Capítulo 30 - Flores.

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Camila

Eu me sentei perto da beira da água pintando as unhas dos pés de rosa. Era uma bobagem, considerando as circunstâncias, mas eu tinha o esmalte na mala e definitivamente tinha tempo, então eu acabava pintando.

Lauren se aproximou.

— Belos dedos.

— Obrigada — falei, começando outra camada. — Já contei sobre Lucy, minha manicure?

Ela riu.

— Ah. Não, você nunca me falou dela.

— Eu costumava fazer a unha com Lucy sábado sim, sábado não. — Lauren levantou uma sobrancelha.

— É, eu talvez me cuidasse um pouco mais em Chicago do que aqui. De qualquer modo, o inglês não era a primeira língua de Lucy, e eu nunca soube qual era, sabia apenas que eu não sabia falar. Mesmo assim, isso não nos impediu de ter longas conversas, embora nenhuma de nós duas entendesse tudo o que a outra falava.

— Sobre o que vocês conversavam?

— Não sei, qualquer coisa. Ela sabia que eu ensinava em uma escola e tinha um namorado chamado Austin. Eu sabia que Lucy tinha uma filha de treze anos e amava reality shows. Ela era tão legal. Ela me chamava de querida e sempre me abraçava quando a gente dizia oi e tchau. Em toda visita me perguntava quando Austin e eu nos casaríamos. Uma vez, tivemos um grande desentendimento e, aparentemente, prometi que ela faria as unhas das minhas madrinhas de casamento.

Coloquei a tampa de volta no vidro de esmalte e dei uma olhada nas unhas dos pés. Eu não tinha feito o melhor dos trabalhos.

— Lucy enlouqueceria se visse meus pés agora. — Olhei para Lauren, ela tinha uma expressão estranha no rosto, que eu não conseguia decifrar. — O que houve?

— Nada.

— Tem certeza?

— Tenho. Vou pescar. É melhor você deixar essas unhas secarem.

— Tudo bem.

Ela parecia normal de novo quando voltou com o peixe. Superara rapidamente aquilo que o havia aborrecido, fosse o que fosse.

* * *

— Por que você não fica nua o tempo todo? — perguntou Lauren. — Para que se vestir?

— Estou nua agora.

— Eu sei. Foi por isso que eu perguntei.

Lauren e eu estávamos paradas perto da margem, tentando lavar nossas roupas sujas, inclusive as que estivéramos vestindo.

— Isso ainda está fedendo? — perguntou Lauren, segurando uma camiseta para eu cheirar.

— É, talvez um pouco. — Era difícil limpar qualquer coisa, considerando que estávamos sem sabão para lavar roupas havia mais de um ano. Agora nós apenas esfregávamos as roupas dos dois lados na água, e já estava de bom tamanho.

— Se ficássemos nuas o tempo todo, não teríamos que lavar roupa, Camila — disse ela com um grande sorriso no rosto. Saímos da água e jogamos as roupas sobre a corda que havíamos pendurado entre duas árvores.

— Se eu ficasse nua o tempo todo, você nem me notaria mais depois de um tempo.

Ela bufou.

— Ah, é claro que eu notaria.

— Você diz isso agora, mas com o tempo talvez não notasse mais.

Ela olhou para mim como se eu fosse louca. Quando voltamos para casa, ela se esticou no cobertor.

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