Epílogo 1

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ANAHI

— Queridos amigos, estamos hoje aqui reunidos para testemunhar a união deste homem e desta mulher...

Olhei para Alfonso por entre as flores do buquê.

Ele sorriu daquele jeito malandro e piscou, me fazendo ficar vermelha e baixar os olhos.

Deus do céu, ele estava tão bonito com aquele paletó cor de areia e a camisa azul-clara, que destacava ainda mais seus cabelos negros. Não usava gravata e havia deixado os dois primeiros botões abertos, revelando os fios escuros e macios onde eu adorava deitar a cabeça.

Tentei prestar atenção na cerimônia e varrer da mente as imagens impróprias da noite passada.

Eu estava numa igreja, pelo amor de Deus! Provavelmente era pecado pensar em Alfonso nu.

Magda me cutucou com o braço e eu voltei a atenção para o padre e o casal a sua frente.

— Repita depois de mim. Eu, Begônia Portilla, aceito você, Victor, como meu legítimo marido...

Sorri conforme minha mãe repetia tudo numa voz clara e ligeiramente divertida.

Ela era a noiva mais linda e radiante que eu já tinha visto. E fizera questão de confeccionar o próprio vestido, claro. Uma peça elegante, em um tom de rosa antigo muito delicado. O tubo reto e longo tinha um pouco de renda no busto, a mesma aplicação que havia na gola do casaqueto bem cortado, que a deixou elegante e feminina. Os cabelos estavam presos para cima, sustentando a tiara de vovó Marta com uma quantidade alarmante de laquê, mas Magda me dissera que era assim mesmo e que eu não deveria me preocupar com a possibilidade de ela ter um ataque de asma.

Sua recuperação era espantosa, e até o dr. Victor estava surpreso. Exceto pelos remédios que a acompanhariam para sempre, sua vida hoje era praticamente a mesma de antes da doença.

Isto é, quase.

Agora ela estava realizando seu maior sonho.

Mamãe acabou não cancelando o contrato com a Allure. No fim das contas, já que estava tudo pago, achou que seria boa ideia se outra pessoa o usasse. No caso, ela mesma.

Ela pedira Victor em casamento durante um jogo de buraco no mês passado, e a resposta dele fora: "É só marcar a data, Bê. Bati!"

E ali estavam eles, aos sessenta e dois e sessenta e cinco anos, começando uma vida juntos. Partiriam dali a dois dias em um cruzeiro que percorreria a costa grega.

Victor era o noivo perfeito dos contos de fadas, com seu fraque cinza e um cravo branco na lapela. Enquanto minha mãe não conseguia parar de sorrir, o coitado não conseguia parar de chorar. Alfonso também estava se divertindo com a cena, e me lançou um olhar do tipo "Dá pra acreditar nesse cara?".

Àquela altura eu já conhecia todas as suas expressões. Ele havia ido para Nova York uma semana depois que eu chegara lá, como prometera. Nosso primeiro programa juntos para conhecer a cidade foi assistir ao espetáculo ''O lago dos Cisnes'', promovido por uma companhia de NY. Pouco convencional para nós, eu sei, mas simplesmente nos chamou atenção todos aqueles outdoors e telões promovendo o espetáculo. Acho que foi quando a ficha caiu de que realmente estávamos em NY.

Alfonso ficou comigo até eu aprender a me locomover pela cidade. Não que eu precisasse, mas foi bom tê-lo ali, preocupado comigo, cuidando de mim. Chefiar a área de TI se provou um imenso desafio, e foi maravilhoso ter o colo dele me esperando quando eu chegava em casa.

Depois de quinze mágicos dias, Alfonso voltou para o Brasil para terminar a faculdade. Ele finalmente mostrou seu game ao professor de roteirização — que ficou louco por Pin, o jogo —, e em poucas semanas conseguiu um investidor para dar andamento ao projeto. A AH Games saíra do papel. Algumas revistas da área apontavam seu game como a próxima febre. Ele até conseguira a página que tanto queria na Wikipédia, embora a palavra "magnata" não constasse nas informações. Ainda, ele vivia ressaltando. Os Herrera estavam orgulhosos do caçula. Sobretudo Christopher.

Mentira Perfeita - ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora