Capítulo 24

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Dezembro de 2021, San Francisco, CA

Anahí acordou com uma dor absurda no ombro. Tentou se virar, mas Poncho estava deitado atrás dela, a segurando pela cintura. Ela não queria acordá-lo, mas parecia que seu braço iria cair de tanta dor. Ela se mexeu, e ele a puxou ainda adormecido. Anahí soltou um grunhido de dor e ele acordou, assustado.

– Gatinha? O que foi? – Ele tateou no escuro, colocando a mão no rosto de Anahí, que se afastou.

– Eu dormi em cima do braço, estou com dor. – Ele continuou tentando tatear Anahí no escuro. – Você pode parar de me apalpar, Alfonso?

Ainda desorientado ele acendeu a luz. Tinham ido dormir com as roupas que usavam no dia anterior, Anahi tinha o rosto amassado e ele imaginava estar do mesmo jeito. Olhou no relógio. 5:30 da manhã, o dia nem tinha nascido ainda. Ele se levantou e foi até a cozinha onde encheu a bolsa de gelo. Quando voltou, Anahí tinha se acomodado melhor na cama e ele sentou-se ao lado dela. Colocando a bolsa de gelo no ombro dela.

– Não queria ter te acordado.

– Tudo bem, eu preciso ir para casa buscar minhas coisas antes de ir trabalhar. Se eu for agora não pego trânsito.

Anahí ficou em silêncio, apenas observando Alfonso. A barba dele precisava ser feita, os cabelos estavam bagunçados e ele estava com a cara de sono. Mas ela o achou lindo. Sentiu um frio na barriga, e era impressionante como mesmo depois de tanto tempo e depois de tantas coisas ela ainda se sentia assim quando o assunto era ele. Ele quase dormiu de novo, e ela o sacudiu de leve.

– Se você for agora é melhor. – Ela falou baixo e ele sentou direito na cama.

– Ok, mas você vai ficar bem?

– Vou, não se preocupa.

– Eu sempre me preocupo. – Ele se aproximou e beijou a testa dela demoradamente. Anahí sorriu ao sentir o carinho.

Ele foi até o banheiro e voltou um pouco mais acordado. Anahí seguia sentada na cama com sua bolsa de gelo. Ele saiu para ir trabalhar e pela primeira vez desde que tudo havia acontecido, Anahí desejou não estar sozinha.

Ela tomou coragem para se levantar por volta das oito da manhã. Fez seu café e depois, com muito custo, se penteou e se arrumou para sua conversa com o advogado. Era muito chato o quanto ela demorava para fazer até as coisas mais simples. Já estava irritada quando terminou de se arrumar e foi até o escritório de seu apartamento para fazer a reunião.

O advogado era jovem, provavelmente da idade dela, mas tinha uma aparência muito séria e quase não sorria. Anahí gostou dele. Ela sendo alguém séria, sentia-se confortável. Ele pediu para Anahí contar exatamente tudo que poderia sobre Manual. Foi uma conversa complicada, porque muitas coisas ela não queria contar, principalmente para um estranho, mas ao mesmo tempo ela não queria que sua vergonha a impedisse de obter justiça.

Anahí perdeu a noção do tempo que passaram na reunião. O advogado fazia anotações o tempo todo e a cada momento ela se sentiu mais confiante para narrar sua história. A cada tópico, ele perguntava se ela tinha como provar o que dizia. Anahí tinha como provar. Ela tinha todas as conversas com ele salvas em seu celular. Tinha fita de seguranças de seu prédio dos dias que ele esteve lá. Ela tinha mil maneiras de confirmar o que dizia e o advogado ficou contente com isso.

– Anahí, considerando tudo que você me contou e as evidências que você diz ter. Estamos falando de uma ordem de restrição permanente. Ele não vai poder chegar a menos de 300 metros de você, pelo resto da vida. Sem contar o processo de danos morais e injúria que nós facilmente ganharíamos.

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