Lauren
A água do mar batia violentamente à minha volta, subindo pelo meu nariz, descendo pela minha garganta, dentro dos meus olhos. Eu não conseguia respirar sem engasgar. Camila nadou na minha direção, chorando, sangrando e gritando. Ela agarrou minha mão e tentou falar, mas as palavras saíram todas atrapalhadas, e não entendi porra nenhuma do que ela falou. A cabeça dela bamboleou, e ela caiu de cara na água. Eu a puxei pelo cabelo.
— Acorde, Camila, acorde! — As ondas estavam tão altas que fiquei com medo de nos separarmos; então enfiei meu braço embaixo da tira do colete salva-vidas dela e segurei. Levantei seu rosto. — Camila! Camila! — Ai, meu Deus. Seus olhos continuavam fechados, e ela não reagia; então enfiei o braço esquerdo embaixo da outra tira do colete e me inclinei para trás, deixando seu corpo deitado no meu peito.
A correnteza nos levou para longe dos destroços. Os pedaços do avião desapareceram da superfície, e não demorou para que não restasse nada. Tentei não pensar em John amarrado no assento.
Boiei, atordoada, o coração aos pulos. Rodeada apenas pelas ondas, tentei manter nossas cabeças acima da água e me controlei para não entrar em pânico.
Será que eles vão saber que caímos? Será que estavam nos monitorando pelo radar?
Talvez não, porque ninguém apareceu.
O céu escureceu, e o sol se pôs. Camila murmurou. Pensei que ela estivesse acordando, mas o corpo dela se agitou, e ela vomitou em mim. As ondas me lavaram, mas ela tremia, e eu a puxei para mais perto, tentando mantê-la aquecida. Eu também estava com frio, mesmo que a água tivesse parecido morna logo depois da queda. Não havia luz da lua, e eu mal conseguia ver a superfície da água, negra agora, não mais azul.
Eu estava preocupada com os tubarões. Liberei um dos braços e coloquei minha mão embaixo do queixo de Camila, levantando a cabeça dela do meu peito. Senti alguma coisa quente logo abaixo do meu pescoço, onde a cabeça dela repousava. Será que Camila ainda estava sangrando? Tentei acordá-la, mas ela só reagia quando eu balançava sua cabeça. Ela não falava, mas gemia. Eu não queria machucá-la, mas queria saber se estava viva. Ela não se mexeu por muito tempo, o que me apavorou, mas então vomitou de novo e estremeceu nos meus braços.
Tentei ficar calma, respirando devagar. Lidar com as ondas era mais fácil boiando de costas, e Camila e eu vagávamos enquanto a correnteza nos levava. Os hidroaviões não faziam voos noturnos, mas eu tinha certeza de que eles mandariam socorro quando o sol nascesse. Alguém teria que saber que caímos até amanhecer.
Meus pais nem sabem que estávamos naquele avião.
As horas se passaram, e eu não conseguia ver nenhum tubarão no escuro. Talvez estivessem lá, eu é que não sabia. Exausta, cochilei um pouco, deixando minhas pernas penderem, em vez de lutar para mantê-las perto da superfície. Tentei não pensar nos tubarões que pudessem estar rodeando abaixo de nós.
Quando sacudi Camila de novo, ela não reagiu. Achei que pudesse sentir o peito dela subindo e descendo, mas não tinha certeza. Houve um som alto de água espirrando e me sobressaltei. A cabeça de Camila pendia para o lado, e eu a puxei de volta para meu peito. Os espirros continuaram, quase ritmados. Imaginando não apenas um tubarão, mas cinco, dez, talvez mais, girei várias vezes. Algo emergiu e levei um segundo para perceber o que era. Os espirros eram as ondas batendo em recifes que circundavam uma ilha.
Nunca senti tanto alívio na vida, nem mesmo quando o médico nos disse que o tratamento finalmente havia funcionado e que meu câncer tinha ido embora.
A correnteza nos levava para mais perto da ilha, mas não estávamos indo em direção a ela. Se eu não fizesse alguma coisa, não conseguiríamos alcançá-la.
Eu não podia usar os braços porque eles ainda estavam embaixo das tiras do colete salva-vidas de Camila; por isso, continuei de costas e bati os pés. Perdi meus sapatos, mas não me importei; eu já devia tê-los tirado horas antes.
A terra ainda estava a pelo menos uns quarenta metros. Mais longe do que antes, não tive outra opção senão usar um dos braços e nadei com braçadas laterais, arrastando o rosto de Camila pela água.
Levantei a cabeça. Estávamos perto. Batendo as pernas freneticamente, meus pulmões queimando, nadei o mais rápido que pude.
Alcançamos as águas calmas na laguna na parte interior dos recifes, mas não parei de nadar até meus pés tocarem o fundo de areia. Só tive energia para arrastar Camila para fora da água. Logo depois, desabei perto dela e desmaiei.
* * *
O sol escaldante me acordou. Tensa e dolorida, eu só conseguia enxergar com um dos olhos. Eu me sentei, tirei o colete salva-vidas e depois olhei para Camila. Seu rosto estava inchado e ferido, e havia cortes em suas bochechas e na testa. Ela estava deitada imóvel.
Meu coração martelava no peito, mas me obriguei a me inclinar para a frente e tocar o pescoço dela. A pele estava quente, e o alívio me inundou uma segunda vez quando senti seu pulso sob meus dedos. Ela estava viva, mas a única coisa que eu sabia sobre traumatismos cranianos é que ela provavelmente tinha um. E se ela nunca mais despertasse?
Tentei acordá-la, com cuidado.
— Camila, está me ouvindo?
Ela não respondeu, e eu a sacudi novamente.
Esperei que ela abrisse os olhos. Eles eram impressionantes, grandes e de um tom castanho. Foram a primeira coisa que notei quando a conheci. Ela fora ao nosso apartamento para a entrevista com meus pais, e fiquei constrangida porque ela era linda, e eu era magra e careca, e minha aparência estava uma merda.
Vamos, Camila, me deixe ver seus olhos.
Eu a sacudi com mais força e, quando ela enfim abriu os olhos, lentamente soltei o ar que estava prendendo.
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On The Island
FanfictionUma ilha deserta e ensolarada, com vegetação luxuriante e banhada por um mar cristalino pode ser o cenário de um sonho. Ou de um pesadelo... Camila é uma professora de inglês de 30 anos desesperada por aventura. Cansada do inverno rigoroso de Chicag...