Cap. 17 - A porta aberta -

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- Você não é um rapaz muito esperto Kurt. — Resmungou Brock.

- Precisamos levar você a Yigal, talvez você ainda...

- Deixe de ser besta. Se eu levantar, eu morro.

Um disparo de metralhadora, alguns andares acima e depois silencio. O ventilador rangia de um lado para outro, as respirações de Brock ficavam cada vez mais pesadas e lentas. Kurt pegou as chaves e o revólver e o devolveu ao tornozelo, pegou a pistola de Brock e checou as balas, rearmou e se agachou a frente do homem ensanguentado.

- Porque eles não trancariam a porta?

- Porque eles não precisavam. — Ele sorria como se alguém tivesse contado uma piada suja. — Sabiam que você não iria tentar fugir ou ao menos tentar abrir a porta. Ao menos tentar abrir a porta. — Repetiu, o sorriso ainda lá.

- Eu me sinto idiota, Brock.

- Você é. — Replicou. — Você é, meu amigo, mas não precisa ser idiota para sempre, sabe?

- Não serei. — Disse.

- Estou falando sério Kurt, não seja idiota. Cortez já deve ter te avisado sobre a Rainha, não é possível que não tenha. Nenhuma peça da Rainha vai falar mal dela, é claro, mas nós somos do Rei e podemos dar nossos pitacos a vontade.

- O que quer dizer com isso? O que eu preciso fazer?

- Seja inteligente, seja esperto, haja como um... — Suspirou e se apoiou no braço, o corpo querendo cair. Kurt o segurou sem se importar com o sangue. — Haja como um rei, Kurt, seja... Seja... Rei... De si mesmo. Até ela quer isso de você, todos queremos... Isso de você.

- E puta merda... — Continuou e sorriu. -  A porta estava aberta.

E então Kurt viu o sorriso mais sincero do mundo. Ali estava, para todos verem, mas só Kurt teve a oportunidade. Não era um sorriso para Kurt, não era um sorriso para Brock, era um sorriso para a própria vida. Ele sorriu pois a porta estava aberta, sempre esteve aberta, e ele nunca a atravessou. Ele sorriu pois sua vida tão importante, ele julgava dessa maneira, e tão cheia de sentido, acabou tão efêmera como seus dias antes do Reinado. Terminou em um sorriso gostoso por perceber o quão tapado era aquele rapaz para o qual deu a vida para libertá-lo. Mas no final das contas, sejamos francos, quando a hora chega, temos que encará-la com um sorriso. A vida foi boa, ele não tem dúvidas disso, mas a porta esteve sempre aberta e ele não a atravessou.

Kurt viu aquele sorriso tão sincero e quando Brock finalmente parou de respirar, o sorriso permaneceu ali.

...

- O que eu faço agora?

Ele perguntou, mas Brock, claro, ficou calado como... Bem, como um cadáver. O que ele poderia esperar? Recontou as balas no pente e rearmou a pistola mais uma vez. Conhecia o calibre .50, só não estava acostumado com o coice.

Agradeceu ao homem que deu a vida para tirá-lo de uma prisão sem tranca, pegou suas dogtags e começou a seguir o rastro de sangue, procurando a saída. Viu os corpos caídos dos dois peões, ensanguentados e já sem vida. Seguiu através do corredor até um lance de escadas, de lá pode ver o caminhão na entrada e mais dois corpos. Ele não viria sozinho, pensou, e talvez ainda alcançasse Tod e Salvatore. Decidiu pela escada, correndo e saltado degraus com velocidade.

A imagem de Brock sentado, com sangue e carne amostra o fazia lembrar de suas últimas palavras, "a porta esteve sempre aberta." Como pôde ser tão burro? Poderia ter aberto a porta, teve trinta minutos antes de Tadeu chegar, poderia ter pego seu revolver, evitado tudo isso. Agora a culpa da morte sem sentido de Brock caía sobre suas costas como uma mochila de remorso. Respirou fundo procurando evitar os pensamentos nocivos, sem muito sucesso, e se concentrou na tarefa que tinha em mãos, precisava alcançar o heliporto a tempo. Mas que tempo seria esse?

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