15 de maio de 1793

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Querido diário,

Tédio, tédio, tédio.

Acho que sou a pessoa mais entediada do mundo.

A coisa mais divertida e empolgante que lembro de já ter me acontecido ainda terminou em desastre.

Deus deve ter dito antes de eu nascer: "vá e passe tédio."

Então cumpri meu propósito divino por toda uma longa e sacolejante viagem.

Minha única distração era a paisagem. Bela paisagem... Florestas, prados, vaquinhas.

Eu poderia puxar assunto com meus pais, mas como todos estavam tensos com o futuro por vir e algo emocionados por precisarem ir até Bonnieux comigo e voltar sem mim...

Percebi que o silêncio era melhor.

Trouxe esse diário em meio a outros pertences em um par de malas, claro. Já considerei pôr fogo nele, às vezes ainda considero. Por enquanto, desde que eu esconda bem, é um útil confidente. Faz com que eu me sinta melhor.

Viu meus suspiros apaixonados. Viu minhas lágrimas tornando a escrita borrada e semi-incompreensível.

Ninguém sabe o que verá agora.

Foi um milagre eu não ter me enjoado em nenhum ponto.

Paramos por volta do meio-dia em um daqueles campos floridos para almoçar comida leve de uma cesta de piquenique.

Barriga cheia e aliviada por estar em terra firme, respirei um pouco o ar puro e colhi alguns dos muitos não-me-esqueças azuis que permeavam a grama.

Comecei, quase por hábito, a torcer ramos e fazer uma guirlanda.

- Brincar no jardim é coisa de garotinha, Marie. Não de mulher casada. - repreendeu gentilmente minha mãe ao fundo.

Revirei os olhos até quase ver o interior da minha cabeça.

Voltamos para a carruagem.

A viagem findava perto do anoitecer e notei meu coração ansioso sacolejndo naquele mesmo ritmo.

Antoine... Seus pais com nomes meio engraçados, monsieur Horace e madame Hortence... Uma nova vida.

E uma nova cidade, avermelhada pelo sol poente e sonolenta quando cheguei.

Cidades do sul francês não são tão diferentes umas das outras.

O cocheiro estacionou em uma estalagem de classe alta, onde encontramos algumas outras pessoas bem-vestidas, cansadas e descabeladas após viagens tão longas quanto as nossas.

Pensei em Marianne e em como eu não a via por ali... Claro. Ela só viria no dia seguinte. Teríamos algum tempo até eu ser empurrada para o altar. Não é tão rápido assim.

- Adivinhe, querida, o que faremos agora? - brincou mamãe.

- Outra carruagem?

Assentiu. Meu pai me deu o braço.

O diferencial é que seríamos nós... e a família do meu noivo. Minha futura família, embora essa ideia ainda precise se situar melhor dentro de mim.

Às vezes entendo porque meu matrimônio iminente arranca tantas lágrimas. É um funeral. Morre uma filha, ainda um pouco uma criança. Nasce uma mulher e esposa.

Eu não poderia chorar, não seria uma boa imagem. Tenho evitado bem até agora.

Secretamente ainda esperava me deparar com certo nômade dentro de certas caravanas em algum canto daqueles, em alguma estrada.

Diário de MarieOnde histórias criam vida. Descubra agora