Cap. 22 - Xeque-mate -

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Ele caminhou lentamente pelo solo gramado, em algumas áreas o mato alcançava seu joelho, em algumas era tão rala que parecia simplesmente um tapete verde. Jeny estava ao seu lado, a dois metros de distância, a arma empunhada e mirando para o cenário de pouca luz. Ainda não haviam avistado o celeiro, apenas a casa estava em sua linha da visão e nela, quatro peões montando guarda. Antes de Jeny começar os disparos, Tod colocou a mão sobre sua arma e ficou em silencio, analisando a situação de forma mais cautelosa.

- Jeny, ele não está na casa.

- Se você diz... – Ela abaixou a metralhadora. – Se não está na casa, onde? No celeiro?

- Exatamente. A casa não proporcionaria uma boa defesa, além disso, é óbvio demais. Provavelmente estaríamos caminhando para uma armadilha.

- E se ele tiver pensado isso de você? Que você teria esse raciocínio?

- Ainda assim ele escolheria o celeiro.

Jeny abaixou os olhos, preocupada. Estavam em campo aberto e aquela área tinha apenas duas arvores, escassas e perdidas, sem nenhum valor estratégico. Seria uma batalha de muita movimentação se quisessem sair vivos dali. Sabia que para Tod não importava muito ficar vivo ou morto depois disso contanto que matasse o Rei Branco, mas para Jeny a história era outra, ainda tinha planos dos quais uma bala na cabeça os daria um fim. Tod fez um cafuné na pequena garota, bagunçou um pouco seus cabelos e deu dois tapinhas em suas costas.

- Eu sei que você é muito nova a tudo isso, mas algumas coisas tem de ser feitas, vai além do que é certo e errado, além do que diz os livros.

- Se você diz...

- Me faça um favor, sobreviva a essa noite. Cielo te tirou de uma vida de estudos e dedicada a filosofia, eu entendo, eu realmente entendo, mas há assuntos mais importantes que o próprio conhecimento em jogo.

- Tod, o que foi? – Jeny se virou para ele, nervosa. – Vamos logo acabar com isso, ou você está querendo ficar sentimental justo agora quando precisamos de você mais frio que nunca?

Ele respirou fundo e sacou as duas Glocks. Jeny estava enganada ao pensar que Tod estava sentimental, é claro, pois assim como Salvatore, suas ações eram calculadas para benefício de apenas uma pessoa, ele mesmo. Seria uma pena se perdesse Jeny em uma investida contra o Rei Branco, uma perda aceitável, mas uma pena ainda assim. Tod rumou para o celeiro e Jeny, obediente, o seguiu novamente com a arma preparada, a mira correndo pelos peões que ainda não haviam notado a presença deles ali.

- Não vamos conseguir chegar ao celeiro sem que os peões nos notem. – Disse Jeny quando pararam a trezentos metros do celeiro. – Vamos ter que derrubar de um por um.

- Isso não é problema. O problema vai ser o que vamos encontrar dentro do celeiro. Acqua eu tenho certeza que estará lá, provavelmente o Bispo e a Rainha também, mas acho pouco provável, a Rainha não se arriscaria dessa forma, não essa pelo menos.

- Ela se arriscou o suficiente da última vez.

- Mas foi por interesses próprios, não pelo seu Rei.

- Eu vou por ali. - Tod apontou com umas das pistolas para a direita. – Você vai por ali. – Apontou para a esquerda. – Não pare de se mover nem para dar um tiro certo, vai lhe custar a vida fazer isso. Depois pegamos cobertura nas laterais do celeiro e esperamos pela porta abrir ou pelos peões que ainda estão de vigília, os tiros iram alertá-los, então...

E foi o que fizeram. Tod foi o primeiro e, após os primeiros disparos do homem, Jeny foi na outra direção, abatendo aqueles que começavam a se mover para flanquear Tod. A garota derrubava de um por um com rajadas na altura do tórax, a maioria dos tiros acertavam os leves coletes balísticos, mas outros acertavam os braços desprotegidos, pescoços e as vezes o rosto de alguns. Quando apenas caiam, fazia questão de adicionar uma segunda rajada nos corpos para se certificar, não queria ninguém fingindo de morto. Tod não precisava disso, todos seus disparos eram precisos, ou entre os olhos, ou dentro de um deles. A garota derrubou quatro, Tod derrubou seis. Toda a ação não durou dois minutos. Quando se apoiaram o celeiro, Jeny rearmou a metralhadora, as mãos ainda formigando pela vibração da arma, o ombro já doía pelo apoio na hora da mira, mas já estava acostumada a sensação. Tod não rearmou nenhuma das pistolas, disparou apenas três tiros de cada pente.

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