Cap. 21 - Xeque -

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Era uma manhã ensolarada e quente, os pássaros cantavam animados o alvorecer de um novo dia. Ao longe ainda podiam ouvir o som de carros passando na rodovia, mas a melodia dos pássaros e o som da mata sobrepunha os ruídos roucos dos automóveis. O rapaz que caminhava na estreita trilha da mata ainda sofria pela morte de sua amada, o chapéu amarelo enfiado nos cabelos ruivos, a aba escondendo seus olhos verdes e seu olhar focado na estrada de terra eram sinais de que Tod estava longe de se recuperar de sua perda. É claro, todos nós nos consideramos protagonistas de nossas histórias, ele nunca imaginou perder sua amada assim, da noite para o dia, como se ela não fosse nada mais que gado. E foi o que aconteceu, infelizmente, pelas mãos da Rainha Branca. Naquela manhã em que finalmente conseguiram contato com Kurt, Cielo não voltou para casa.

Sentou em um banco de madeira maciça, um tronco cortado ao meio para servir de banco e de apoio, e tirou a carteira do bolso. Nela havia a única foto que tinham, polaroide, que Cielo insistiu em tirar de dias mais felizes. Na foto, Tod estava vestido com roupas normais, uma bermuda e uma camisa polo vermelha, Cielo usava um vestido branco e estava abraçada a Tod, a imagem capturada no movimento de seu pequeno salto para abraça-lo. Ficou ali, agora para sempre, a única recordação física de sua amada.

Isso era ruim, o luto pode fazer mal as pessoas, assim como a sua falta. O luto deve ser algo regrado, medido e harmonioso, qualquer falta ou excesso é prejudicial, o único problema é que Tod tinha a certeza de que nunca mais encontraria nenhuma mulher digna de ser sua, de ao menos chegar aos pés de sua habilidade e capacidade. Ninguém que poderia ser sua Rainha.

- Perdido em pensamentos, amigo? – Tadeu falou ao chegar sorrateiro no caminho, saindo da mata com um rifle de caça na bandoleira. – Não encontrei nada de bom, apenas coelhos.

- Imaginei. – Engoliu seco, nervoso. Foi a primeira vez que não ouviu alguém se aproximar dele. Guardou a carteira e cruzou os braços, o chapéu abaixado, os olhos fixos nos próprios pés. – Vai continuar a caça?

- Não adianta. – Tirou o rifle e sentou jogando o peso do corpo no banco, ruidoso como um hipopótamo. – Ah! Mas que inferno, vou ter que comprar carne hoje. Mas me diga Tod, Salvatore ainda está lá na beira do lago?

- Sim.

- Nunca vou entender essas coisas de vocês, essas meditações e coisas que vocês fazem e...

- Sim Tadeu, você nunca vai entender.

- Bem, já vi que você está um saco hoje. – Levantou tão ruidoso quanto sentou. – Eu vou... Para qualquer lugar. – Deu de ombros. – Qualquer lugar é melhor que aqui de qualquer forma.

Sozinho mais uma vez.

...

- Kurt estava com o Rei Branco, digo, o verdadeiro.

- Bem, isso apressa as coisas.

Megami estava sentada à uma mesa redonda de mármore branco, a sua frente Alessa a encarava sem expressão. O cheiro de comida do restaurante era singular, uma mescla de especiarias e sofisticação. A pouca clientela do ambiente era silenciosa e composta em sua maioria de executivos ou homens de negócios, nada de famílias, crianças barulhentas ou conversas sobre futebol. O ambiente era totalmente estéril, cinza e branco, branco e preto, nenhum detalhe colorido, nenhum adicional para atrair a atenção de famílias inteiras ou crianças, nada de sorvete, parque ou promoções de "quem come mais". Até mesmo o estacionamento era reduzido para o número de carros igual ao número de mesa, dez apenas.

- Eu não sou seu Gaja, mas não posso deixar de comentar. Porque faz tanta questão de manter Kurt às cegas? Não vê que isso só dificulta as coisas para você? Se a ideia é mesmo de torna-lo um Rei, o que falta?

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