrð te perguntou?
- Não. Confessei.
- Ele quer saber como vocês podem ajudar os sobreviventes das vilas que foram atacadas. Ele está sofrendo com o que seu povo provocou e quer participar da reconstrução. Quando você saiu ele veio falar comigo, acha que você está triste, por eu estar irritado com seu atraso; me disse que a responsabilidade era dele e que qualquer reprimenda deveria ser aplicada a ele. Eu o acalmei disse que você era minha filha e que viria conversar. Deixei-o com os outros se inteirando do que aconteceu.
Além disso, não sabemos quais os efeitos da transfusão, a que ele foi submetido, ninguém sabe. Pense na hipótese do poder de regeneração atuar no organismo dele, lhe concedendo mais alguns anos, encha seu coração com esperança. Vou pedir para ele vir falar com você.
- Te amo Eir.
- Te amo filha.
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... Sempre sinto sua aproximação.
- Você se resolveu com Eir? Perguntou sentando-se se ao meu lado, sua voz é tão doce, que eu sorrio.
- Seu sorriso consegue ser tão suave, quanto seus olhos, você está melhor?
Tenho certeza que meu sorriso ficou enorme ao ouvi-lo dizer aquilo. Eir tinha razão, Ꞧicḣḁrð merecia que eu tivesse esperança, toda esperança que nosso amor pudesse suportar.
- Sim, estou ótima, foi só um mal-entendido e agora me conte, o que foi dito. Eu não entendi nada.
- Você quer dizer "não ouviu nada". Falou em tom de brincadeira e eu fiz beicinho. – Está bom, eu conto. Falou sorrindo e continuou agora mais sério.
- Amor, alguns batedores de Mitanni encontraram pessoas famintas, maltrapilhas e machucadas e trouxeram para a cidade onde foram curadas e alimentadas. Até que se sentiram confortáveis para contar o que aconteceu.
A vila onde estavam foi massacrada, destruída pelas tropas de Cádis, eles pilharam, estupraram mulheres e crianças. Crianças! Depois mataram todos que encontraram. Os sobreviventes foram aqueles que não estavam na vila no momento e aqueles poucos que conseguiram se esconder nos escombros ou deram muita sorte.
Eir enviou seus homens a vários locais e encontraram outras vilas no mesmo estado, sobreviventes são convidados a virem e as cidades que não sofreram ataques e aceitaram os sobreviventes, estes recebem o mesmo convite, se eles optarem em ficar, Eir oferece ajuda até que eles estejam exercendo atividades produtivas. Mas não são muitos de qualquer forma.
Porém, tem algo muito errado. O exército humano muitas vezes pilha fazendas, até pode queimá-las, precisam do alimento e não querem que o inimigo os obtenha. Alguns indisciplinados estupram as mulheres, mas o comportamento não é incentivado pelos oficiais. Nós teremos que retornar com as tropas e se estivermos em minoria e cansados, não queremos ser emboscados pelas defesas das cidades.
Mas esse tipo de destruição, de extermínio não é o habitual, principalmente pelo medo das bruxas do Sul. Tenho certeza que o exército evitaria o máximo o contato com cidades e vilas até o encontro das duas fileiras o que só ocorreu aqui já bem próximo da cidade. Você tem razão, precisamos fazer alguma coisa. Esses ataques não vão parar, e não podemos ficar só nos defendendo, isso está atingindo a vida de várias outras pessoas.
- Sim querido, você está certo. Mas eu estou pensando em algo. Amor vamos encontrar Krun.
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- Krun, eu preciso que você me faça um favor? Eu gostaria que você procurasse a Ellìë, como você a conhece, acredito que seria mais fácil para você encontrá-la. Peça para ela lhe ensinar um pouco sobre botânica, e que vocês pesquisem juntos os alimentos, ervas medicinais, alimentos, as flores que ela gosta, plantas que sobrevivam as terras e climas mais ao Norte e que talvez possam ajudar os humanos, ela vai entender o que eu preciso.
Sei que pode ser um incomodo para você, mas acredito que vou precisar de um guerreiro com esse tipo de conhecimento em breve. Vocês terão um tempo, vou enviar uma correspondência oficial e a resposta deve demorar uns dias. Quando Ellìë tiver terminado você deve acompanhá-la para vir falar comigo, faça companhia a ela nesse tempo, por favor, ajude-a no que for necessário. Vi quando os olhos de Krun brilharam, concordou com a cabeça e saiu correndo.
- Lìä, o que foi isso? Um guerreiro com conhecimento em botânica? Nem eu engulo essa.
- Amor, eu realmente preciso que ela desenvolva este conhecimento e aproveitei para dar uma ajudazinha a Krun em algo que ele está com dificuldade.
- Krun em dificuldade com algo? Ele é bom em tudo que se propõe a fazer. No que você está ajudando-o?
- Amor, ninguém é bom em tudo.
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Avassaladora
FantasyUma batalha está prestes a irromper, o exército das sombras avança sobre os mitanianos e a esperança de detê-los recai sobre duas mulheres, cujo passado ainda é desconhecido, inclusive para elas mesmas. Vencer as sombras, porém, será apenas um obst...