Only One

Capítulo 8

Dezembro de 2016, Cuernavaca, MX

Anahí tinha chegado na casa da mãe de Alfonso para se despedir da ex- sogra. No tempo em que namorou com Alfonso, Ruth tinha se tornado uma amiga muito querida. As duas nutriam um amor genuíno. Algo que ia além do vínculo de nora-sogra. Essa era uma das despedidas que ela mais sentia, tirando é claro, Alfonso. Ao chegar, se surpreendeu com um almoço. Ruth tinha preparado todas as coisas que ela mais amava comer.

As duas conversaram por horas, choraram juntas, fizeram promessas de um reencontro e Ruth abençoou Anahí, lhe desejando as melhores coisas em sua nova jornada. Anahí tinha se despedido de tantas pessoas no último mês que ela sentia-se levemente anestesiada, já sem conseguir sentir tanta dor, mas Ruth e Alfonso eram algo à parte.

As duas tomavam café-da-tarde quando Alfonso chegou, ele estava trabalhando. Anahí não tinha programado ficar tanto tempo ali, mas a hora passou sem que ela percebesse. Ele parecia desconcertado ao comprimentá-la. Os dois conversaram muito sobre o fim do relacionamento. Não havia mais nada a ser dito, apenas tinham que lidar com a realidade, acabou e naquele momento era tudo que poderiam fazer.

Quando Anahí anunciou que tinha recebido uma proposta de emprego em San Francisco, Alfonso foi o primeiro a incentivá-la. Ele sabia que a frustração profissional era uma grande parte da dor dela. Em poucos meses ela já estava até com uma aparência melhor. Tinha conseguido finalmente parar com o remédio controlado e parecia cada dia mais com a Anahí que ele tinha conhecido anos atrás.

Os dois conversaram sobre coisas banais enquanto Ruth os observava. Até que ela anunciou que precisava ir ao mercado buscar algumas coisas e que voltaria logo. Era claramente uma desculpa para deixar os dois sozinhos. Anahí e Alfonso foram para a sala, onde Potter dormia confortavelmente no sofá.

– Esse gato dorme tanto que ele vai viver uns 25 anos. – Anahí coçou a barriga do gato, que se espreguiçou, dando mais espaço para ela coçar.

Alfonso apenas observava os dois, sorrindo levemente. Potter era apaixonado por Anahí, o gato era seu completamente. Ele sabia que ela também o amava, e que seria difícil para ela deixá-lo, mas por hora sua vida era muito incerta, ela não tinha como ter certeza que teria espaço e boas acomodações para ele. Tudo que ela não queria era fazer o gato sofrer, na casa de Ruth ele estava ambientado e era muito amado.

Anahí sentiu as lágrimas se formando, não queria chorar, mas era impossível. Uma parte enorme dela estava sendo deixada para trás. Uma parte que ela sabia que jamais perderia o significado. Era como se estivesse arrancando um braço. Desde o momento que saísse daquela casa estaria aleijada para sempre. Pague o preço de suas escolhas, Anahí.

Ela respirou fundo e se levantou do sofá, Potter ficou ronronando. Ela olhou para cima, tentando evitar chorar, se assustou quando sentiu as mãos de Alfonso a puxando para um abraço.

– Eu não posso te pedir para ficar, eu não teria coragem de fazer isso com você. – Ele sussurrou no ouvido dela, a voz embargada pelo choro. Anahí o abraçou pela cintura, o mantendo perto. – O que eu vou fazer sem você, aqui, Anahí? Como eu vou acordar e ir dormir sabendo que você não está?

Ele a abraçava com força, enquanto Anahí sentia o choro a sufocar. Ele também chorava, de forma mais contida, porém chorava. Ela levantou o rosto para olhá-lo. Os dois se encararam por um momento até ouvirem a porta da garagem se abrindo, era Ruth que estava de volta, interrompendo os dois.

Anahí nunca conseguiu responder a pergunta dele, e a carregava com ela até hoje.

Novembro de 2021, San Francisco, CA.