Querido diário,
Longa história...
Estou escrevendo isso em uma pousada na Itália. Minha primeira viagem internacional. Tem sido lindo.
Eu e meu marido, claro. Ele vinha planejando tudo em segredo. Nunca esperei dele ser alguém que guarda segredos, fiquei surpresa.
Antoine me encontrou sozinha com sua mãe e foi uma interrupção muito bem-vinda. Ela me paparicava, dizendo o quanto estava feliz de oficialmente ter como nora uma jovem tão encantadora quanto eu.
Sinto-me um pouco mal porque mesmo suas intenções sendo as melhores... Ninguém aguenta.
- Poderia ter sido qualquer outra. - comentava, fazendo eu me sentir uma prenda de feira popular, com várias iguais a mim ao lado. - Mas Horace me garantiu que você era uma bela mocinha, educada e gentil. Estava certo.
Sorri e concordei enquanto suas mãos invasivas procuravam algo por arrumar em minhas roupas.
- Espero que você melhore meu filho. Claro que é um bom menino. Ainda assim, tão atrapalhado às vezes...
Desviei meu olhar para a porta do cômodo bem-decorado e minha sogra acompanhou, enrubescendo. Antoine tinha chego bem a tempo de nos ouvir falando mal dele.
Se reparou, não disse nada. Parecia animado.
- Tenho algumas novidades para compartilhar com Marie, mamãe, se nos der licença.
Ergui uma sobrancelha. Ainda mais porque pela sua expressão, a senhora rechonchuda diante de mim já sabia quais eram essas notícias.
Sozinho comigo, antes de tudo, Antoine me abraçou, me erguendo um centímetro do chão, e me arrancou uma porção de beijos enquanto eu ria.
O que eu sentia por ele ainda não era amor. Eu estaria mentindo se dissesse que detestava seus toques. Embora completamente desajeitados no primeiro momento, já não eram tão ruins ou mal-recebidos.
- As novidades, meu amor, meu raio de sol... São que vamos para Veneza.
- O quê? - reagi surpresa, um braço ainda em torno do seu pescoço.
- Nossa viagem de lua-de-mel.
- Ah, sim! - concordei.
- Quem deu a ideia foi meu amigo italiano, Lorenzo, quando ainda éramos noivos. É uma forma de visitá-lo. Só depois, óbvio, de eu levar minha esposa para usufruir tudo o que é possível em uma das cidades mais belas da Europa.
Não pude evitar sorrir. Eu adoraria.
- Outra viagem longuíssima de carruagem, não? - indaguei em tom de queixa ao lembrar desse detalhe.
- Sim. Longa, mas nem tanto. Teremos de passar a noite em uma estalagem. Quem gosta de viajar se habitua ao desconforto das estradas. Não era à toa que eu voltava muito raramente da Suíça quando estudava lá.
- Tudo bem. - aceitei levando uma de suas mãos ao meu rosto e beijando os dedos. Virou um hábito. A mão da aliança, que senti, fria. - Tenho certeza que Veneza vale a pena qualquer sacolejar. Quando iremos?
- Em três dias.
- Três dias?! - exclamei surpresa, embora alegre.
Pelas minhas costas, para me surpreender - ainda inconformada com o quanto ele podia ser secretivo - tudo já tinha sido arranjado.
Iria coincidir com a partida de Marianne e dos meus pais... Já me casei, não preciso mais de todo um cortejo me seguindo.
Seria um pouco triste. Ainda assim, uma viagem até Provença é bem menos demorada que Veneza. Eu visitaria muito e vice-versa.
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Diário de Marie
Historical FictionMarie-Cleménce Chevalier, mimada moça de família na França do fim do século XVIII, sempre teve suas escolhas pessoais determinadas pelos outros. O que vestir. Aonde ir. Com quem andar. Com quem casar. Na infância ela ainda se revoltava. Também um...