Cap. 16 - Guerra -

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Yesod, ????

Então Salvatore viu, primeiro o nada sem forma, depois do caos se fez algum sentido e sua mente começou a processar o que via em formas geométricas, tolas e toscas. Levantou a orbe e iluminou o caos negro como piche, que reluzia em tons purpuras. Perdido e sem saber exatamente o que via, deu mais um passo. As flutuantes formas geométricas se afastaram. Um quadrado passou ao seu lado e se juntou a um grupo de triângulos que giravam lentamente, reluzindo violeta em cada extremidade. Um círculo emergiu do nada negro, com incontáveis tons de violeta girando em seu centro, mesclando-se como várias tintas jogadas em um balde d’agua. Esse círculo se aproximou de Salvatore e, fazendo isso, as outras formas geométricas se acalmaram e ficaram em uma posição estática, flutuando ao seu redor.

Sem nenhum som, o círculo projetou imagens das mais variadas em sua mente, essas imagens apareciam como memórias, como fragmentos de lembranças que já estavam em sua mente, precisando apenas serem acessadas. Viu exércitos, guerras das mais variadas, incontáveis tipos de armas, desde a espada e o arco e flecha, até rifles automáticos e armas que Salvatore jurava ter visto em algum filme de ficção cientifica. Viu maquinas de guerra, tanques, aviões, navios... Viu corpos feitos de metal, naves sem nenhuma aerodinâmica flutuando no ar, despejando fogo naqueles que batalhavam em terra firme. Viu dor, sofrimento e desespero. O grito de um soldado com o irmão despedaçado nos braços, o choro da mãe que recebe as medalhas do filho, o filho que não recebe o pai no retorno das tropas...

Era muito para Salvatore, ele balançou os braços freneticamente, tentando parar o círculo, acertá-lo, quebra-lo, foi tudo em vão. As imagens continuavam ali, tantas e tantas imagens que começou a doer, incomodar, machucar. Era demais. Salvatore levou as mãos à cabeça e a apertou, caiu de joelhos e começou a gritar. “Chega! Chega!”, gritava em tom de ordem, depois de suplica e finalmente, de desespero. Então viu uma máquina sem nome e sem forma, algo que só poderia ter surgido de um pesadelo de um homem insano. Uma máquina tão grande quanto a lua, cortando o planeta com feixes de luz que pareciam labaredas de fogo. Mas não era a Terra, não o nosso planeta, e a visão disso o perturbou ainda mais. Para a maioria das pessoas, essa visão traria um certo alivio, pensaríamos coisas como “não é comigo” ou “não pode ser real, a Terra não é assim.” Mas Salvatore soltou as mãos, derrotado, levantou o rosto em lagrimas para o círculo púrpura e disse sem voz:

- Isso já aconteceu... – Ergueu as mãos espalmadas para o círculo inexpressivo em sua frente. – Meu Deus! Isso já aconteceu! Não aqui, não em nosso Reino, mas já aconteceu! E tudo isso a troco de quê?

O círculo se estendeu, pintou todo o negro de purpura e se tornou tudo. Não havia mais vazio e as formas geométricas, tolas e sem proposito, sumiram com a vastidão negra. Agora tudo era violeta, as imagens cessaram, a dor diminuía lentamente, mas as lagrimas ainda corriam pelo rosto de Salvatore.

A sua frente, uma pequena flor de lótus surgiu no mar purpura, pétalas de um roxo escuro e puro, desabrochando lentamente. Era pequena, frágil e delicada. Salvatore se abaixou, deixou suas mãos ao lado da pequenina flor. Na medida que suas oito pétalas desabrochavam, seu tom roxo mudava para um azul e, do bulbo, uma pequena orbe se formava, flutuando em cima da flor que desabrochava. Viu aquela flor clareando cada vez mais e aquela orbe solidificando-se em um planeta. Várias rochas se uniam e formavam a esfera celeste, enquanto a lótus se tornava de um branco perfeito.

Na orbita daquele planeta, a máquina de seu pesadelo começava a ser construída. Ele tentou impedir, tentava acertá-la com um peteleco, mas sempre errava. Não podia tentar nada mais bruto pois acertaria também o planeta. Enquanto ela tomava forma, as pétalas da lótus começaram a escurecer em um tom azul anil, até ficar escura como carvão. Salvatore tentou e tentou, mas a máquina foi construída e por fim, cortou o planeta ao meio.

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