Capítulo 2 - Resgate a Amber

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— O que aconteceu com Amber, Damian?

— Olha, a Amber está mal! Aconteceram muitas coisas em pouco tempo.

— Como o que?

— Ela terminou o relacionamento, está faltando aula...

— Mas as aulas começaram há duas semanas.

— Pois é, Tia Carly falou para a diretora que Amber está doente e por isso, ela não sofrerá as consequências pela falta, mas isso não se sustentará para sempre.

— Eu não posso ficar umas férias sem vim que acontece mil coisas. Vamos dar um jeito nisso, Dan. — digo olhando-o nos olhos. Não sei o que aconteceu, mas não vou deixar a minha prima no fundo do poço.

Após minha breve conversa com meu irmão, vou ao meu quarto que fica no segundo andar da casa, o mesmo se encontra bem arrumado e com aroma de lavanda, eu gosto muito de pôr aromatizadores no ambiente, provavelmente a mamãe o colocou aqui. Meu quarto não é tão grande, ele possui um closet pequeno e dentro do quarto, por enquanto, tenho minha cama e uma cômoda. Eu não coloco ursos ou almofadas, pois tenho alergia a poeira e essas coisas a acumulam com facilidade.

Levo horas para organizar algumas coisas que trouxe comigo. Já cansada, me jogo na cama e pego o celular para atualizar as minhas redes e, após o jantar, vou dormir.

O relógio marca oito horas e vinte cinco minutos da manhã, gostaria de dormir mais neste sábado, entretanto o sono me abandonou completamente.

Tudo bem, hora do resgate a Amber.

Escolho pegar um transporte público para ir visitar minha prima, a sortuda mora próxima ao CF Rideau Center¹. Em alguns minutos posso ver a casa amarelo claro e portas e janelas de madeira escura. Parada na porta, aperto a campainha e quem me recebe é a Tia Carly, ela é muito parecida com a Amber, tem cabelos loiros ondulados, um olhar que traz paz e um sorriso contagiante ou ao menos era assim. Ao abrir a porta, Tia Carly me vê, e me dá um abraço. Apesar de esbanjar um lindo sorriso, seus olhos possuem manchas escuras e seu semblante parece cansado.

— Lena, você faz muita falta! Amber está no quarto.

Ando um pouco, atravessando o corredor e parando diante da porta cheia de adesivos de personagens da Disney. Ainda na infância minha prima fazia planos com o pai para ir para a Disney, mas nunca foram. Primeiro porque o pai mal tirava férias do trabalho e vivia adiando essa viagem e depois porque ele sumiu há 9 anos, simplesmente abandonou a família sem ao menos dizer tchau.

Eu viro a maçaneta da porta e assim que a mesma abre sinto o ar quente. As cortinas estão fechadas tornando o ambiente escuro e em cima da cama vejo Amber assistindo algo num smartphone. Ela não está me vendo então me aproximo e dou um pequeno pulo em cima dela a abraçando e falando alto:

— Amber! Por que me abandonaste?

— Helena? — Ela tenta dizer enquanto é esmagada por mim. Eu a libero e ela consegue se ajeitar sentado na cama e olhando para mim.

— Não está feliz por me ver?

— Estou... Só não esperava!

— Pois eu vim para ficar, meu amor, você se prepare que juntas vamos revirar o Canadá.

Ela solta um riso fraco diante da minha tentativa de descontração.

— Mami já me matriculou na mesma escola que a sua, e já fiquei sabendo que justo você não está comparecendo às aulas, fiquei chocada. Minha prima está rebelde, não é possível.

— Aí Lena! Eu nunca mais quero voltar àquele inferno! — Ela fica encarando as mãos.

— Você quer falar sobre isso? — Pergunto me acomodando melhor na cama.

Ela suspira e então me conta que no final do ano letivo anterior sua colega de classe Annie revelou para ela que seu namorado só estava com ela por pena após ter cumprido com uma aposta feita com uns amigos.

—... Ele nem falou nada, Lena, não se defendeu e no dia seguinte já estava de rolo com a Annie. Foi muito humilhante, tudo isso aconteceu na cantina, várias pessoas ficaram de plateia e depois ainda tive que ouvir piadas sobre ser chifruda. Quando comecei a namorar ninguém acreditava, me chamavam de sem sal, que pareço um graveto e que não estava à altura do Castiel.

— Ah, Amber! Eu queria ter estado aqui para te apoiar, eu sinto muito. Você é uma pessoa incrível, meiga, inteligente, sonhadora e caridosa, e acabou caindo nas graças de um macho escroto.

— Eu senti muito a sua falta! — Amber diz com a voz embargada e me abraça.

De forma inesperada meu nariz coça e começo a espirrar várias vezes seguidas.

— A quanto...tempo...você não...limpa...esse quarto? — falo pausadamente por conta dos espirros e no final sinto meu nariz entupido.

Amber ri da minha cara e depois de toda comoção e a ingestão de um antialérgico, optamos por ir até a sala de estar assistir Sing! Quem canta seus males espanta, típico estilo que Amber ama. Não se engane por ser animação, é um filme com uma mensagem bonita e uma ótima trilha sonora.

No fim das contas, acabei passando o dia inteiro fora de casa, nem me lembrei de atualizar as redes e acabei optando por dormir na casa de Amber. Minha prima já está dormindo enquanto eu continuo acordada, olhando para o nada e pensando: "preciso fazer justiça pela Amber."

Meus pensamentos viajam e quando percebo estou acordando no domingo.

De acordo o meu celular está fazendo 14° graus por aqui, espero que a Amber não ligue para o frio, pois pretendo ir às compras. Não pense que fico esbanjando dinheiro, meu pai sempre me deu limites e eu ainda estou dentro do meu.

Assim que me levanto e dou sinal de vida, minha tia me empresta uma roupa dela, pois as da minha prima não cabem em mim, ela é bem mais magra do que eu. Após meu banho, tomo café com a minha família e após isso, tenho a difícil missão de convencer Amber a ir às compras comigo.

— Por favor, não nos vimos a tanto tempo... Com certeza tem algum livro numa prateleira por aí precisando ser comprado, um milk shake a ser degustado e várias lojas para visitar.

— Fala sério Lena, por que você tem tantos argumentos?

— Filha de quem é, só podia ser mandona! — Tia Carly comenta e as duas riem de mim.

Consigo fazer a Amber sair de casa. Durante algumas horas, visitamos algumas lojas e até presenteei minha prima com um conjunto de roupa nova, ela estava passando por um luto de relacionamento, mas eu cheguei para trazer o arco-íris de volta. Nós conversamos muito durante a saída e descobri muitas coisas sobre a escola, o ex embuste e o projeto de Regina George do nosso colégio. Tinha que ter, né? Parece até que estamos num filme americano, mas me recuso a ser mais um clichê. 

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