Cap. 24 - Leônidas -

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Ele sabia que ia morrer, não havia outro jeito. Em pé, o sangue vertendo de seu ventre, haveria alguma outra opção? Que aceitasse de vez o beijo doce da morte, ao invés de lutar tanto por essa vida vazia, cheia de dor, pesares e morte. Estava na rodovia, em pé, sangrando, o corpo tremendo de frio, em choque. Leônidas estava ao seu lado, mãos enfiadas no bolso do sobretudo branco. Olhava a rodovia vazia sem muito interesse enquanto Tod gemia baixinho ao seu lado, batendo os dentes, respirando rápida e profundamente.

- É intrigante o fato de você não morrer. – Disse. – Fica aí, lutando para se manter vivo, para encontrar uma lógica em sua própria existência. Mas vai para onde a partir daqui? Seguir os passos de Salvatore? Reerguer praticamente do zero o Reino Preto? Procurar novas peças de xadrez? É isso mesmo que quer? Então, depois, o quê? O simples fato de...

- Cale a boca. – Rosnou. – Não sou o Rei Branco, eu conheci outros Reinos, eu vi Yesod com meus próprios olhos. Acha que pretendo ficar vivo pelo simples fato... Pelo... Reino? Não. Claro que não.

- Mas e quando você morrer, o que vai ser? Não estaria livre para vagar entre todas as esferas? O que te aguarda depois daqui?

- Eu não me importo com o "depois daqui" Leônidas, eu só me importo com o aqui e agora. Sua ladainha pode ter funcionado com Guiseppe... – Cuspiu uma saliva espessa e morna. – Pode até ter funcionado com Salvatore, mas eu? Não, eu não... Eu vou reconstruir o Reino, sim, mas porque eu quero conquistar Yesod e todos os outros reinos. A partir daqui. De Malkuth. Quero provar que isso é possível, e vou prova-lo. É isso que me mantem vivo.

- E porque outros reinos? Porque não se contenta com este? Com Malkuth? E outra, porque reconstruir seu Reino?

- Nada nasce da letargia, você sabe disso. Me faz perguntas tolas, está me testando seu canalha? – Rosnou mais uma vez. – Você sabe que nada pode ser criado da estase, preciso de conflito para seguir adiante. Preciso... Do Rei Branco... Preciso... Ficar vivo.

Tod caiu de joelhos, o corpo vibra, o corpo luta e grita e se esperneia, mas nenhum musculo se move. Em sua mente, Tod puxava todas as cordas para que seu corpo levantasse, fazia força, os músculos saltavam dos braços, sua expressão é da mais pura fúria, os punhos fechados em torno de cordas grossas e amarelas. Ele puxava várias vezes, seus braços pareciam pesar toneladas, a corda em seu tronco parecia ter o peso do mundo, mas Tod ainda assim, puxava e puxava, mas aqui, em Malkuth, nem mesmo sua respiração se movimentava quando o par de faróis iluminou seu corpo.

...

O sobretudo branco balançava com o vento, o sol do meio dia aquecia seus cabelos loiros e um bafo quente, porem agradável, se instalava dentro de sua roupa. Os olhos verdes estavam captando, ao longe, um carro marrom contornando as ruas da cidade, indo em direção a uma casa velha e tosca, de madeira. Ali, em cima do prédio onde estava, olhava todo o movimento da cidade e seus pequenos afazeres, para lá e para cá. Cortez estava ao seu lado, braços cruzados sobre a regata branca, suas dogtags tintilavam com o vento, cada nota aguda o lembra de Brock. Leônidas dá dois tapinhas em seu ombro e aponta o carro, Cortez apenas dá um meio sorriso e balança a cabeça, concordando.

- Você ficou por tanto tempo ao lado de seu Rei, e agora, continuará ao lado dele?

- Sempre. – Disse.

- Sem pretensões?

- Porque as teria? – Olhou para Leônidas, o sorriso agora tomou forma no rosto de barba por fazer. – Não tenho pretensão para ser um Rei, nunca quis, nunca vou querer. Ser um Rei é ser o responsável por tudo que seus súditos fazem. Eu não quero essa responsabilidade.

Leônidas apenas disse um "hum", a testa franzida, o lábio entreaberto em uma questão que decidiu não fazê-la. Ficou olhando o carro estacionado em frente à casa de mato alto. Enfiou as mãos no bolso do sobretudo, e depois de um bom tempo ali, em silencio e contemplativo, decidiu perguntar.

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