Capítulo 20

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ANAHI

Entrei em casa procurando não fazer barulho, porém tia Begônia, Magda e Chris estavam tomando café na cozinha.

— Meu amor, você chegou! — tia Bê me recebeu. Ainda que eu não tivesse chorado no caminho para casa, ela percebeu que eu não estava bem. Então se levantou e correu para me abraçar. — O que aconteceu?

— Nada, tia. Tá tudo bem.

— Ora, não tente mentir para mim, Any. O que houve? Foi o Alfonso?

Bom, eu ainda não tinha decidido como contaria a verdade a ela, mas sabia que era preciso. E talvez eu não tivesse que dizer toda a verdade. Podia seguir com o plano original.

— Hã... É. A gente brigou.

— Ah, meu amor... — Ela me sufocou em um abraço. — É só uma briguinha boba. Todos os casais têm. Vai ficar tudo bem.

— Eu sei. — Mas não da maneira que ela sugeria. 

Eu esperava que Alfonso estivesse certo em um ponto. Que às vezes você precisa se deixar cair no fundo do poço para, durante a escalada rumo ao topo, vislumbrar a força que tem nos braços. Eu estava lá embaixo agora, e não fazia ideia de como começar a subir. Era assim que as pessoas se sentiam quando se apaixonavam por alguém que não correspondia aos seus sentimentos? Porque eu daria tudo para fazer aquela agonia ir embora.

Eu não devia ter deixado que isso acontecesse.

Não devia ter permitido que ele chegasse tão perto.

Então, só me restara uma alternativa: abandoná-lo antes que ele me abandonasse. Era melhor assim.

Se pensar em nunca mais vê-lo já doía daquele jeito, como seria se eu continuasse com a farsa, convivendo com ele e descobrindo mais motivos para amá-lo, confundindo a farsa com o real? Minha única alternativa era seguir em frente e deixá-lo para trás.

E eu faria isso. Era muito boa em arquivar sentimentos.

Apertei tia Bê de encontro ao peito, porque, ainda que ela não soubesse que não haveria futuro para Alfonso e eu, meu coração estava partido e eu precisava dela mais do que nunca. — Vocês estão apaixonados — ela murmurou. — Tudo vai se acertar. Essa rusga vai passar. Não quer me contar o que aconteceu? Talvez eu possa ajudar.

— Nós não estamos na mesma página. — Foi toda a verdade que consegui manejar.

— É natural. E essa não vai ser a última vez que vocês vão entrar em conflito. Essa é a graça da vida a dois. Imagine que chatice deve ser conviver com alguém que concorda com você em tudo. Credo!

Eu a soltei e a analisei com atenção.

— A senhora está bem? Teve algum mal-estar? — Tipo, agora mesmo?

— Estou bem, Anyzinha. Estou até meio desconfiada. Fazia muito tempo que eu não tinha dias tão bons assim. Tem certeza de que não quer conversar sobre o que está acontecendo?

— Tenho, tia. E não se preocupa, tá bem? Deve ser como a senhora disse, uma briga à toa. — Se ela acreditasse nisso e eu pudesse ir levando, então havia uma chance de que eu não fosse matá-la no fim das contas. — Vou me trocar e ir para o trabalho.

— Não prefere ficar em casa hoje? — questionou, preocupada. — Podemos fazer alguma coisa divertida. Já sei! Podemos jogar cinco-marias. Ainda tenho os saquinhos. Você sempre adorou!

— Seria um sonho, mas não posso. Já andei faltando muito.

Ela beijou minha testa.

— Mais tarde, então?

Mentira Perfeita - ADPOnde histórias criam vida. Descubra agora