Cap. 14 - Galopada -

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Um dia antes daquela noite, algo aconteceu. Algo de suma importância que mudaria a série de eventos que iriam ocorrer. É uma pena, de fato, já que Kurt e Megami pareciam tão felizes e enamorados juntos...

Primeiro vieram os caóticos olhos verdes, jades faiscantes que traziam medo e desespero. Na medida que ele distanciava o rosto, pode ver que se tratava de um rapaz jovem, a barba feita com zelo e um sorriso encantador, mas macabro em sua própria maneira. Os cabelos cacheados eram longos e lhe caiam sobre o rosto, vermelhos como ferrugem. Estava por cima dele, ajoelhado sobre ele, podia sentir as coxas pressionando sua barriga. Aquele rapaz tinha, em cada mão, uma grande pistola de 10mm, Glock G40, e as duas estavam encostadas no peito daquele homem, apertando de leve, apenas o suficiente para que ele as sentisse. Usava uma roupa justa de couro preta, por cima, um poncho verde amarelado, pútrido como pele em decomposição.

Essa foi a imagem que o homem viu ao abrir os olhos e recobrar a consciência, mas ao vê-lo, desejou nunca ter aberto novamente os olhos.

- Vamos amiguinho, respire profundamente e expire lentamente. Calmo como um cordeirinho... – Disse o homem de poncho verde amarelado, sua voz era grave, mas de timbre suave. Era até prazerosa de ouvir, se não fosse a situação. -  Pelos olhos arregalados e o suor brotando na testa, imagino que saiba quem eu sou.

O homem tentou murmurar um nome, mas foi silenciado com o cano da pistola tocando de leve os lábios.

- Vamos Peter, sabe que não pode falar alto. Quer acordar sua mulher?

Foi então que seu deu conta, não havia sido sequestrado, estava em sua própria casa, dormindo em sua própria cama, ao lado da sua mulher, e aquele monstro estava ali, os olhos brilhando em meio a penumbra noturna. Resolveu ficar calado, não podia fazer nada e temia pela sua vida e a vida de sua esposa.

- Bom garoto. – A pistola saiu de seus lábios e voltou para seu peito. – O primeiro tiro seria no pulmão esquerdo, aqui na pontinha mesmo, para que você se afogue no próprio sangue, o segundo seria no olho da sua mulher, para que você a visse morrer antes de você mesmo passar dessa para pior. Então vamos ao que interessa, o que acha?

O homem na cama confirmou com a cabeça, olhos arregalados e amedrontados encaravam aquele rapaz ajoelhado sobre sua barriga.

- Eu não me importo em matar mais um peão, e muito menos gado como sua mulher, então, já que está claro suas opções, eu vou começar. – Pigarreou suavemente, o tom de voz se manteve o mesmo. – Eu sei que sua Rainha agora tem um novo Bispo, o nome dele é Kurt, não é? E mesmo que eles tenham tido a ideia sensacional de mudar o sobrenome, sei que ele é filho de Guiseppe, ou Gasparetto, como queira. Sei também que você é um dos oito peões que estão hospedados no forte das peças brancas. Está me acompanhando até aí?

Mais uma confirmação com a cabeça.

- Perfeito. – E o sorriso do homem se transformou em uma macabra lua branca na penumbra. – O que quero é bem simples, mas bem simples mesmo. Quero apenas que conte a sua Rainha desse nosso encontro. Vai fazer isso?

Peter não quis confirmar com a cabeça, o homem então apontou a pistola para a sua mulher, exatamente como disse que faria.

- Confirma para mim, vai... Lhe digo o seguinte, vou te fazer uma proposta melhor. – Voltou a colocar as pistolas no peito dele e sorriu. – Se amanhã eu não ver as peças se movendo como devem ser movidas, eu volto aqui e aleijo você. Depois mato sua família em sua frente, eu ia poupar sua filha e seu cachorro, mas que se danem eles não é? Sua Rainha é mais importante. Bom meu amigo Peter, você tem até amanhã à noite para decidir isso.

Saiu de cima do homem e guardou as duas pistolas em coldres laterais em baixo do poncho verde amarelado, na penumbra, a sensação que Peter tinha de que ele vestia um manto de pele podre era ainda maior.

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