Não faz o menor sentido a Amber ter postado em seu perfil pessoal por engano. O post diz: " Provas de que a tintura já comeu o cérebro da Annie Keller". A frase está acompanhada da foto da Annie e na legenda, ao final do texto tem apenas o nome "Candy". Será que foi mesmo a Amber quem postou?
As pessoas já estão xingando minha prima nos comentários, de doida a vadia eu não sei qual comentário é o pior. Poucos são os que se questionam sobre a veracidade da publicação e muitos me cobram uma resposta. Meu direct também está bombando.
Meu coração dói. Me sinto mal por isso, mesmo depois de tudo que ela me fez passar com as fofocas. Eu suspiro e me perco em minhas memórias. Foi para ela que contei sobre meu primeiro amor, o primeiro beijo, minha primeira fã e até sobre o primeiro hater. Também ouvi sobre seus sonhos, seus medos e suas decepções disfarçadas de "está tudo bem." Algo mudou e acho que não a conheço mais. Quando foi que parei de conseguir entender a Amber melhor do que ela mesma?
Eu sei que não é nada fácil lidar com a crueldade das pessoas. E na internet é pior, pois todos se sentem numa terra sem lei onde podem falar o que quiserem. Amber me decepcionou, eu não deveria sentir compaixão.
O sinal toca, me tirando do meu devaneio e eu me assusto com o horário. Já é hora de comer? Minha barriga ronca e ainda cabisbaixa, sem prestar muita atenção, vou em direção ao refeitório. O caminho já virou automático para mim. Menos a parte em que alguém bloqueia minha passagem, me impedindo de continuar.
— Nossa, Lena, que cara de enterro. Que bicho te mordeu? — Annie me olha e franze as sobrancelhas, mas seu teatrinho é tão fajuto que não enganaria uma criança.
— Não enche, Annie! — reviro os olhos e tento passar, mas ela continua na minha frente.
— Eu te avisei que deveria escolher melhor suas companhias, não se lembra? Quem diria que a sonsa seria capaz de tudo aquilo, não é mesmo? É claro que esse tipo de coisa não me atinge, imagino que aquela pateta esteja só tentando chamar atenção.
— Se não percebeu, estou ocupada. Dá para me deixar em paz? Não estou com paciência para entrar no seu joguinho infantil.
Dou meia volta e vou andando para o lado oposto, assim, ela não consegue ser rápida o suficiente para me impedir de sair.
De qualquer jeito, o refeitório está lotado e eu preciso de sossego.
— Lena, espera!
Me viro e vejo Juan correndo em minha direção. Eu espero ele me alcançar e depois vamos andando em direção ao ar livre. O clima não é dos melhores para se estar do lado de fora, mas é o que temos para hoje.
— Sei que não é do seu jeito, ficar calada. Saiba que pode conversar comigo.
— Vamos nos sentar!
Nos acomodamos debaixo de uma árvore, encostados no tronco, próximos o suficiente para os nossos ombros se tocarem. Apesar do céu cheio de nuvens cinzas, não choveu hoje, então a grama ainda está seca e eu espero que as formigas não resolvam nos atacar.
— Eu não sei o que fazer. — Dou uma mordida no lanche levando algum tempo para continuar a falar — Está sabendo da última novidade?
— O Castiel me mostrou. Até agora ele está processando o que a Amber fez.
— Quem imaginaria, não é mesmo? Ainda bem que eu não fui a única com julgamento falho. — solto um riso fraco — O engraçado é que, ver os comentários no post fez eu me sentir mal, é horrível ler aquelas coisas. O que as pessoas estão dizendo é cruel, sem limites. Eu sou uma idiota por ainda ter um pouco de empatia pela Amber?
— Você não é idiota. Pode ser impulsiva, às vezes vingativa e até malvada de vez em quando. Mas, no fim, tem um bom coração. Vocês têm longos anos de amizade, por mais que tenham sofrido uma decepção enorme, não é fácil esquecer tudo o que já viveram antes.
Suspiro e deito minha cabeça no ombro do Juan.
— Talvez tenha razão, mas ainda não sei o que fazer ou não fazer.
— Entendo o seu conflito. Minha avó me disse uma vez que não devemos deixar que o que as pessoas fazem conosco, nos definam.
— Parece um bom conselho.
— Por conta de suas origens, meus avós já sofreram bastante preconceito.
— Isso é horrível
— Sim, é terrível. E mesmo sendo difícil, eles conseguiram continuar sendo fiéis aos seus princípios. O que eu quero dizer para você, Helena, é que não importa o que você escolher, desde que você escolha algo do seu coração, o que você realmente acredita.
A fala de Juan me faz ficar pensativa enquanto terminamos de comer. Ele olha a hora e avisa que temos que ir para a aula, nos levantamos e vamos para a sala.
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As aulas acabam e minha mãe vem nos buscar para irmos para casa. Dessa vez, está decidido. Não é uma grande atitude, mas não posso ficar calada.
Abro o meu story e começo a gravar:
— Imagino que saibam o que está rolando por aí. Não vou negar que estou profundamente decepcionada com as últimas descobertas. Mas tenho um pedido a fazer: chega de violência! Já parou para pensar como cada palavra atinge alguém? É muito difícil lidar com certas situações, mas xingar e humilhar não vai resolver nada. Além disso, alguém muito importante para mim, me disse hoje: Não deixe a atitude dos outros definir quem você é. Por fim, eu escolho ficar em paz, vou me recuperar com ajuda das pessoas que realmente me amam e espero que a vida ensine a todos a serem alguém melhor.
Depois de publicar, ouço batidas na porta do meu quarto e uma tentativa falha de abrir a porta que está trancada.
Vou abrir e vejo minha mãe do outro lado.
— Como está se sentindo hoje?
— Ainda estou chateada — sento na minha cama e minha mãe faz o mesmo.
— Vou conversar com a Carly hoje à noite. Mas, queria saber de você, vai querer processar sua prima?
Eu devia processar minha prima? Depois de tudo o que ela falou, talvez sim, ela deveria sofrer as consequências de seus atos, não é mesmo? Se fosse qualquer outra pessoa, eu não iria pensar duas vezes antes de processar.
— Quer saber? Talvez o processo não seja a melhor solução nesse caso. Mas tem uma condição: Amber vai ter que se retratar, apagar o perfil e procurar um tratamento urgente. Não estou dizendo que ela é doente ou algo assim, muito menos acredito que qualquer problema que ela tenha passado justifique suas atitudes. Mas, por consideração a tudo que já tivemos, eu prefiro que ela cure suas cicatrizes e seja alguém melhor. Já chega de vinganças.
— Tudo bem então.
Ela sorri e sai do meu quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos.
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CANCELADA |
Teen FictionDesde o início de sua vida, Helena demonstra um talento artístico natural e sempre foi incentivada por seu pai a investir no seu sonho de ser uma estrela. Desde que seus pais se separaram, Helena, mora com o pai em Nova York conciliando seus estudos...