Cap. 20 - O Fim da Omerta -

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Sem dúvida foi uma estranha sensação para Kurt dirigir um carro mais caro que as casas daquela cidade. Fazia tão pouco tempo que não andava por aquelas ruas, mas agora tudo parecia diferente, tudo tão estranho, tão alheio ao que suas memorias recordavam. Estava tudo igual, exatamente como ele havia deixado. Passou a ladeira que levava ao seu último colégio de ensino médio, os mesmos muros brancos com letras de forma azuis pintadas em cada divisão do muro de cimento, dizia "CENTRO DE ENSINO MÉDIO ROBERTO ANTUNES", era realmente um longo muro. Viu dois professores conhecidos conversando no portão de entrada, fumando cigarros despreocupadamente.

Fez a esquina, seguiu as ruas recheadas de oficinas, mini mercados e estranhos escritórios de advocacia, clinicas ou academias, todas modernas em meio a antiga estrutura da velha cidade. Via aquilo com assombro, com outros olhos, como um estrangeiro de outro país, de outro mundo talvez. Continuou até acessar a rodovia e contornou, subindo e descendo a estrada inconstante, ladeiras e subidas, resultados de pouca preocupação em aterramento ou planejamento urbano.

- Cidade esquisita. – Resmungou Acqua do banco de trás.

- Praticamente toda cidade pequena do Brasil é assim, meio esquisita.

O carro atraia olhares, muitos olhares. Praticamente todas as pessoas na rua olhavam aquele carro de luxo passando, muitos apontavam e comentavam entre si. Era estranho ser o centro das atenções por causa de um item, e ainda por cima, por causa de algo tão sem valor como um bem material. Passou pela praça onde a pequena prefeitura foi estabelecida, pintada de verde e amarelo recentemente graças a copa de 2014. É uma pena que o Brasil tenha perdido de vergonhosos 7x1 para Alemanha, Kurt imaginou como ficou o humor das pessoas depois de tamanho empreendimento na pintura, jurando que o Brasil seria campeão na própria terra. Bem, não foi isso que aconteceu.

- Falta muito? – Acqua perguntou.

- Não, é logo ali, - respirou fundo, uma bafora nervosa. – A casa dos meus pais é aquela de muro verde. Meu Deus, vai ser realmente estranho esse encontro.

- Eles não fazem ideia, não é?

- Não. Talvez meu pai, pelo que me contaram, venha a ter alguma ideia de onde me meti, minha mãe certamente não.

Parou a BMW em frente da casa e tocou a campainha, não demorou muito para que fosse atendidos, não por seu pai ou sua mãe, mas por Emma. A garota loira, cabelos presos em um rabo de cavalo tosco, rosto suado e camisa regata. Seus olhos castanhos arregalaram ao ver Kurt, seu amigo Cortez e a garota de cabelos emaranhados e esquisitos, Acqua.

- Olá Emma. – Disse. – Meu pai está em casa?

- Se seu pai está em casa? – Começou, com lágrimas nos olhos. – É isso que tem a dizer depois de todo esse tempo? Se seu pai...

- Emma, cale a boca. – Seus olhos brilhavam, safiras inexpressivas e focadas. – Vou repetir a pergunta, dessa vez, por favor, me responda. Meu pai está em casa?

Ela engoliu seco, seus olhos correram de um lado para outro.

- Sim, ele está.

Eram olhos de cordeiro.

- Chame-o para mim.

A garota deu as costas e deixou o portão da casa aberto. Kurt pode ver o pequeno quintal com duas palmeiras e a casa de cachorro vazia, já havia um bom tempo, além de pequenos pedregulhos de terra avermelhada. A casa, a mesma, paredes azuis, janelas pequenas de ferro branca. Era uma casa simples, não era cara, não era barata, comparada com o suor do pai de Kurt, e ele sabia disso, mas sabia também que se Gasparetto tivesse feito outra escolha, tudo poderia ser diferente.

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