Capítulo 23

424 48 29
                                    


Dezembro de 2021, San Francisco, CA.

Anahí recebeu alta na manhã seguinte. Ela não via a hora de ir embora, a parte ruim foi ter que colocar o vestido de festa novamente, já que não tinha nenhuma roupa e ela não quis ligar para Dulce. Já tinha incomodado demais a amiga. A enfermeira teve que ajudá-la a vestir-se, uma vez que o ombro dela estava imobilizado. No fim o vestido tomara que caia foi vantajoso. Ela jogou o sobretudo nos ombros e saiu do quarto.

Levou um susto ao ver que Poncho estava dormindo sentado em uma cadeira no corredor. Ele despertou quando ela o chutou na canela.

– O que diabos você está fazendo aqui? – Toda a calma e serenidade de Anahí tinham ido embora, ela estava com raiva e quando estava com raiva ela não perdoava.

– Você achou mesmo que eu iria embora e te deixaria aqui sozinha? Eu vou respeitar seu espaço, mas enquanto cuido de você.

– Isso é completamente sem sentido. Eu não preciso de ajuda. – Enquanto ela falava o sobretudo escorregou de seus ombros, Poncho se levantou depressa e segurou o casaco o impedindo de cair.

– Eu sou obrigado a discordar. – Anahí fechou a cara para ele. – Olha, eu prometo te deixar em paz, só me deixa te levar para casa. Você nem vai perceber que eu estou lá. Me deixa fazer isso, que é o mínimo que eu posso fazer depois de tudo.

Ela considerou por um momento. Não queria ninguém, queria ficar sozinha. Olhou para ele e ele parecia cansado, dormir em uma cadeira naquele hospital frio era um bom começo para a punição que queria para ele.

– Tudo bem. – Ela suspirou e ele a acompanhou até o estacionamento.

Chegaram ao Jaguar, e ela não entendeu o porquê daquele carro.

– Que carro é esse?

– Eu aluguei para te levar no baile, mas enfim, deu tudo errado. – ele parecia ainda mais cansado na luz do dia, apesar de muita neblina, o sol ia aparecer em breve.

– Não deu tudo errado, você fez tudo errado, é bem diferente. – Anahí usou a mão boa para entrar no carro e bateu a porta com força.

Alfonso escolheu, de forma muito inteligente, não falar mais nada. O caminho todo até o apartamento de Anahí foi feito em silêncio. Ela olhou pela janela o tempo todo e não deu sequer uma abertura para conversarem. Ao chegarem no apartamento ele abriu a porta do carro e a ajudou a descer. Foi com ela até o apartamento. Anahí tinha uma expressão triste no rosto. Estavam na porta da casa dela quando ela se virou para ele.

– Obrigada pela carona e pela ajuda, mas eu posso me virar sozinha agora.

– Eu estava pensando que talvez a gente pudesse conversar.

– Nada de bom vai sair dessa conversa. Me dá um tempo, por favor, eu só quero tomar um banho e ficar sozinha.

– Tudo bem, mas você me promete que vai me avisar se precisar de alguma coisa? – Ele se aproximou e segurou o rosto dela com as mãos. – Eu amo você, e eu sinto muito tudo o que aconteceu.

Anahí não respondeu, porque aquelas palavras, por mais que soassem sinceras, não tinham efeito nenhum na mágoa e tristeza que ela sentia. Nem mesmo conseguiu responder, apenas acenou com a cabeça e entrou em seu apartamento, fechando a porta atrás de si.

Uma vez em casa ela não soube por onde começar. Ao olhar no espelho quis matar Dulce por não ter avisado de seu estado. Tinha restos da maquiagem do baile, partes do maxilar estavam com hematomas por ter sido apertada pela mão de Manuel e ela sentiu nojo. Nojo por ter sido tocada por ele novamente. Nojo de saber que seu corpo tinha ficado à mercê dele outra vez. O choro chegou e ela nem se deu conta. Arrancou o vestido como conseguiu, rasgando parte do tecido no processo.

Only OneOnde histórias criam vida. Descubra agora