Capítulo 1 - De volta ao Canadá

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As notas soam pelo ambiente e não preciso ver as teclas, apenas senti-las e em harmonia elas se transformam em Believe da banda imagine dragons.

Respeito os clássicos, mas amo tocar músicas contemporâneas no piano.

— Maravilhosa como sempre, Helena. Na próxima aula vamos treinar o violão! — Minha professora de música diz sorrindo e depois vai arrumar seus pertences.

— Você é muito gentil, senhorita Hall!

Meu iphone toca e vejo a foto de um homem de cabelos pretos, usando seu traje esporte fino na tela. Atendo imediatamente.

— Olá, minha pequena estrela! Tenho novidades!

— Oi Papis, qual a novidade? — não contenho meu sorriso e sinto um frio na barriga.

— Te espero no Starbucks em frente ao instituto, pequena.

Ah! Tinha que me deixar curiosa. Assim que meu pai se despede no celular, eu pego minhas coisas e saio do instituto, é só atravessar a rua e finalmente chego ao meu segundo lugar favorito aqui em Nova York, o primeiro lugar está ocupado pela broadway. Muito mais do que assistir a peças, eu amo atuar e faço isso desde os seis anos.

Entro na Starbucks e ao olhar adiante, vejo meu pai concentrado em digitar algo em seu celular. Eu chamo sua atenção e então ele sorri pedindo para que eu me sente.

— Estou muito curiosa, preciso saber o que tem a me dizer!

— Não vai pedir nada para comer?

— Por favor, papis, não me enrola!

— Tudo bem, você venceu! Você tem uma nova proposta — olho para ele esperando que continue e meu coração acelera — Você foi convidada a interpretar uma protagonista em um musical!

Eu não me contenho e solto um grito o que foi o suficiente para chamar atenção das pessoas curiosas à minha volta.

— Qual a peça? Quando começa?

— É uma adaptação de A dama e o vagabundo e os ensaios começam em breve para ter a estreia ainda esse ano. Tem apenas um porém...

— O que? — Franzo a testa e sinto um aperto no peito.

— Tudo isso se inicia no Canadá, mais precisamente em Ottawa.

— Isso quer dizer que voltarei a morar com a mamãe?

Não, eu não tenho problemas com a minha mãe. Sempre volto ao Canadá durante as férias e feriados, a não ser nesse último verão o qual não pude ir. Minha mãe é uma advogada renomada na minha cidade natal e meu pai um empresário de artistas, são duas pessoas com personalidades bem distintas, vai ver foi por isso que se separaram e resolveram ser apenas amigos. Eu moro com meu pai desde os doze anos já que ele é quem mais incentiva minha carreira e meu irmão mais velho mora com a minha mãe.

— Eu acredito que seja melhor assim, pois terei que fazer viagens com frequência. — meu pai diz.

— Ah! Eu entendo! É uma oportunidade única, não é mesmo?

— Com certeza! E como sempre, pequena estrela, você vai brilhar.

Ouvir essas coisas aquece o meu coração, imagino como será conviver com a minha mãe dizendo para ter outra profissão mais "normal".

Pelo menos, vou poder estar mais perto da Amber. Da última vez que nos falamos por telefone, ela não parecia bem, as férias mal tinham começado e para alguém que estava radiante e ansiosa para me contar novidades, ela mudou completamente seu semblante e tom de voz. Parece deprimida.

***

Alguns dias se passaram, e já até dei um spoiler sobre a minha mudança no Instagram. Eu não sou uma Ariana Grande da vida, mas já tenho meu próprio e pequeno fã clube que me acompanha nas peças e nos pequenos shows. Meu objetivo principal é ser chamada para participar de um grande filme. Me imagino interpretando algo como Rose no Titanic ou quem sabe me desafiar a interpretar uma grande vilã. #Hollywoodmecontrata.

— Helena! Vamos nos atrasar, o avião decola às oito em ponto. — Meu pai fala após bater na porta.

— Só um minuto — falo, terminando de amarrar meu tênis.

Abro a porta do meu quarto e meu pai encara minhas quatro malas expostas antes que ele diga, eu já adianto:

— Hoje levarei apenas essa maior, as outras vão junto com a mudança.

A maioria dos móveis vão continuar aqui no nosso apartamento, mas tivemos que encaixotar alguns pertences para levar a Ottawa como a minha escrivaninha e a minha maleta camarim com a qual não vivo sem. Juro que se desse para levar meu closet, eu o levaria.

Antes de sair de vez do apartamento, dou uma última olhada e lembro de tirar uma última foto no espelho da sala postando nos stories logo em seguida.

Enfrentamos o trânsito até chegar no aeroporto e depois de alguns minutos de espera entramos no avião. É só entrar que eu já sinto o sono chegar.

Abro os olhos quando meu pai me cutuca informando que chegamos. Sinto um friozinho na barriga. Como será voltar a morar aqui?

O outono é bem marcante por aqui. Passando de carro pelas ruas de Ottawa percebo algumas árvores com suas folhas, aos poucos, mudando de cor. Amo essa época do ano.

O táxi que pegamos ainda no aeroporto para em frente a uma casa que exibe um pequeno gramado bem aparado na frente, porta e janelas de madeira branca com vidraças e suas paredes são de tom azul pastel.

Essa é a casa da minha mãe.

— Um dólar pelos teus pensamentos! — Meu pai aparece no meu campo de visão e só então me dou conta que "desliguei" da realidade por um tempo.

— Só estou me dando conta que vou morar com a mamãe novamente.

— Vai ficar tudo bem, amor!

Nós vamos até a porta e tocamos a campainha que soa estridente. Ouço o som do trinco mexendo e finalmente a porta é aberta, revelando uma mulher loira e elegante, a minha mãe, Doutora Ariel Martin .

Antes de ser convidada a entrar, ela me abraça e cumprimenta o meu pai que vai buscar as malas.

— Lena! — Damian fala alto chamando minha atenção, vou até ele e me curvo para abraçá-lo.

As pessoas insistem em perguntar se Damian e eu somos gêmeos por termos o mesmo tom de castanho em nossos olhos e cabelo, geneticamente adquiridos através de nosso pai. Apesar disso, o meu irmão é um ano mais velho do que eu. Ele ama esportes radicais e há um ano sofreu um acidente que o impossibilitou de andar, ele passou muito tempo internado por complicações devido a uma infecção e acabou perdendo um ano na escola, então está no mesmo ano escolar que eu.

— Senti sua falta Dan! Cadê a Amber? Começou a namorar e não me liga há dois meses, está estranha...

— Então... — Dan fecha o semblante me deixando preocupada.

— O que aconteceu com Amber, Damian? 

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