Capítulo 8

472 53 74
                                    


ALFONSO

— Alfonso, é a sua vez — Dulce disse.

— Ah, certo. — Peguei a bola na canaleta e, equilibrando-a no colo, me aproximei da pista. Meu irmão me ligara pouco depois de eu ter deixado Ananhi em casa, perguntando se eu queria ir ao boliche.

Dulce estava uma pilha. Descobriram um rombo enorme numa das empresas do Conglomerado Lima, e ela estava a ponto de matar alguém. Meu irmão achou que jogar uma bola que pesava mais de três quilos contra pinos de madeira inocentes podia ajudá-la a se acalmar.

Eu amava jogar boliche. Era um dos meus passatempos preferidos, eu me saía bem, então é claro que fui me encontrar com eles. O problema é que eu não estava conseguindo me concentrar, e até mesmo Christopher tinha uma pontuação maior que a minha. Meu irmão era imbatível na piscina, mas era ruim demais em tentar derrubar os pinos.

— Anda logo, Alfonso— Christopher resmungou. — É só jogar a bola.

Olhei para ele por sobre o ombro. 

— É por isso que eu estou tão constrangido pelo fato de o seu nome estar em cima do meu naquela tela! — Apontei para a TV em que o nosso placar era exibido.

Ele revirou os olhos, rindo. Segurei a bola e mirei os pinos. Inclinando um pouquinho para a direita, soltei a bola, que saiu espiralando pelo assoalho de madeira polido, fez uma curva leve e acertou apenas um pino. Saco.

— Não tô acreditando nisso. — Dulce ria ao se inclinar para pegar uma bola roxa na máquina. — Eu sou a líder! Christopher, pode fotografar o placar? Eu tenho que mostrar isso pra Mila.

Xingando baixinho, saí da frente e fui para o canto, injuriado. Eu nunca derrubava menos que sete pinos. Nunca.

— Você parece distraído — Christopher disse, observando a noiva, que ensaiava os movimentos com a bola.

— Devo estar. Fim de semestre chegando, todo mundo com a cabeça zoada.

Isso e o fato de ter uma garota na cabeça, quase deixei escapar. 

Era culpa dos óculos, ponderei. Davam a Anahi um ar de ingenuidade e astúcia a que era difícil resistir. E tinha aquele maldito cérebro com core de última geração. Não existe nada mais sexy do que uma mulher inteligente e que sabe muito bem disso. E tinham aqueles malditos olhos. Quando aproximei meu rosto do dela no carro, pude notar as pequenas sardas salpicadas no nariz.

E que narizinho perfeito, meu Deus. Dava vontade de apertar o tempo todo.

Ela não me saía da cabeça. Claro, eu tinha me divertido com Sandrinha e com a gêmea no banheiro daquele bar, mas era diferente. Anahi não estava atrás de sexo casual. Ela não estava atrás de coisa nenhuma que não fosse manter a saúde da tia. Por isso eu estava me perguntando que porra eu estava fazendo. Eu havia prometido a mim mesmo que não me aproveitaria da situação caso ela aceitasse o acordo, que apenas conseguiria o que precisava para poder me mudar sem causar um derrame em minha mãe e nada mais. 

Só que estar perto de Anahi, conhecê-la melhor, era o mesmo que parar diante da vitrine de uma padaria quando não se come há uma semana. E ela não havia ajudado em nada com aquele papo de não deixar a segunda chance passar. De repente, vi todas as minhas barreiras ruindo. 

E eu não podia baixar a guarda. De maneira alguma. Não agora.

Percebi meu erro ao tentar criar memórias nossas. Uma péssima ideia, aliás. Eu não havia mentido quando dissera que queria sentir seu cheiro para criar lembranças falsas. 

Não totalmente. 

Já havia percebido sua resistência a estar perto de mim, e irritá-la era algo quase irresistível. Mas usar seu delicioso aroma como plataforma funcionou melhor do que eu havia previsto, e eu fui capaz de imaginar vívidas cenas de nós dois. A fantasia e a realidade começaram a se confundir na minha cabeça e isso tinha me assustado. 

A reação dela também me surpreendeu. Por um momento, ali no carro, tive a impressão de que ela teria me deixado beijá-la.

E eu quis beijá-la.

Diabos, fiquei tão desesperado para provar o sabor daquela boca que meus dedos ainda estavam doloridos, tamanha a força que tive de fazer para mantê-los longe daquela pele sedosa, cheirosa, daqueles cabelos macios...

— Alfonso — a voz do meu irmão penetrou meus pensamentos, me arrancando deles. Ele me olhava fixamente. — Eu queria que você soubesse que eu confio em você. Eu sei que você é capaz de se cuidar.

Aquilo me pegou de surpresa. Significava tanto para mim. Por isso apenas sacudi a cabeça, incapaz de formular uma frase naquele instante.

— Também sei que você é capaz de ser realmente estúpido quando quer. Não faça com que eu me arrependa de confiar em você.

— Não vou fazer nada estúpido, Christopher. Juro. Pode confiar.

Ele anuiu com a cabeça e voltou a olhar para Dulce, que jogou a bola. Ela rolou por um metro antes de terminar na canaleta. Como era possível que ela estivesse ganhando?

— É a sua vez. Acho melhor você parar de pensar nessa garota e virar o jogo, ou a Dulce vai te atormentar pelos próximos dez anos.

Olhei para ele, surpreso.

— Quem disse que eu estou com uma garota na cabeça?

Ele revirou os olhos, como se eu tivesse dito alguma coisa realmente ridícula.

— Duas coisas deixam um homem assim, perdido em pensamentos. Problemas e mulher. Como eu sei que você já se resolveu sobre a mudança, não é difícil imaginar o que pode estar te distraindo tanto a ponto de deixar a Dulce te vencer no boliche.

— Ok, acho que aquela bola estava com defeito. — Dulce se aproximou da máquina para pegar outra.

Observei ela ir até a pista, se inclinar e jogar a bola sem qualquer técnica ou mira. Também assisti a bola colidir contra os pinos em um strike perfeito.

— Você viu isso? — Ela saiu correndo e pulou sobre o Christopher. — Você viu o que eu fiz? Eu arrasei com aqueles pinos!

— Detonou. — Ele passou os braços ao redor da cintura dela.

— E vou fazer igual com aqueles filhos da puta que saquearam a empresa do meu avô, Christopher. Na verdade eu vou fazer pior. Bem pior!

— É claro que vai. Estou muito orgulhoso de você. — Beijou a ponta do nariz dela.

Fui pegar uma bola para dar um pouco de privacidade para aqueles dois, pensando que Christopher estava certo. Eu tinha que raciocinar. Se permitisse que Anahi se aproximasse demais, estaria perdido.

Não dava para baixar a guarda perto dela.

Nada mais de sentir seu perfume. Nada de fantasias envolvendo beijos molhados e outras coisas interessantes.

Tínhamos um trato, apenas isso.

Assim que eu me mudasse e meus pais percebessem que não havia perigo em viver por conta própria, o problema estaria resolvido e eu me afastaria dela. 

-----*

O pobi do Alfonso iludido que vai se afastar kkkkkk

Hoje um cap pequeno, mas muito importante pra entender o que anda se passando pela cabeça do Alfonso em relação a Anahi.

Amanhã tem cap. novo, porque eu tenho duas amigas que adoram armar complôs contra mim pra me comprarem com caps. E esse de amanhã tá muitooooooo divertido, prometo.

Até amnhã, traumadiuuuux :*

Mentira Perfeita - ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora