Capítulo 9

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Novembro de 2021, San Francisco, CA.

Anahí chegou em casa, tudo estava silencioso, as luzes da sala apagadas. Por um momento pensou que Poncho não estava. Ela tirou os sapatos, como fazia sempre, e foi descalça em direção ao seu quarto. Uma voz a impediu de continuar. Era a voz dele.

– A entrevista foi muito boa, agora estou descansando. – Ele falava no telefone, aparentemente não tinha escutado ela chegar, a porta do quarto dele estava aberta. – Até agora não tive a chance de ver muita coisa, espero que amanhã eu consiga ir em alguns lugares.

Anahí sentia o coração martelando no peito. Ela não queria ser inconveniente e escutar a conversa dele, mas ao mesmo tempo algo a impedia de se mover, ou de anunciar sua presença. Ela sabia que ele estava falando com Diana.

– O hotel é bom, nada demais. – As palavras a atingiram como mil adagas, ele estava mentindo, ele nunca mentia. – Eu vou revisar algumas coisas do trabalho aí do México agora, te ligo depois, pode ser? Ok, boa noite, beijos.

A ligação terminou de forma meio seca, era diferente de como ele falava com ela. Sempre tinha um quê de carinho na voz dele, uma quase vontade de não desligar. Talvez ela estivesse imaginando coisas, ouvindo o que queria. Respirou fundo, e tomou coragem, não iria aguentar.

– Oi Poncho. – Ele a olhou levemente assustado, ele realmente não tinha escutado ela chegar.

– Oi Any, não te ouvi. – Ele sorriu de lado, parecia incomodado.

– Eu te ouvi. – Ela ficou parada, com os sapatos nas mãos. – Posso te perguntar uma coisa?

– Claro. – Ele sentou-se na cama, a observando parada na porta.

– Porque você não falou para Diana que está ficando na minha casa?

Ele não respondeu imediatamente, apenas respirou fundo, coçando a parte de trás da cabeça. Algo sobre Anahí que jamais mudaria: ela era extremamente direta. Não gostava de rodeios, de meias palavras. Diga tudo o que tem para dizer, ou não diga nada. Ele sabia muito bem isso, e sabia que jamais seria capaz de mentir para ela.

– Porque você me convidou para ficar aqui? – Anahí soltou uma risada curta com a resposta dele.

– Ah, por favor. Não me responda com outra pergunta, você sabe como isso funciona. – Ela não entendia o porquê, mas estava começando a se irritar.

– Eu sinceramente não sei o que te responder, Anahí. Eu não contei porque ela não iria gostar, e as coisas já estão ruins o suficiente sem que eu adicione: "Estou indo ficar uma semana na casa da minha ex". – Ela aguardou em silêncio, ele teria que falar além disso, e ela não iria continuar questionando. – Ela não vai vir para cá se eu conseguir o emprego.

– Como assim? – Ela perguntou intrigada.

– Ela tem um ótimo trabalho, tem sua família, tem tudo que quer. Ela não tem vontade de vir morar aqui, e ela não tem motivos além de mim para isso. – A voz dele tinha um tom de mágoa. – Se eu me mudar, nosso relacionamento acaba.

Anahí ficou parada, absorvendo as palavras dele. Aquilo parecia ferí-lo e tudo que ela não queria era vê-lo machucado. Ela entendia o conflito que ele estava vivendo. Ela passou pela mesma coisa quando se mudou. Ela não queria deixá-lo, mas ao mesmo tempo o chamado de uma nova chance era alto demais para ser ignorado.

– E o que você vai fazer? – Ela nem sabia se tinha o direito de fazer essa pergunta.

– Não sei, eu não quero ser a pessoa que escolhe a carreira acima da mulher que esteve ao meu lado quando eu não era nada.

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