ANAHÍ
Uma hora e três ônibus depois, finalmente cheguei ao meu bairro. A mochila pulava em minhas costas conforme eu corria pela pracinha malcuidada.
— Ei, Anahi! Aonde vai com tanta pressa, menina? — dona Inês gritou.
Forcei meus pés a se acalmarem e, um pouco impaciente, esperei por ela. A mulher de cabelos e olhos castanhos era vizinha de tia Begônia e trabalhava na L&L desde a fundação. Tinha sido secretária do seu Narciso, e agora auxiliava o seu Hector e a Dulce. Foi ela quem me alertou sobre uma vaga na área de TI quando chegou a minha época de estagiar. Inês e tia Bê jogavam cartas às quintas-feiras desde 1980.
— Estou indo pra casa. Acabei de sair da L&L. — E não devia ter feito isso, eu quis acrescentar. Teria que entrar ainda mais cedo no dia seguinte, para compensar o tempo perdido. Mas valeria a pena acordar às quatro da manhã, só pelo prazer de esganar Alfonso.
— Ô, minha querida, sei que essa coisa do site está deixando todo mundo meio nervoso, mas você não pode trabalhar até tão tarde assim. Uma mente esgotada não funciona direito. Seu Narciso sempre dizia isso. Mas espero que tudo corra bem. — Ela sorriu, o que acentuou as rugas ao redor dos olhos. — Boa noite, querida. — Parou em frente ao seu portão e eu corri a curta distância até a minha casa.
A voz de tia Bê chegou aos meus ouvidos assim que passei ventando pela porta, jogando a mochila num canto com pouco cuidado.
— ... eu sempre quis conhecer a Grécia. Foi minha primeira e única viagem internacional. Tive momentos maravilhosos por lá, embora eu não tenha encontrado um Cary Grant.
— Mas quem iria querer encontrar um cara feito esse aí? Ele tem uma bunda na cara — Alfonso respondeu, fazendo-a gargalhar.
Ele estava ao lado do sofá, com tia Bê bem perto dele, tocando seu antebraço. Os dois se viraram quando entrei na sala. Os olhos dela se iluminaram. O rosto de Alfonso não revelava nada.
— Anyzinha! Pensei que fosse demorar mais, meu amor. — Ela apontou o controle remoto para a TV e pausou o filme.
— Decidi parar por hoje.
— Que maravilha! Mal começamos o filme. Senta aqui e assiste com a gente. Está com fome?
— Não, obrigada. Então vocês já se conheceram. — Olhei para Alfonso, tentando controlar minha expressão e não dar bandeira. Por dentro eu estava em ebulição. Definitivamente, apertar o pescoço dele até seus olhos saltarem das órbitas me ajudaria a encontrar o equilíbrio e paz interior.
— O universo conspirou para que acontecesse. — Ele me olhou de cima a baixo. Dos tênis pretos ao cardigã cinza. — Você está linda, Any.
— Vem dar um oi direito para o seu noivo, menina — demandou tia Bê.
Eu apenas olhei para ela.
Ela não podia estar pensando que eu... não podia estar sugerindo que nós... não podia realmente imaginar que eu fosse... Alfonso riu, um pouco constrangido, quando não me movi. Girou a cabeça para minha tia.
— Sempre tão tímida. É uma das coisas que eu mais adoro nela.
— Desde pequena ela é assim. — Ela deu dois tapinhas no antebraço dele. — Mas, Anyzinha, não precisa ter vergonha de mim, meu amor. Sou a tia mais liberal do mundo. Vocês dois têm minha bênção.
— Ouviu isso? — Alfonso cruzou a sala até parar bem na minha frente. — A tia Begônia nos deu sua bênção, minha princesa— enfatizou, então alcançou minha mão e me puxou até ficarmos cara a cara.
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Mentira Perfeita - ADP
FanfictionAnahi está em sérios problemas depois de mentir para salvar sua tia doente. Alfonso pode ser a solução perfeita para seus problemas, até o momento em que os sentimentos deles vêm a tona e eles estragam tudo.