Cap. 11 - A Ascensão do Bispo -

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Cap. 11 – A Ascenção do Bispo -           

- Já cansou?

Kurt arfafa compulsivamente, em pé, descalço na areia do mar, as mãos nos joelhos, o corpo arqueado. Sentia o suor brotar do seu couro cabeludo e de sua testa, escorrendo pelas têmporas e bochechas, gotejando e criando vários pontinhos escuros na areia. Levantou os olhos e viu contra o sol a silhueta de Cortez, com as mãos na cintura e um tanto ofegante, sorrindo com camaradagem.

- Vamos lá Kurt. Não acredito que esteja assim tão sedentário.

- Eu fazia filosofia, o que você acha? – Rosnou e se pôs ereto, tirando o suor do rosto com as costas da mão. – Me dê um crédito, estamos correndo as quatro da tarde na praia, a areia até quente ainda está.

Cortez se aproximou e o abraçou pelo ombro, apontando um vendedor de coco a quase um quilometro. Deu dois tapinhas nas costas do Bispo e começou a trotar sem muita presa, até que Kurt o acompanhou e finalmente Cortez disparou a todo gás, a areia subindo em pequenas explosões.

Kurt não conseguia entender de onde vinha tanta energia, mas tentava vencê-lo ainda assim, precisava superá-lo. Chegar aos seus pés não era aceitável, precisava ganhar. Antes mesmo que Kurt pensasse na vitória, Cortez já comprava dois cocos, o senhor já de idade e com um sorriso amigável o cortava e o furava na máquina.

- Não há problema nisso Kurt. – Disse um Cortez que nem mesmo ofegava quando Kurt se aproximou. – Todos os dias viremos para cá correr. Vamos tirar o atleta que há dentro de você a força.

- Ah é. – Respondeu descrente. – Eu morro antes disso acontecer.

- O que eu falei para você? – Segurou o coco a uma distância que Kurt não alcançava. – Não falei que você pode tudo? É capaz de tudo?

- Dá esse coco para cá! – Tentou pegar das mãos de Cortez sem sucesso, a sede secava a garganta e lhe deixava profundamente irritado. – Vamos! Para de ser criança! Estou morrendo de sede!

O senhor de idade só sorria vendo os dois. Essa juventude, tão moderna.

- Vamos tirar o atleta de dentro de você ou não?

- Vamos! – Saltou e Cortez levantou o coco, o driblando como um toureiro. – Qual é? Eu disse que vamos!

Cortez segurou o coco daquela forma e depois entregou para Kurt, o sorriso de dentes brancos e alinhados brotando como uma flor de rara beleza.

- Tá certo. Mas se amanhã você falar qualquer coisa negativa, eu vou fazer você tomar agua do mar. Falando nisso... – Apontou o mar calmo e riu. – Você sabe que ainda falta a natação, não é?

- Eu sei. – Deu de ombros. – Eu aceitei isso, não foi?

- No momento que colocou as mãos naquele Mercedes, para lhe falar a verdade.

Kurt começou a se arrepender da decisão, sentindo toda a dor física que aquele exercício lhe proporcionou. As panturrilhas eram as piores, queimavam de dentro para fora, parecia que um pequeno inferno acontecia ali e o ardor ia subindo para sua coxa e para seus pulmões, até mesmo sua respiração estava ardida e arranhada. O primeiro gole da agua de coco gelada foi como um presente, algo a muito esperado que finalmente seus pais lhe dão, embrulhado em um papel colorido, dizendo “abra abra” e você abre, rasga sem esperanças, imaginando mais um par de meias ou uma cueca, quando na realidade é aquele tão sonhado brinquedo.

Foi a melhor agua de coco que Kurt bebeu em sua vida.

- Vamos! – Largou o coco na lixeira e correu para o mar. – Venha Kurt! Ainda nem começamos!

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