Cap. 6 - Guiseppe Buscetta -

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(N.a: Lê-se Guiseppe  “Busqueta”)

Palermo, Itália, 1970.

Era um dia ensolarado em Palermo, mas ainda assim, nuvens de chuva se formavam no horizonte como um presságio das tragédias que estariam por vir. O Buick marrom deslizava lentamente pelas ruas asfaltadas e coloridas da cidade, seu motorista, um homem de quarenta anos e um sorriso de vinte no rosto, acenava para conhecidos e desconhecidos fumando alegremente seu cigarro.

O motivo de sua felicidade? Sua mulher estava grávida, e minha nossa senhora, já havia quatro meses!

Havia tido essa notícia só agora, já suspeitavam é claro, mas só hoje o médico disse com toda e absoluta certeza e isso ganhou o dia daquele motorista alegre, o cigarro queimando entre os lábios, os olhos azuis safira refletindo todo brilho daquele dia ensolarado.

Parou em uma barbearia, precisava tirar os pelos do rosto e o cabelo que já se esticava para a nuca e acima da orelha. O lugar cheirava a homem suado, mas aquele cheiro acre era sobreposto pelo doce aroma do creme de barbear e pelo aconchegante cheiro do tabaco. Na rádio, uma música de Gatemouth tocava brincalhona, Did you ever love a woman, uma música americana, pensou o piloto, mas de qualquer forma, agora com a guerra acabada e enterrada, deixe que os ianques toquem no meu rádio.

- Grande Joseph! – Disse o piloto e arreganhou os braços em um saudoso abraço. – Como anda o barbeiro mais bonito de toda Palermo?

- Ficando mais feio a cada dia que passa! – Riu e deu um beijo em cada lado do rosto do piloto, a barba pinicando seus lábios. – Então, fiquei sabendo que Roseta carrega um pequeno grande homem na barriga!

- Pois soube certo meu querido Joseph, pois soube certo. Quero que me deixe o mais bonito possível hoje! Vou levar Roseta para jantar em comemoração!

- Olha... – Joseph, que era um homem de grande porte e grande barriga, alisou o queixo redondo com os dedos gordos e sorriu apresentando uma felicidade genuína. – Mais bonito impossível! Só se você voltasse a ter vinte.

- Que nada, homem quanto mais envelhece, mais bonito fica.

- Fale isso para o Tommy aleijado no fim da rua. Aquele velho fica, cada dia que passa, mais azedo e mais feio.

- Foi a guerra amigo... – Disse, o sorriso se desfez brevemente enquanto as recordações o atingiam. – Mas enfim, vamos lá?

O piloto sentou na cadeira verde-abacate, alisou a barba a fazer, comprimiu os lábios para a esquerda, depois para a direita. Fez cara de feliz, cara de brabo e cara de apaixonado. Riu de si mesmo, Joseph o acompanhou enquanto escolhia a tesoura certa.

O dia estava lindo, até que ela chegou.

...

- Quanto lhe devo?

- Para você futuro pai, esse foi um presente meu.

- Bondade sua Joseph.

Passou a mão nas laterais da cabeça, o cabelo ralo, o penteado com um leve topete, as bochechas sem um fio de barba sequer. Se achava bonito, renovado e um verdadeiro conquistador. Ajeitou a jaqueta de couro nos ombros, a camisa branca impecavelmente limpa e a corrente pendurada no pescoço, havia duas dogtags ali, uma delas tinha o nome “Salvatore” e no outro havia...

- Guiseppe... Finalmente eu lhe encontrei. Guiseppe Bishop Buscetta.

A mulher usava um longo e justo vestido preto, seios fartos e um corpo invejável até mesmo pela atual juventude e seus valores estéticos. Os cabelos ruivos e ondulados iam até os seios, usava um chapéu também preto, uma pequena rede lhe cobria metade do rosto, o olho verde esmeralda reluziu quando levantou a aba do chapéu e sorriu em carnudos lábios vermelho sangue.

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