Cap.2 - Nas suas mãos -

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O sedan deslizava como um felino pelas ruas ao comando de Kurt, ele tinha cinco minutos para chegar em casa e aceitara o desafio de Megami, que sentada no banco do passageiro, olhava sem muito interesse pelo para-brisa. Cinco minutos não eram nada demais, cinco minutos era o tempo que se leva para fazer um macarrão instantâneo. Pronto em três minutos, a agua ferve em dois.

A mulher as vezes o encarava de canto de olho, analisando a habilidade que tinha em descer a mão do volante para o câmbio e do cambio para o volante. Achou interessante a escolha de usar o câmbio manual ao invés do automático, mas escolheu demonstrar desinteresse. Queria saber até onde Kurt era capaz de chegar, até onde havia poder em seu amago.

Desviou de carros, furou sinais vermelhos e pegava atalhos de terra batida. As vezes chegava até mesmo a ouvir os pneus cantando de leve em algumas curvas mais fechadas, mas com perfeito uso da velocidade e do ponto G do sedan se matinha firme.

Ainda assim, no fundo, Kurt sabia que não ia chegar a tempo, ainda que corresse o máximo que sua coragem lhe permitia. Mal sentia o carro vibrar ou ouvia o som do motor. Checava o velocímetro e as vezes estava a 100 por hora, as vezes 140, e Megami sempre mantinha o mesmo olhar de tédio. Já próximo, Kurt viu que faltava apenas um minuto para chegar, mas precisaria dar a volta na praça e isso o impediria de chegar no apartamento a tempo.

- Megami, você quer que eu chegue em 5 minutos em casa?

Ela fez que sim com a cabeça e sorriu, tirando o cabelo do rosto.

- Posso fazer qualquer coisa para chegar nesse tempo?

Ela assentiu mais uma vez, com um sorriso ainda maior.

Reduziu bruscamente, Megami teve de se apoiar no painel para não ser lançada no para-brisa. O motor reclamou da redução brusca, roncando com vontade. Kurt esboçou um sorriso ao finalmente ouvir a voz daquele guepardo. Com velocidade girou o volante, o carro grunhiu e os pneus cantaram, seu corpo foi puxado para a esquerda, Megami segurou no painel e em Kurt para não cair em cima do rapaz. O sedan subiu por cima da praça e desviou dos bancos e do pequeno parque para crianças que, a essa hora, estava vazio. Ela arregalou os olhos e sorriu com os dentes perfeitamente brancos à mostra. O carro balançou e pulou a cada solavanco, a cada divisória de cimento que a roda de liga leve sofridamente enfrentava. Quando saiu da praça, saltou o pequeno meio fio em outro grunhido, a mão firme agarrou o câmbio e diminuiu a marcha, o carro lançou-se para frente e, em um ousado cavalo de pau, girou o carro e parou em frente ao condomínio. Megami, ainda apoiada em Kurt com os cabelos no rosto do rapaz, olhou o marcador no painel azulado.  

4:51.

- O que eu ganho? – Falou Kurt, Megami notou os músculos dos braços dele aliviando a tensão vagarosamente.

Megami puxou a chave e riu um tanto nervosa. Tirou do porta-luvas o documento do carro e, juntando os dois, entregou para Kurt. Ele sorriu achando que era uma piada, mas ela insistiu, permanecendo com o braço estendido.

- Leônidas me mandou dar o Mercedes para você. – Ela disse em um sorriso, os olhos brilhando como obsidianas estreladas. – Ele me disse que você contou sobre seu pai, filho de Gaspareto Buscceta, piloto de Hotrods e piloto de fuga da máfia na Sicília. Seu pai, Tomas, pegou o gosto pela corrida e você pegou de seu pai. É interessante, vai ver está em seu DNA. – Kurt finalmente pegou as chaves e os documentos, tocando suavemente na ponta dos dedos de Megami. – Seu olhar me diz que você já sabe onde se meteu.

Ele engoliu seco, mas se manteve firme, com uma postura séria.

- Acredito que é cedo para perguntar quem são vocês.

- Ah, é. Verdadeiro. – Ela riu e abriu novamente o porta-luvas, pegando uma caixa preta de couro. – E esse é meu presente especial para você. Leônidas disse que você conseguiria, sem sombra de dúvidas, mas eu duvidei. – Kurt abriu a caixa e pegou duas luvas de couro marrom, estilo italiano, deixava as costas da mão nua e com perfurações no início dos dedos. As vestiu e sorriu maravilhado. – Essas eu mesma comprei, depois de pesquisar um pouco sobre suas origens italianas.

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