Capítulo 1

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Eram 2:40 da manhã quando ela acordou de um sonho. O coração acelerado e a respiração ofegante. Olhou no celular e apenas suspirou. Essa era o quê? A quarta vez na semana que acordava de madrugada e não conseguia dormir mais? Sim, era a quarta vez. Imaginou que nenhum corretivo a salvaria das olheiras no dia seguinte.

Morava sozinha em um apartamento de três quartos com vista para a Bay Bridge. Seu aluguel era uma fortuna, mas não se importava, porque a empresa pagava. Assim como todos seus custos com alimentação e transporte. Ela tinha um dos melhores salários de sua área, porque era uma das melhores no que fazia.

Foi usar o banheiro e quando voltou para a cama não conseguia dormir. Anahí sofria com insônia desde muito nova, ela costumava pensar que era uma maldição. Tinha períodos de melhora, mas sempre que algo incomodava profundamente a maldição voltava a fazendo passar noites infernais e intermináveis.

Depois de muito revirar na cama ela se deu por vencida e ligou a televisão. Ligou em Friends, porque já tinha visto tantas vezes cada episódio que ela não precisava prestar muita atenção, tinha as falas decoradas. Puxou a coberta para mais perto, era outubro e já estava começando a ficar frio.

Era quase 5 da manhã quando ela finalmente conseguiu dormir, seu despertador tocava as 6:20. Quando ele tocou ela quase considerou dormir mais um pouco, mas sabia que começar o dia matando academia era o mesmo que passar o resto do dia irritada e de mau humor. A endorfina era sua melhor amiga ultimamente.

Se obrigou a levantar e foi malhar. Voltou se sentindo melhor, pelo menos a tensão do pesadelo tinha ido embora. Anahí tinha essa questão às vezes, se tinha algum sonho muito ruim ou muito real ela passava o resto dia pensando naquilo e por mais que tentasse, não conseguia esquecer.

Tomou um banho para se livrar do suor, tomou café da manhã e secou os cabelos que estavam tão compridos que ela se perguntava porquê. Se arrumou para o trabalho: salto, calça social preta e uma camisa azul petróleo de seda, que combinava com seus olhos. Pegou sua bolsa e saiu. Ela odiava dirigir em San Francisco, o trânsito era infernal, e para completar havia uma obra interminável bem na frente do seu prédio, foi caminhando até a próxima esquina e esperou seu Uber. Andar de Uber era bem mais fácil ultimamente.

Chegou no trabalho pontualmente às 10 da manhã. Foi direto para sua sala, tinha muito o que fazer e sinceramente nenhuma paciência. As noites mal dormidas cobrando o preço onde ela menos tinha: Paciência. Estava concentrada em um relatório quando ouviu batidas na porta. Pediu para que entrassem. Era sua secretária.

– Sra. com licença, gostaria de avisar que a reunião com o Sr. Dalsing mudou para as 4 da tarde. – Era a segunda semana da secretária, a anterior tinha pedido demissão depois de não aguentar a pressão.

– Obrigada Caroline, mas pode me chamar de Anahí, não precisa do Sra. - Ela não sentia que tinha idade o suficiente para ser chamada de Sra. – Quanto a reunião, diga que nesse horário eu não estarei disponível. O Sr. Dalsing pode se organizar melhor da próxima vez, eu não tenho agenda aberta para quando ele bem entender.

Sua paciência já estava no limite, e odiava John Dalsing, um dos sócios em potencial da empresa onde ela trabalhava. Ela era contra a venda para ele, por mil motivos, mas principalmente porque ele era um desequilibrado insuportável.

O resto da manhã passou como um borrão, ela estava começando a acumular trabalho, principalmente e-mails para responder. Tentou organizar uma lista das coisas mais importantes para quem sabe dar conta delas até às seis da tarde.

Outra batida na porta. Ficou pensando se ninguém mandava mensagens no whatsapp, que mania de aparecer pessoalmente. Pediu novamente para que entrassem e dessa vez se surpreendeu ao ver que era Christopher.

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