21 de julho de 1793

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Querido diário,

Hoje, ao despertar, me vi sozinha. Claro que isso era estranho. Onde estaria meu não-marido?

A posição do sol através da janela me revelou como a manhã já se adiantava, algumas horas mais tarde do que costumo acordar, e isso me fez pular para fora da cama com um sobressalto. Como ele pôde me deixar dormir tanto assim?

Foram já alguns dias por aqui, bem felizes e tranquilos. E algumas noites, com frequência ardentes, ardentes como seus olhos. Uma vez, evitando uma multidão de ciganos insones, e movidos por desejo intenso, admito como até escapamos para fazer amor no mato do lado de fora.

Mesmo assim, era invariável acordarmos juntos, pontualmente, então achei incomum.

Vesti uma blusa confortável e uma comprida saia escura com estampa floral. Penteei e prendi o cabelo bagunçado pelo sono em gestos rápidos. Ao caminhar até a porta, levei um susto ao ouvir passos apressados do lado de fora e vê-la sendo aberta adiante de mim.

Ignus, enfim. Parecia afobado. Fechou-a outra vez atrás de si e emendou um sorriso galante, como sempre, me cumprimentando.

- Meu amor? Por que você me deixou dormindo até altas horas? - reclamei sendo enlaçada em um beijo.

- Para poupá-la da confusão. - respondeu. - Que ainda não terminou, então melhor você continuar aqui dentro.

Parecia até tranquilo, mesmo que com resquícios da pressa. Notei como trazia um saquinho de pano, emanando cheiro gostoso do café da manhã que estendeu sobre a escrivaninha. Pão e queijo, um bolinho de mirtilo e erva-doce, uma banana. Incluía até um cantil, bem selado, de café com leite.

- Obrigada... - reagi perplexa, sentando-me para a aguardada primeira refeição do dia. - Mas me explique, por favor. Confusão? Aconteceu algo?

Ignus sentou-se na cama para melhor conversar comigo:

- Pode-se dizer que sim. Estão todos bem, não é problema dessa ordem. Acontece que hoje mais cedo, Marie, um dos meus companheiros descobriu seu segredinho.

- Eu guardo segredos? - ofendi-me por um segundo, antes de refletir. - Ah... Guardo sim. Ah, não! Descobriram?

Dei a primeira mordida no bolinho, olhar atento fixo nele.

- Você guardava, assim como eu guardava até a noite da festa - esclareceu. - Ironicamente, ninguém por aqui estranha o fato de eu ter saído lançando maldições. Nunca escondi o que fazia quando me dispersei do clã para visitar meu tio. Já seu segredo, Marie... Você ser uma fugitiva... Isso acaba de ser descoberto.

- Realmente, posso imaginar o caos. - O bolinho que eu devorava ao mesmo tempo me acalmava e me roubava o foco. Tudo sempre tão gostoso... - Como aconteceu?

- Um rapaz desceu da caravana para visitar a cidade mais próxima. Fazer umas compras na feira local. Não podemos passar a vida toda em estradas, às vezes paramos para abastecer despensa, essas coisas. Ele deu uma olhada despretensiosa nos cartazes pendurados em um quadro de avisos e foi quando viu... Bem, está aqui, pode conferir. - Estendeu-me um papel. - O desenho não lhe faz jus, você é muito mais bonita.

Assustada, olhei o conteúdo do cartaz, rasgado no topo onde tinha sido arrancado de algum prego. Realmente, uma péssima representação de minha pessoa, que alguém relatou de memória. Achei engraçado, amenizando um pouco meu desejo de rasgar aquilo ao meio.

- Que bom que nunca tive paciência de posar para retratos. Foram obrigados a usar essa caricatura toda torta. Mas meu nome, os malditos acertaram, assim como a sentença. "Assassinato." Tenho cara de assassina, Ignus? - questionei furiosa.

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