Capítulo 28

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ANAHI

Acordei enroscada em Alfonso, ainda no tapete da sala.

Uma nesga de luz amarelada e quente tocava minhas costas nuas.

Eu me aconcheguei mais a ele e deslizei os dedos nos pelos macios de seu peito, inalando seu aroma. Uma mistura inebriante de suor e óleo adocicado recobria sua pele escorregadia. Assim como a minha.

Senti minhas faces se afoguearem.

De uma coisa eu estava certa: jamais conseguiria olhar para qualquer vela que fosse sem ficar vermelha.

Apoiei o queixo em seu tórax e o admirei em seu sono. Das sobrancelhas grossas à barba curta que recobria o queixo quadrado, o nariz reto, a boca larga e rosada.

O que aquela noite teria significado para ele?

Provavelmente nada.

Assim como não deveria significar para mim.

Éramos dois adultos, solteiros, que tinham compartilhado uma noite de prazer. Acontecia o tempo todo.

Deus, nunca tinha sido daquela forma com ninguém. Aquela sensação da pele arrepiada com um simples toque, do meu corpo todo em chamas, o coração palpitando forte dentro do peito.

Por mais que eu tentasse me sentir moderna e adulta, um eco barulhento berrava em minha cabeça que aquela noite poderia ser o começo de algo especial. Confusa e temendo a maneira como ele poderia olhar para mim quando acordasse, me desvencilhei dele com cuidado. Eu não era boa com aquele tipo de conversa. Não era nada boa em explicar o que sentia. 

Alfonso inspirou fundo, mas apenas moveu a cabeça para o lado.

Na pontinha dos pés, recolhi minhas roupas e fui para o andar de cima. Tomei um banho rápido — ou razoavelmente rápido; havia muito óleo para remover — e vesti uma das roupas que tinham ficado em meu armário. Quando desci, Alfonso estava acordado, já vestido, o cabelo meio úmido.

— Bom dia — ele saudou com um sorriso de canto de boca, que tanto podia significar alguma coisa quanto nada. — Onde a gente pode comer alguma coisa por aqui, já que a despensa está zerada?

— Tem uma padaria a duas quadras.

— Beleza.

Eu estava abrindo a porta quando um puxão me fez perder o equilíbrio. Caí sentada no colo de Alfonso.

Seus braços ágeis se enredaram em minha cintura e minhas coxas, e sua boca estava sobre a minha antes que eu pudesse entender o que havia acontecido. Não que eu fosse reclamar, é óbvio.

— Esqueci de te perguntar ontem — ele disse ao interromper o beijo, afastando uma mecha de cabelo que tinha caído sobre meu olho e se enroscara na armação dos óculos. — Como anda a sua alergia?

— Pior do que nunca — confessei.

— Que bom! — Ele abriu um meio-sorriso. — Porque eu acho que também desenvolvi uma. Qualquer lugar que você toca fica em chamas.

— Em c-chamas?

Ele assentiu, resvalando a boca em meu pescoço. 

— Agora, por exemplo, é como se eu estivesse dentro de uma fogueira. Mas não consigo me controlar. — Seus lábios subiram um pouco mais, acompanhando o desenho do meu queixo. — É muito difícil estar perto de você e não te beijar.

— Difícil? — Ah, meu Deus!

— Muito difícil — frisou.

Então ele me beijou de novo, até eu ficar dormente e fora do ar. Quando ele libertou minha boca, precisei de um minuto para conseguir me levantar, pois minhas pernas haviam se transformado em gelatina.

Mentira Perfeita - ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora