Capítulo 11 - Conflitos

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Estou em cima do palco e a luz branca está focada em mim. Tento lembrar minhas falas, mas perco o raciocínio quando o vejo vindo até mim.

— Eu tenho que te confessar, minha dama. — O garoto se aproxima, envolve seus braços na minha cintura e aproxima nossas testas.

Não sou capaz de dizer nada diante do nosso encontro de olhares.

— Eu... Acorda, garota!

De repente abro os olhos e já não estou num palco, mas sim na minha cama quentinha. Meu coração ainda está acelerado por acordar tão de repente e ao olhar para o lado vejo meu irmão com um celular em mãos.

— Você está me filmando? — O encaro e vejo seu sorriso enquanto ainda me aponta o aparelho.

Esse idiota vai ver só, levanto da cama com pressa, mas, não dou um passo sequer, pois meu pé de alguma forma enrosca no cobertor e assim caio por cima do meu tapete e claro, começo a espirrar continuamente.

Quando termino de me recuperar, Damian já está fora do quarto e minha mãe aparece na porta questionando a situação.

— Agora não, mãe! — e fecho a porta na cara dela.

— Helena Martin Roy, mais uma dessas e eu te deixo sem porta!

Ela sai e tenho certeza que está irritada, assim como eu. Tenho vontade de chorar quando encaro meu pijama manchado de vermelho e vou direto tomar banho visto que não tenho outra opção além de ir para a escola. Que dia maravilhoso!

♫♫♫♫♫♫♫♫♫♫

Se eu dissesse que teve algo realmente interessante na aula de hoje estaria mentindo, o dia não poderia ter sido mais comum. Consegui ser dispensada da educação física, fazendo apenas um alongamento e me esforcei para focar nas aulas e não acabar repetindo em alguma matéria e parece que os outros também estão concentrados hoje ou talvez, apenas estejam viajando nos próprios pensamentos.

Já em casa, Damian e eu começamos a levar alguns materiais para nossa sala visto que em poucos minutos nossos colegas de trabalho devem começar a chegar. A campainha toca e eu vou atender, encontrando os meninos do lado de fora!

— Vieram juntos? Entrem!

— Nós moramos perto um do outro! — Castiel comenta enquanto observa a sua volta. — Casa bonita!

— Verdade! Nunca viemos aqui antes, quando o Damian não era da nossa grade, nos falávamos mais durante os treinos.

— Já que estão aqui vamos adiantar alguma coisa e esperar pela Amber.

Os rapazes se olham e parecem querer dizer algo, mas, simplesmente vão se acomodar no sofá e tiram suas mochilas das costas.

Só faz um ano e alguns meses que Damian não pode mais andar, mas parece que ele está nessa cadeira de rodas a uma eternidade.

O silêncio constrangedor foi ocupado pelo som da campainha e dessa vez é a Amber quem passa pela porta quando a abro. Tenho certeza que ela não queria estar vermelha igual a um tomate ao perceber a presença dos outros convidados e para incentivar minha prima a andar, entrelaço meu braço no seu e a guio até o sofá, fazendo ela sentar ao meu lado, ficando na ponta. Assim, ela consegue não ficar tão perto do Juan e, principalmente, do Castiel.

Com exceção da Amber, todos começamos a olhar uns aos outros e ninguém ousa tomar a palavra. Incomodada com toda essa situação julgo que eu mesma devo dar os comandos.

— Podemos fazer assim, vamos começar a pesquisar algumas referências e vamos anotar qualquer ideia para depois escolhermos a melhor e a mais viável.

— Fazer tempestade de ideias sempre funciona comigo! — Castiel abre sua mochila em busca de um caderno e todos começamos a pesquisa.

Pesquisar por arte e ciência no google me levou a alguns artigos, mas nada que fosse o suficiente para trazer ideias. Damian chega a sugerir que façamos algum sistema do corpo humano com material reciclado e Juan até pensa que podemos montar uma pequena peça e fazer alguns efeitos visuais ao vivo usando química. Mas, as sugestões parecem incertas e a segunda até perigosa, visto que o garoto sugere experimentos com produtos perigosos que ele viu no youtube.

