ANAHI
Não me deixaram entrar na UTI. Nem mesmo ficar no corredor! Me enxotaram dali como se eu fosse um cão sarnento.
Talvez o fato de eu ter tentado entrar à força tenha algo a ver com isso.
Chris ficou ao meu lado o tempo todo e tentava me consolar, afirmando que tudo daria certo e que ela sairia dessa, como aconteceu das outras vezes. Eu queria muito acreditar nele. Queria desesperadamente, mas já não podia. Eu me sentia sufocada, esgotada. Estava vivendo apenas para o trabalho e minha tia. Não que eu estivesse reclamando, mas lidar com tanto sofrimento cansava e eu não tinha uma válvula de escape.
— Eu não devia ter inventado aquela história, Chris — murmurei, tentando conter os soluços, me sentindo péssima — Agora ela pode ir embora e a última coisa que eu falei para ela foi uma mentira!
— Não, pequena. A última coisa que você falou para ela foi "Eu te amo".
Dona Magda invadiu a sala de espera lotada. A mãe de Chris tinha os olhos inchados e o cabelo escuro enrolado em bobes do tamanho do meu pulso.
— Eu só soube agora, Anahi. Estava no cabeleireiro — ela foi dizendo. — Como a minha amiga está?
— Por que você não senta um pouco, mãe?
Chris se levantou e deu o lugar a ela. Eu tive que me levantar também.
Ver Magda sem minha tia por perto parecia errado. As duas eram como fone de ouvido e iPod desde que ela e o pequeno Chris se mudaram para o sobrado amarelo em frente ao nosso.
Meu amigo atualizou a mãe, e não tardou para que ela se desmanchasse em lágrimas, tirando um terço preto de dentro da bolsa.
Aquilo foi demais para mim.
Comecei a andar de um lado para o outro, um olho no relógio, o outro na porta que dava para o corredor da UTI. Levou muitas horas para que o cardiologista de minha tia passasse por ela. Quando por fim ele apareceu, trazia no rosto uma expressão indecifrável.
— Acho melhor falarmos na minha sala — ele anunciou com a voz grave.
Não, não, não!
Eu gelei, e ainda assim, assenti uma vez, reprimindo o desejo de sair correndo aos berros.
— Quer que eu vá com você? — Chris perguntou.
— Não precisa. Cuida da sua mãe.
Dona Magda havia tomado um calmante e estava meio dopada. Ele pegou minha mão e a apertou de leve. Agradecida e reunindo coragem só Deus sabe de onde, fui atrás do médico. O dr. Victor fechou a porta assim que passei por ela e foi se sentar atrás de sua mesa, as mãos unidas, os olhos nos meus. Mas eles não transmitiam nada. Inspirou fundo antes de começar e eu me vi prendendo a respiração.
— Anahi, sua tia teve três paradas cardíacas... — Fechei os olhos, meu próprio coração ameaçando parar de bater. Ele continuou falando. — ... e nós conseguimos trazê-la de volta, com algum custo.
Abri os olhos de imediato.
— Na última, pensei que ela não fosse resistir — prosseguiu e eu já nem respirava.
— Mas alguma coisa aconteceu e ela sobreviveu. Não só isso, Anahi. O quadro todo teve uma melhora espantosa.
Eu apenas ouvia e piscava enquanto ele se recostava na cadeira e olhava para mim. Ainda estava sem acreditar, como aquilo era possível?
— Ela está bem. — Sorriu. — Aliás, está bem como há muito tempo não ficava. A doença ainda existe, ainda é grave. A sua tia ainda precisa do transplante. Preciso fazer mais alguns exames, mas, ao que tudo indica, ganhamos um pouco mais de tempo. Estou me perguntando o que fez o quadro mudar tão depressa e não chego a nenhuma conclusão. Acho que foi um...
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Mentira Perfeita - ADP
FanficAnahi está em sérios problemas depois de mentir para salvar sua tia doente. Alfonso pode ser a solução perfeita para seus problemas, até o momento em que os sentimentos deles vêm a tona e eles estragam tudo.