ANAHI
Eu olhava para o meu prato e remexia a comida, sentindo o olhar de tia Bê fixo em mim e Alfonso. Ele estava a meu lado e, ao contrário de mim, comia sem nenhum problema.
Claro, ele não tinha acabado de descobrir que se sentia atraído por alguém que não devia.
Tá, ele era muito bonito. Tá, era gostoso também.
Até demais, daquele jeito que me deixava desconfortável. Mas até aí o Christopher também era e eu não estava tendo fantasias com ele. O mesmo valia para o Chris, fosse ele gay ou não.
Eu tinha que me afastar de Alfonso e pôr um fim naquilo, mas como, se eu não conseguira manter a boca fechada e inventara um namorado para minha tia doente? Como eu podia ficar longe dele até aquilo passar, se tia Bê já o tinha conhecido?
Só podia ser castigo divino. Não dá para enganar alguém em seu leito de quase morte e sair impune.
— Então, quando vamos conhecer seus pais, Alfonso? — tia Bê quis saber, se servindo de um pouco mais de sopa. Ele olhou para mim por um breve momento, antes de limpar a boca no guardanapo e sorrir para ela.
— Eu espero que em breve. Mas a senhora me enganou direitinho com aquela conversa de não saber cozinhar. O que tem nessa carne? Não consigo parar de comer.
Ela corou de leve.
— Apenas um pouquinho de alecrim. Mas eu fiz muito pouco. A Anyzinha preparou tudo na madrugada antes de ir para o trabalho e a Magda fez o resto.
De imediato, seu olhar se fixou em meu rosto.
— Você nunca me disse que sabia cozinhar.
— Achei que não fosse importante.
— Tá curtindo com a minha cara? — Ele espetou mais um pedaço de carne e levou à boca. — Alguém que sabe preparar uma carne dessas tem meu coração na mão.
Peguei meu copo e tomei um gole de suco apenas para poder desviar o olhar. Já estava tendo problemas com aquela proximidade toda, agora que sabia que me sentia atraída por ele. Alfonso me fazendo elogios — a meus talentos culinários, que fosse — era ainda mais constrangedor. Ele engoliu a comida e tomou um bom gole de sua bebida.
— Bem — clareou a garganta, me obrigando a olhar para ele. — Acho que este é o momento. — Levou a mão ao bolso da camisa.
— Para quê? — Estiquei o braço para pegar a travessa de carne e servi-lo de mais um pouco. Se ele tivesse comida no prato, manteria a boca cheia e não poderia me fazer elogios com os quais eu não sabia lidar. Porém, ao trazer a tigela para mais perto, acabei esbarrando no braço que Alfonso estendia para mim.
Algo que ele tinha na mão voou por uns três segundos antes de mergulhar na travessa. Molho madeira espirrou em meu rosto, no de Alfonso, em sua camisa. Merda.
— Desculpa. — Soltei a tigela e me apressei em pegar um guardanapo para ajudá-lo. — Não percebi que você tinha chegado mais perto. — Consegui limpar os respingos em seu rosto com rapidez, contudo hesitei um pouco quanto à camisa.
Eu queria tocá-lo, mas também não queria. Eu estava confusa.
— Tudo bem, Anahi. Eu me viro. — Ele pegou o guardanapo da minha mão e terminou o serviço. Soltei um suspiro, em parte alívio, em parte frustração.
— O que fez essa lambança toda? — perguntou tia Be.
Certo! Ele tinha algo na mão!
— Espero que não seja seu celular — falei, pegando a colher para pescar o objeto dentro da tigela.
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Mentira Perfeita - ADP
FanfictionAnahi está em sérios problemas depois de mentir para salvar sua tia doente. Alfonso pode ser a solução perfeita para seus problemas, até o momento em que os sentimentos deles vêm a tona e eles estragam tudo.