Eu realmente não posso acreditar no que acabo de ouvir. É isso mesmo, ou estou tendo um pesadelo? Philip me disse que tem um bom motivo para abandonar a filha?
— Não vou te prometer nada! É muita audácia sua vim me pedir isso. Me poupe!
Seguro o violão e começo a andar em direção a casa, mas ele segura meu pulso fazendo com que eu pare. Puxo o meu braço com violência e ele o solta.
— Isso é sério! Se contar, vai ser pior!
Encaro ele nos olhos e lhe aponto o indicador.
— Não ouse me ameaçar!
— Isso não é uma ameaça. — Ele bufa. — Se ela souber a verdade, vai sofrer ainda mais.
Eu paro no mesmo lugar. Que tipo de verdade é essa que é pior do que mentir? Não, eu não posso trair sua confiança novamente. Se eu falar, ao menos ela terá o poder de decidir o que fará. Na primeira vez, não a deixei tomar as rédeas e nos ferramos por isso.
— Deixe que ela decida se quer a verdade ou não.
Dito isso, saio apressada para dentro de casa. A garoa fina e congelante do lado de fora contrasta com o calor de dentro de casa e me sinto aliviada.
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As horas passam voando e após o almoço, nos despedimos de Elouise e sua família para voltarmos para casa. O pai da Amber não falou mais nada sobre o assunto anterior, ele ficou quieto durante o almoço e seu estalar de dedos denunciou seu nervosismo. Aparentemente, sua atual esposa sabe de seu passado visto que não demonstrou nenhum sentimento de estranheza, surpresa ou irritação, nada.
Aliás, todos agiram como se não tivesse acontecido nada. Agora estamos no carro e a pulga da dúvida não sai de mim.
— Pai, todos vocês se comportaram como se o Philip não tivesse feito nada de errado. Qual o problema de vocês?
— A Elouise me contou sobre o passado complicado do seu cunhado. Eu só não imaginava que era o Philip.
— Todos sabem que ele abandonou a filha?
— Existe mais sobre essa história do que te contaram.
— O que ele fez? Achei que tinha simplesmente as abandonado. — Damian pergunta.
— Philip era viciado em heroína — eu arqueio as sobrancelhas e olho para o meu pai que está prestando atenção na estrada. — Chegou a vender coisas de casa, não aceitava ajuda e surtava com certa constância. Carly impôs a condição de que ele fosse embora e só voltaria a ver a filha se conseguisse parar com seu vício. No início, ele não aceitou e então ela conseguiu uma ordem de restrição, sua mãe a ajudou com isso, pois conseguiram provas de que ele era uma ameaça sob efeito das drogas.
— Caramba, então porque ele nunca voltou? Ainda é viciado? — eu estou em choque com essa revelação.
— Ele se livrou do vício há 5 anos, mas nunca conseguiu voltar para casa, pela culpa que sente e pela vergonha.
Para mim, está mais que claro que essa situação não justifica suas atitudes. Entendo que seja difícil, mas do que adianta ficar fugindo da verdade? Conhecendo a Amber, ela entenderia mais que o pai passou anos lutando contra o vício para conviver com ela novamente do que tê-la simplesmente abandonado, a rejeitado.
O clima pesa e a viagem segue em silêncio.
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Chegamos em casa em quase duas horas, mas eu realmente não quero mais esperar. Peço para o meu irmão que ele faça sua mágica para que a Amber volte a falar comigo. Ele inventa que ela deveria vir aqui em casa com urgência, dizendo que ele precisava conversar com ela e não poderia esperar.
Esperamos ela chegar no quarto do Damian. O lugar não mudou muito durante os anos, tem alguns porta-retratos, pôster de esporte, a mochila da escola largada em um canto e um casaco pendurado na cadeira.
— Isso aqui está uma zona!
— Está achando ruim, arruma pra mim!
Respondo lhe lançando o dedo do meio e ele ri.
Não demora e ouvimos o som da campainha. Em seguida, ouvimos alguém abrir a porta e o som de um sapato tocando o chão.
— O que pode ser tão urgente numa tarde de domingo, Damian?
Ela pára na porta assim que me vê. Damian a convida para entrar e ainda hesitante ela dá alguns passos à frente.
— Você começa, Helena.
Ela trava o olhar em mim e eu sinto minhas mãos suarem. Por onde eu começo? Sempre achei esse questionamento tão óbvio, mas agora entendo essa sensação.
— Ok! Vamos por partes! — respiro fundo — primeiro saiba que eu não queria te magoar, juro! Eu amo você como se fosse minha irmã e eu não pesei as consequências das minhas escolhas, sinto muito por isso. — Ela cruza os braços na defensiva. — Outra coisa, eu sei de coisas que você não sabe, mas eu cansei de esconder.
— Eu não te odeio, mas não posso esquecer o que aconteceu. Não depois de tudo o que passei. Ainda é recente.
— Tudo bem, mas, me escute. Por favor! — só de pensar que nada voltaria a ser como era antes, um nó trava minha garganta e meus olhos embaçam. Preciso me controlar para minha voz sair. — A aposta é uma farsa, o Castiel estava sendo manipulado, mas, eu prometi a ele que deixaria ele mesmo explicar. Então, o escute também, saber a verdade te fará bem.
— Por que você mesma não diz, já que ficaram tão próximos?
— Não somos próximos, Amber. Eu descobri por acaso. Enfim, a segunda coisa... é... bem....
— É melhor se sentar, Amber. — Damian indica um lugar da cama para ela se sentar e um tanto desconfiada, ela vai.
Eu respiro fundo, olho para ela e digo de uma vez:
— Nós encontramos seu pai no sítio da namorada do meu pai.
Ela pára no lugar, nem pisca direito e fica alguns minutos em silêncio.
— Amber? — Damian a chama, incerto.
Eu, com um aperto no peito, digo:
— Pelo amor de Deus, fala alguma coisa.
É então que Amber começa a rir e algumas lágrimas brotam dos seus olhos até que o riso se transforma em choro.
Eu vou até ela e a abraço sentindo seu corpo sacudir. Damian segura a sua mão e diz:
— Amber, é difícil, mas, estamos aqui com você.
— Como assim o meu pai está vivo? Eu cogitei a ideia de que estivesse morto, só para não acreditar que tenha me abandonado.
— Amber, seu pai cometeu muitos erros e só cabe a você decidir se quer vê-lo ou não. — Eu digo sem ter certeza do que deveria falar.
— Seja qual for sua decisão, iremos apoiá-la.
Amber chora muito e eu vou buscar uma água para ela se hidratar. Por um instante, duvido da minha decisão em contar o que aconteceu, a dor dela é tão grande. Eu gostaria de poder fazer algo para a dor sumir, mas não posso fazer nada além de aguardar que ela passe até porque nada dura para sempre.
Tudo que posso fazer é ficar ao seu lado. Mais tarde, tivemos que conversar com a Tia Carly e ela ficou em choque, mas disse que cuidaria de tudo. Ela não tinha notícias do ex há bastante tempo. Chegou a pensar que estivesse morto devido ao vício.
Essa noite vai ser difícil dormir sentindo esse peso no coração.
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CANCELADA |
Teen FictionDesde o início de sua vida, Helena demonstra um talento artístico natural e sempre foi incentivada por seu pai a investir no seu sonho de ser uma estrela. Desde que seus pais se separaram, Helena, mora com o pai em Nova York conciliando seus estudos...