Cap. 19 - A busca pelo Rei Branco -

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Nossas vidas, assim como nosso corpo ou nossa mente, exige tempo de descanso e recuperação. Esses tempos estáticos e inertes são vistos com bom grado pela maioria das pessoas, seguidos sempre pelos comentários "meu merecido descanso" ou "finalmente, férias" ... São momentos de total inercia onde nada é produzido, nada avança, mas o corpo e a mente se regeneram para o próximo passo. Não pense que é diferente com a vida, se assim o fosse, não existira sono, descansos ou intervalos. Mas para aqueles que estão despertos, momentos assim levam ao desespero, são vistos como perda de tempo, momentos preciosos jogados fora pelo simples capricho do "descanso". Para os que realmente sabem o valor dele, ficam calados, apreciam o momento e partem com força revigorada para a próxima etapa. Foi isso que Kurt fez nos primeiros dois dias sem contato com o Reino.

Fez compras com todo aquele dinheiro, se permitiu luxos que sempre sonhou mas nunca teve, doou dinheiro para instituições de caridade, financiou pequenos projetos independentes pela internet e se tornou um estranho e anônimo samaritano da noite para o dia, e ainda assim, o dinheiro não chegou nem perto de acabar. Esse pequeno gesto deixou bem claro para ele que as quantias que batalhamos todos os dias para colocar no bolso são efêmeras e não fazem diferença no produto final, são centavos comparado ao que corporações e multinacionais conseguem angariar de recursos.

Lembrou da Formula 1, dos bilhões e bilhões que giram em torno daquele único campeonato e deu de ombros, finalmente aceitando a realidade como ela é. Malkuth em sua pior forma, o materialismo desenfreado e desnecessário. Uma conjectura, é claro, mas algo que despertou Kurt para uma nova visão do Reino, e provavelmente, a necessidade de procurar novos territórios.

No quarto dia finalmente voltou à ativa, não porque recebeu alguma ligação urgente de sua Rainha ou porque foi procurado por Acqua ou Cortez, mas sim porque decidiu que iria através a porta, iria entender de uma vez por todas no que havia se metido e o que era o Reino, acima de tudo, qual era o motivo desse Reino e dessas disputas. Em uma manhã, vestiu o melhor blazer que encontrou, fez a barba e arrumou o cabelo e subiu o elevador para o apartamento de Megami. Ao chegar no corredor que dava acesso para o apartamento, o mesmo brutamontes da outra vez o pediu que aguardasse um momento, e depois de falar no interfone avisando sua presença, e depois de quase quinze minutos, finalmente deu passagem ao Bispo.

Megami o esperava vestida com um quimono branco simples, sem detalhes, os cabelos presos e a franja perfeitamente reta sobre sua testa. O rosto ainda tinha hematomas e pequenos arranhados que a Rainha não fazia questão de cobrir com maquiagem ou o que quer que fosse, na verdade, os preferia assim, marcas de sua ferocidade e também, marcas que provavam que ela era um ser humano no final das contas.

- Bom dia Bispo. – Disse sem nenhum sentimento na voz.

- Bom dia minha Rainha, vim lhe perguntar uma coisa. Quem é o nosso Rei? Quem é o Rei Branco? Você disse que ele está em cheque, o que significa que ele é vivo, ele existe. Quem ele é? Eu tenho o direito de saber.

Megami o encarou por um momento que mais pareceu uma eternidade, sem expressão, sorrisos ou qualquer outro sinal que deixasse transparecer um pingo de explicação, um detalhe se quer de linguagem corporal que Kurt pudesse analisar ou imaginar, mas ela ficou apenas ali, parada por um bom tempo, até mesmo sua respiração não era notada por cima do quimono.

- Porque não vai ver com os próprios olhos? Vamos até o apartamento dele, é o último no Palazzo Del Re. Já que isso é tão importante para você, porque não? É como a criatura, indignada com o Criador, quer conhecer sua face apenas para se dizer certo, mas ao ver seus motivos, sente vergonha de um dia sequer ter tramado essa empreitada. – Megami suspirou e se aproximou de Kurt em passos curtos e lentos. – Me diga uma coisa Kurt, porque isso é tão importante para você? Você não consegue se contentar em apenas seguir o fluxo? Em obedecer sua Rainha?

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