Capítulo 7

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Fevereiro de 2020, San Francisco, CA.

Anahí estava passando por outra crise de ansiedade, as crises ficaram mais frequentes depois de seu sumiço no final de 2019. Ela tinha furado os planos para o Natal e o Ano Novo. Comprou uma passagem para o Colorado e passou as festas sozinha em uma

cabana em Aspen. Tinha chorado tanto durante os quase dez dias que tinha passado ali, que chegou a pensar que estaria desidratando.

Foi o tempo que ela precisou para organizar algumas coisas em sua mente, para tomar algumas decisões e para se dar conta de algumas coisas importantes. Como o fato de ela não aguentar mais sua relação com Velasco. E finalmente aceitar que ele era um homem tóxico e que ela não o queria mais em sua vida.

Entretanto, coisas assim não se resolvem do dia para noite. Não é tão simples assim cortar um laço de mais de dois anos com alguém. Ela queria muito que a dor passasse logo, mas nesse processo ela estava descobrindo que, algumas coisas tem um preço caro a ser pago. Ela contou com o apoio de Dulce, que sempre que podia estava com ela. As duas saíam juntas, iam para festas, curtiam momentos de distração. Era bom para Anahí, mas em dias como aquele, ela sentia um grande vazio. E esse vazio a deixava ansiosa.

Estava vendo um filme em uma tarde de domingo, lá fora chovia bastante, o mar em cor de chumbo e o vento forte fazendo ondas no mar da Baía. Ela queria estar lá fora, mas a chuva na cidade era sempre ácida. O que fazia ela desistir. Sentia falta do mar, da chuva fresca em um final de tarde. Sentia falta de casa.

Já não prestava atenção no filme quando seu telefone tocou, era ele. Seu primeiro instinto foi ignorar a chamada, mas no fim atendeu. Era um processo, às vezes, maldito.

– O que está fazendo? – Ele perguntou, sem nem ao menos comprimentá-la. Ele não achava necessário.

– Vendo um filme em casa, porque? – Anahí estranhava a própria voz, que saiu meio estrangulada por causa do nó que ela tinha na garganta.

– Nada, acho que vou passar aí então.

Muitas coisas sobre Manuel irritavam Anahí, mas a que ela mais detestava era a mania que ele tinha de fingir que nada tinha acontecido. Ele ignorava tudo que ele achava que seria problemático. Ele ignorou os sentimentos dela por tanto tempo que ela sentia o coração do tamanho de uma cabeça de alfinete de tão comprimido.

– Não, eu quero ficar sozinha. – Ela conseguiu falar, o pânico de encontrar com ele a fez querer chorar.

– Você vai começar com essas frescuras outra vez? – A voz dele já estava alta. Era sempre assim, todas as vezes que ele era contrariado ele usava a agressão para combater.

– Chame do que quiser, eu só quero ficar sozinha.

– Chego em vinte minutos. – E ele desligou.

Anahí ficou encarando o celular, o coração batendo tão forte que parecia que iria explodir. Ela não conseguia acreditar no quanto ele era manipulador. Correu para o interfone da portaria e pediu para não permitirem a subida de ninguém em seu apartamento. Ela já tinha tirado o nome dele da lista de visitantes que não precisavam ser anunciados, mas tinha medo da lábia dele.

Ela esperou, olhando a câmera de segurança. 20 minutos passaram, depois 30, até uma hora. Ele não tinha aparecido. Foi então que ela se deu conta que ele nunca de fato quis estar alí. Ele só a estava torturando. E o choro voltou.

Novembro de 2021, San Francisco, CA.

Anahí tinha uma segunda-feira complicada pela frente. Para começar ela tinha ignorado todas as mensagens de Christopher desde a festa, mas não poderia fazer isso pessoalmente. Depois teria a reunião com John Dalsing, essa reunião já tinha mudado de data tantas vezes que ela rezava para que isso terminasse de uma vez.

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