— Achei! — Castiel fala alto, chamando nossa atenção. — Olha só essa, um artista de nome Sigalit Landau, colocou um vestido preto no mar morto e ele cristalizou!

O Castiel nos mostra as fotos do vestido que era preto ficou branco diante do processo de cristalização.

— É muito interessante, mas nós não estamos nem perto do mar morto! — Damian faz questão de ressaltar.

— Não mesmo, mas ainda temos sal, água e potássio. Ou ainda melhor, podemos usar pedra Ume... — Juan parece empolgado!

— Mas... — Interrompo o meu irmão antes que ele fale mais um empecilho.

— Ótima ideia! Podemos até comprar uma peça no brechó e transformar em algo totalmente novo com os cristais. Ou pegar algo que já temos!

Durante o resto do tempo que estamos juntos planejando o trabalho, busco manter as coisas no mínimo de paz possível. Damian mantém a cara de bunda e a única coisa que Amber faz a noite toda é dizer se concorda ou não. Normalmente, ela é uma nerd de carteirinha, mas está quietinha hoje.

— Olá, garotos! Preparei um lanche para vocês. — Judith aparece na divisória entre a sala e a cozinha e como estamos bastante adiantados decidimos ir apreciar a comida dela na sala de jantar mesmo, visto que lá fora está bastante frio.

Judith fez bastante chocolate quente, bolinhos de chocolate e até uma torta salgada. Imagino desde que horas ela está preparando isso e também já está escuro lá fora, já deveria ter ido para casa apesar de que amei que ficou um pouco mais.

Depois de terminar meu bolinho, decido quebrar o silêncio:

— Ei, garotos! Estão sabendo do meu show? Vocês deveriam ir, inclusive, seria super legal se você cantasse uma comigo, Juan!

— Adoraria! — Juan sorri mostrando suas covinhas e seus olhos brilhando.

— Eu não vou perder esse show! — Castiel diz.

— O meu pai conseguiu que eu vá cantar no Timmy's, aparentemente eles toparam uma parceria. Tem mais detalhes no meu IG.

— Por que você está sendo tão sem noção, Helena? — Meu irmão chama atenção de todos. Até a Amber arregalar os olhos e para no meio de uma mordida ao seu pedaço de torta.

— Ei cara! Você não precisa falar assim com a sua irmã! — Juan diz franzindo a testa.

— Fica na sua, Juan, você é outro babaca. Você e Castiel se merecem!

— Damian! Para com isso!

— Me poupe, Helena. Você é mesmo uma falsa, sabendo de tudo o que aconteceu, olha o que você está fazendo!

— Você está sendo um idiota!

— Da para ver a quilômetros o desconforto da Amber — ele aponta para a garota que está ainda mais vermelha se é que é possível e mantendo os ombros encolhidos — e não basta a professora nos colocar juntos nesse trabalho ridículo, você ainda se esforça para inseri-los ainda mais em nossas vidas!

— Vê se supera, Damian. Você não sabe de nada! — O Castiel finalmente toma a frente um tanto alterado.

— Finalmente descobriu a voz, seu covarde? Eu achei que tinha o mínimo de decência, mas me enganei ao ver tudo o que você aprontou com a Amber.

— Damian, já chega! — Amber está com a voz embargada e ao olhá-la percebo seus olhos marejados. Isso parece calar o meu irmão que ainda tem sua respiração pesada. Decido puxar minha melhor amiga para os meus braços, mantenho apenas um braço em torno dos seus ombros para que possa levá-la ao meu quarto longe dessa confusão.

Antes de sumir do campo de visão deles, eu olho para trás e meu olhar encontra os deles. Vejo Castiel respirar fundo e passar a mão no cabelo, inquieto, Damian não está mais xingando ninguém e o Juan me olha, mas desvia logo em seguida. Noto quando ele suspira e bate de leve no ombro do amigo e subindo o primeiro degrau da escada ainda posso ouvir um: " vamos embora!"

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