ALFONSO
Acabamos nos ajeitando ali mesmo, aconchegados um no outro sobre o tapete da sala.
Meu corpo ainda nadava em êxtase. Minha cabeça estava leve como um balão, meus membros completamente relaxados, de tal modo que me mexer parecia impossível, embora eu não conseguisse parar de acariciar Anahi.
Nunca tinha sido daquele jeito.
Depois do acidente eu tive que me adaptar, reaprender certas coisas, e o orgasmo foi uma delas. Aprendi o que as mulheres já sabiam fazia muito tempo: tudo estava na cabeça. Depois a sensibilidade retornou e as coisas melhoraram ainda mais.
Mas nunca tinha sido assim. Nunca tão intenso e violento.
E eu sabia o motivo. Cacete, é claro que eu sabia.
— O que foi? — perguntou Anahi. — Por que você ficou tenso?
— Não estou tenso. É impressão sua.
— Tem certeza?
— Absoluta. — Beijei sua testa.
Uma parte do cabelo lhe cobriu o rosto. Eu o afastei com os dedos. A mão de Anahi se enroscou em meu pulso, a ponta do indicador percorrendo de leve a cicatriz irregular.
— Alfonso, essa aqui... não foi no acidente. — Não era uma pergunta.
— Não no da moto, Pin. E esse era o meu primeiro lugar na lista, antes de eu cair esta noite.
— Como assim? — Ela apertou os olhos, adoráveis ruguinhas se formando em seu nariz cheio de sardas conforme tentava ajustar a vista sem os óculos.
— Bom, eu sei que as pessoas costumam mentir quando tentam suicídio e não são bem sucedidas, mas no meu caso foi mesmo um acidente... — Contei a história, do momento em que deixara a porcaria da caixa cair até as sessões de terapia que eu tanto odiava, e a coisa mais maravilhosa aconteceu, Anahi começou a rir.
— Deus do céu, Alfonso!
— No fim eu já estava quase tentando suicídio de verdade, só para não ter que ir para a terapia.
Ela gargalhou tanto que seu corpo todo sacudia. Tive que firmar os braços ao redor dela, para que não saísse de onde estava.
— Agora me conta sobre a marca que você escolheu levar na pele. — Deslizei o polegar sobre o desenho na lateral de suas costelas, pouco abaixo do seio esquerdo.
— Eu nunca comemorei um Dia das Mães com a mulher que me pariu. Mesmo depois, quando eu já morava com a tia Begônia. Foi só quando ela ganhou a minha guarda que eu... que eu criei coragem de dar um presente para ela no Dia das Mães. Juntei todas as moedas que pude encontrar por quase um ano, e o que eu consegui comprar foi um vasinho de begônia vermelha. — A lembrança lhe trouxe um sorriso aos lábios. — A tia Bê não tinha nenhuma dessas no jardim e ficou louca quando viu. Disse que aquela era a flor mais especial de todas, e em pouco tempo nosso jardim foi invadido por begônias de todas as cores, como você deve ter reparado.
— Eu reparei. — Continuei acariciando a bela tatuagem.
— Begônias sempre me fazem lembrar da tia Bê. E não apenas pelo nome. Eu queria tê-la comigo para sempre, então fiz a tatuagem.
Passei um braço por sua cintura e a trouxe mais para cima, para que pudesse beijar aquela boca rosada e macia.
Ao contrário do que eu havia imaginado, Anahi não se afastou assim que a lucidez tomou conta dela. Não tentou se cobrir. Não fugiu. Tudo o que fez foi ficar ali, enrolada em meu peito como se fosse seu lugar favorito no mundo.
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Mentira Perfeita - ADP
FanfictionAnahi está em sérios problemas depois de mentir para salvar sua tia doente. Alfonso pode ser a solução perfeita para seus problemas, até o momento em que os sentimentos deles vêm a tona e eles estragam tudo.