Capítulo 25 - O clima esquentou

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Nem ligo se meu braço está doendo com as unhas da Annie cravadas em minha pele, a raiva adormece meu tato e eu a encaro de frente.

— O que pensa que está fazendo? Me solta agora! — tento puxar o braço em vão.

— Como você descobriu sobre o meu passado, ein?

Ela grita descontrolada e imediatamente, o vídeo que rodou na minha festa me vem à mente.

— Não fui eu que fiz aquele vídeo!

— Oh! Ele mágicamente apareceu na sua festa, cuja escola toda foi convidada. Admite logo que você é a Candy ou mandou o vídeo para ela?

Não acredito! O vídeo foi parar na internet?

— É muito engraçado ver você falar de si mesma na terceira pessoa.

— Eu não sou covarde, querida, não me escondo atrás de fake.

— Mas é covarde o suficiente para fazer bullying na escola. Quem seria você sem todas as mentiras, pequena Annie?

Ela trinca o maxilar, expirando forte e em questão de segundos sinto minha bochecha arder e o barulho de estalo atinge os meus ouvidos. Não estava esperando o tapa no rosto, mas não vai ficar por isso mesmo.

Eu fecho o punho direito e lhe acerto, fazendo com que a cabeça da garota tombe, levemente, para trás. Ouço incentivo de alguns alunos, mas não presto atenção no que eles estão dizendo, só vejo o sangue escorrer do nariz da Annie, ela me olha com ódio e por pouco, consigo desviar do segundo golpe. Ela ia tentar outra vez, entretanto Castiel e Juan ficam entre nós duas.

— Você está bem? — Juan me pergunta, enquanto tento controlar a respiração e Castiel segura Annie, que está esperneando e arranhando seus braços. Coitado, isso vai deixar marcas.

— Eu acho que sim.

Ele olha para o meu braço e diz:

— Vem! Vamos sair daqui. — ele passa o braço por trás dos meus ombros e me guia até a área externa do colégio.

Chegamos ao vestiário masculino vazio.

— Por que me trouxe aqui?

— Fica tranquila, só vim pegar um kit que os jogadores usam quando se machucam no treino.

Eu me sento no banco e enquanto ele vai buscar o tal kit, eu analiso o ferimento no meu braço. Nada alarmante mas, a unha da Annie acabou fazendo um pequeno corte no meu braço.

Juan volta e senta ao meu lado. Ele abre uma caixinha branca e tira uma gaze de dentro, molha com soro e passa no ferimento. Eu o observo todo sério e concentrado, limpando a ferida e não consigo conter um sorriso.

— Já é a segunda vez que cuida de mim. Achei que não gostasse de mim.

— Eu gosto. — ele fala distraído, mas logo pigarreia e parece desconcertado. — Gosto de ajudar os outros. — suas bochechas ficam vermelhas.

Juan molha outra gaze com um remédio que não sei qual é, mas é um líquido laranja. Não arde, mas deixa minha pele toda manchada. Minha mãe com certeza vai perguntar o que houve, isso se ninguém da cantina já não foi avisar ao diretor.

Paro de encarar meu próprio braço e olho na direção do Juan e nossos olhares se encontram. Vejo suas pupilas dilatadas e ele não se afasta, eu o entendo, também não sinto vontade de me afastar, muito pelo contrário. Levo uma das minhas mãos até o seu pescoço e percebo sua pele se arrepiar, ele hesita, mas abraça minha cintura e me puxa para mais perto, me fazendo prender a respiração.

Foda-se tudo! Só quero viver o agora e o resto me preocupo depois.

Nossos lábios se tocam e em questão de segundos conseguimos entrar em sincronia. Acabo de descobrir que sua boca tem gosto de hortelã, seu cabelo é macio e ele tem sensibilidade ao toque na nuca. Temos que nos afastar e antes de ficar completamente longe, sinto uma leve mordida no meu lábio inferior e quando abro os olhos, encontro sua íris me olhando com atenção.

— Eu sinto muito — Juan diz e meu coração gela. — pelas besteiras que eu te disse.

— Você não foi o único!

Como tudo isso aconteceu? Cheguei ao Canadá, com um único objetivo de participar de uma peça de teatro e, de repente, tanta coisa acontece. Esse garoto era para ser como outro qualquer, mas meu coração diz que não, ele é diferente, ou melhor, me faz sentir diferente. Eu não estou me iludindo atoa, estou?

Eu devo perguntar, chega de indagações particulares na minha cabeça.

— Eu preciso ouvir de você, o que me disse depois da confusão com o Castiel, foi uma falácia do momento?

— Falácia? Parece que está pegando o vocabulário da peça.

— É sério, Juan. Me diz: o que você realmente sente por mim? — Olho no fundo de seus olhos em busca de respostas.

— Eu não devia ter dito aquilo... Na verdade...

Juan é interrompido por um barulho que chama nossa atenção, como se alguém tivesse esbarrado num objeto que arrastou. Juan se levanta olhando para os lados e eu faço o mesmo. Será que tinha alguém nos vendo ou chegou agora? Melhor não pagar para ver. Olho para o garoto ao meu lado e não preciso dizer nada, nos movimentamos com cuidado, observando os cantos até conseguirmos sair correndo pela porta.

Corremos ao máximo. Só paramos quando vemos que já está longe o bastante do vestiário. Eu paro, sem fôlego, me apoiando numa árvore e Juan também respira com dificuldade.

— Será que viram a gente? Seria detenção na certa! — Juan diz.

— Vamos ficar bem! — eu digo tentando me convencer disso também.

O sinal toca e Juan estende a mão para mim.

— Temos aulas juntos nesse horário!

Eu pego sua mão e entrelaço os dedos nos seus, começamos a andar até a sala e soltamos as mãos quando chegamos. Todos os alunos já estão presentes e nos olham com malícia, imediatamente, sinto minhas bochechas esquentarem e corro para me sentar no meu lugar.

Castiel, sentado na cadeira ao lado da minha, cochicha:

— Não me deixa curioso! Vocês ficaram ou não?

— Vai se ferrar, Castiel. Presta atenção na aula. — Volto a encarar o quadro mas, um sorriso escapa dos meus lábios.

— Eu sabia, seus danadinhos! — ele diz, e é repreendido pela professora. O adolescente é obrigado a voltar sua atenção para a aula.

É inevitável, a explicação sobre mitocôndrias é substituída, no meu cérebro, pela lembrança do beijo.

— Helena Martin! — Ouço a voz alterada da professora e a vejo bem ao meu lado.

Meu coração está acelerado devido ao susto e espero que a vergonha que acabei de passar não tenha sido tão grande.

— Sim, senhora.

— O diretor te espera na sala dele.

Ai meu deus! E agora? Será que ele sabe do beijo? E se for por causa da briga ou pior, será que ele chamou a minha mãe? Ela já sabe da minha visita ao vestiário masculino? Estou perdida! 

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