Capítulo 31 - identidade

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Sento-me no vaso e fico balançando minha perna. Um frio percorre meu estômago enquanto encaro a tela, imaginando se a senha de Amber ainda é a mesma.

250204. Desbloqueado.

Que bom que ela tem uma péssima memória com senhas e busca sempre manter a mesma. Se bem que, depois de hoje, nem que tenha que anotar num bloquinho, ela é capaz de mudar.

Ignoro os gritos da Amber e as falas da tia Carly, continuando a abrir o menu de aplicativos, olhando um por um. Vários históricos estão apagados, assim como várias mensagens, seja do Instagram ou outros aplicativos que têm conversas. Mas não me aprofundo muito nessa parte, deixo para último caso. Levei um tempo, mas quem persiste, vence. O que posso dizer? Ela quase conseguiu esconder seu aplicativo de edições de mim, mas aqui está a edição do possível próximo post em andamento. Na imagem, tem a foto de perfil do Castiel e ao lado uma comparação entre meus stories do dia em que fizemos o trabalho de ciências e um print do desfile que aconteceu durante o meu aniversário. O post não está completo, tem apenas algumas informações. Posso dizer que será um carrossel falando do Castiel, questionando sua sexualidade, como se tudo que ele tivesse feito, na verdade fosse para forjar a imagem de "O capitão popular do colégio"

Por acaso ela pensa que todos nós vivemos numa espécie de clichê? Se fosse assim, ela deveria ser a mocinha, não a vilã. É isso, a minha melhor amiga que eu considerava como minha própria irmã, na verdade é uma adolescente amargurada, descontando sua dor nos outros. Sim, ela disse que não queria que eu me vingasse do Castiel, agora entendo que ela mesma já estava tentando se vingar de todos através de difamação.

A Amber é a própria maçã envenenada da Branca de Neve, e o pior é que eu a mordi. Acreditei em sua falsa ingenuidade até o último segundo. Agora mesmo, não tenho certeza no que acreditar, seria tudo isso um maldito pesadelo? Fui enganada pela pessoa que eu achei que conhecia tão bem quanto a mim mesma.

Destranco sentindo um nó na garganta. Amber avança e tira seu iphone das minhas mãos e eu sinto meus olhos embaçam em uma mistura de decepção e tristeza.

— Você tem noção do que fez Amber? O que você falou sobre mim, sobre o Damian! Quase me fez perder uma oportunidade! — Jogo algumas verdades.

— Calma, Helena. Do que está falando? — só então percebo que minha mãe já está aqui. Acredito que a Tia Carly tenha ligado para ela assim que cheguei.

— A Amber é a Candy mamãe! — minha voz sai alta e algumas lágrimas começam a cair. Por que sou tão chorona?

Minha mãe se aproxima, me abraçando:

— Deve ser algum engano, filha. Você está bem alterada, vamos para casa.

— Não! Só vou quando ela admitir! — enxugo as lágrimas com a manga do casaco.

— Amber, só mostra para ela que não tem como isso ser verdade. Ok? — tia Carly fala para a filha. A loira mais nova revira os olhos antes de prender seu olhar no meu:

— Cada um está lá porque merece! Não há nada que eu me arrependa. Não queria ser exposta? Era melhor ter pensado duas vezes antes de ter me apunhalado pelas costas. E no início, eu ainda tentei te proteger, não a envolvendo. Mas, você tinha que ir atrás e no fim, acabou me traindo. Se quer saber com todas as letras: Candy é o meu alter ego, meu docinho.

Ouvir cada palavra dita, torna tudo real e eu me sinto paralisada. Ela ainda confessa tudo com tanta segurança, deixando até mesmo nossas mães em choque.

— Amber, isso não pode ser verdade. Está dizendo isso porque está com raiva depois da briga com o seu pai? Por favor, me diz que não tem feito cyberbullying até com sua família. — Tia Carly fala rindo de nervoso.

Amber nega. Ela sabe que não tem mais como voltar atrás. Minha mãe fala algo com Tia Carly que eu não presto atenção, pois ainda estou processando as informações. Como chegamos até aqui?

Minha mãe me guia para fora e entramos no carro. Não falamos nada durante o caminho e minha mente é inundada pelas falas de Amber. Elas ficam se repetindo e me ferindo mesmo depois que chego em casa, continuam quando visto meu pijama, se repetem quando deito na cama e tento dormir.

♫♫♫♫♫♫♫♫♫♫

Um novo dia começa, o choque inicial foi embora com a noite anterior. O que me resta agora é a vontade de dar a volta por cima, quem diria que a facada nas costas poderia vir de qualquer um?

— Vou conversar com a Carly hoje. Eu nunca imaginei que estaria numa situação assim, sendo outra pessoa eu já estaria dando início a um processo. — minha mãe comenta, enquanto dirige em direção a escola.

— Quero só ver se ela terá coragem de ir para a escola hoje! — fico imaginando o que faria ou falaria depois do que descobri ontem.

— Eu espero que você fique na sua, Helena. Você já tem advertências o suficiente. Fique de olho na sua irmã, Damian.

— Ótimo! Sobrou para mim.

Minha mãe para o carro em frente à escola e nos encara:

— Estou falando sério. Deixem que de agora em diante, eu vou resolver isso.

Assentimos e descemos do carro. Vamos entrando na escola e presto atenção à minha volta, não demora e meu olhar cruza com o da Amber. Ela veio.

Depois da decepção de ontem, tudo que sinto agora é raiva. Que circo todo foi esse que ela armou? E para que?

— Uau, Lena. Se for matar alguém avisa que eu saio da frente. — Castiel já chega com suas gracinhas ao lado de Juan.

Bufo impaciente.

— Aconteceu alguma coisa? — Juan pergunta.

— Apenas descobrimos a identidade da Candy — Damian chama a atenção dos garotos para si. Os amigos se aproximam, atentos. — É a Amber! — Meu irmão sussurra.

— O que? — Castiel fala mais alto do que deveria e seus olhos saltam.

— Cala a boca, linguarudo! Se mais alguém souber, nem sei o que pode acontecer.

— Depois de tudo, ainda está preocupada com ela, Lena? — O questionamento de Juan me atinge em cheio. Eu ainda tenho alguma consideração pela Amber?

O sinal toca, cortando o meu raciocínio. Suspiro e procuro em meu cérebro que dia é hoje. Juan apoia a mão em meu ombro e me olha nos olhos antes de perguntar:

— Como está se sentindo?

— Vou sobreviver! — sorrio fraco e vamos andando juntos até termos que nos separar.

Entro na sala e escolho onde sentar. Mal posso acomodar minhas coisas e ouço meu iphone apitar. É melhor eu colocar no silencioso.

Deveria apenas clicar em algumas funções, mas várias notificações iguais me chamam atenção. "Você foi marcada..."

Percebo que alguns colegas também mexem em seus aparelhos e resolvo que uma olhadinha não faz mal. Aproveito a distração do professor, que organiza seu material, e clico na notificação. Uma imagem é aberta revelando a cabeleira loira da minha prima, sua foto está acompanhada de um título: "Revelada a identidade da maior fofoqueira do ano."

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